Primeira-ministra britânica Liz Truss ficou "coxa" e sem autoridade

por Lusa

A primeira-ministra britânica, Liz Truss, ficou politicamente `coxa` e sem autoridade após a demissão do ministro das Finanças e recuo nos cortes fiscais prometidos, segundo analistas políticos ouvidos pela Lusa. 

O Governo de Truss anunciou segunda-feira que iria cancelar "quase todos" os cortes fiscais anunciados há apenas 25 dias, no "plano de crescimento" de 23 de setembro. 

As medidas foram anunciadas por Jeremy Hunt, o ministro das Finanças nomeado na sexta-feira para substituir o antecessor Kwasi Kwarteng, que foi despedido por Truss para tentar acalmar os mercados financeiros e ameaças de revolta no Partido Conservador.

Para trás ficam as promessas de congelar o imposto sobre as empresas [equivalente ao IRC] nos 19%, que vai aumentar para 25% em 2023, reduzir o imposto sobre os rendimentos [equivalente ao IRS] e outras reformas fiscais.  

"É obviamente extraordinário, sem precedentes e deixa a primeira ministra `coxa` [`lame duck`] no poder", declarou o diretor do centro de estudos UK in a Changing Europe, Anand Menon, à Agência Lusa. 

Na opinião deste politólogo, Truss está numa "posição incrivelmente fraca" cerca de 40 dias após tomar posse.   

Robert Ford, professor de Ciência Política na Universidade de Manchester, refere que, "no espaço de três semanas [Truss] perdeu o ministro das Finanças, a autoridade política, afundou o mercado de obrigações e teve de substituir o ministro por um grande opositor político que está a ditar os termos da política que é o oposto que ela defendeu na campanha para liderar o partido". 

"A única razão para ela ainda estar em funções é porque o Partido Conservador, cuja profunda polarização ficou evidente na eleição interna que ela eventualmente ganhou, está dividido novamente sobre como substituí-la", explica à Lusa. 

Uma eleição interna "levaria muito tempo e aumentaria a incerteza", admite, a propósito do processo que se prolongou por oito semanas este verão para encontrar a sucessora de Boris Johnson. 

"Ela está lá por defeito - não porque tem autoridade, um programa ou porque a querem lá. Mas não existe mecanismo para a remover até encontrarem uma alternativa", vincou Ford. 

De acordo com as regras atuais, Truss fica imune a uma moção de censura interna nos primeiros 12 meses, até setembro de 2023, pelo que o académico de Manchester acredita que terá de ser encontrado um novo mecanismo e consenso no partido para a substituir.

Segundo o site Odds Checker, as casas de apostas sugerem que o finalista vencido e antigo ministro das Finanças Rishi Sunak é o favorito para suceder a Liz Truss, seguido por Jeremy Hunt e o ministro da Defesa Ben Wallace. 

Perante a falta de um candidato que una as diferentes fações no partido, a antiga ministra da Cultura Nadine Dorries sugeriu que só Boris Johnson tem "um mandato" para assumir o posto, lembrando que ele ganhou as legislativas de 2019 com maioria absoluta.

"As escolhas são simples - apoiar Liz, senão trazer de volta Boris ou enfrentar umas eleições nacionais dentro de semanas", resumiu.

Tendo em conta que as sondagens mostram uma grande impopularidade de Truss e indicam uma vitória esmagadora do Partido Trabalhista, Anand Menon não tem dúvida de que o Partido Conservador "está disposto a fazer o que for preciso para limitar os estragos nas próximas eleições".

"O Partido Conservador é muito bom a reinventar-se", garante, "é um partido especialista na metamorfose".

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