Prigozhin resiste a absorção de mercenários do grupo Wagner pelo Kremlin

por Inês Moreira Santos - RTP
Mikhail Metzel - EPA via Kremlin

Os desentendimentos entre o Kremlin e o grupo Wagner parecem continuar. Depois de apelar a que "voluntários" assinem contrato com o Governo para combater na linha da frente na Ucrânia, Vladimir Putin afirmou mesmo apoiar que os combatentes estejam sob controlo direto do Ministério russo da Defesa. Yevgeny Prigozhin, por sua vez, garante que os seus mercenários não vão assinar qualquer vínculo a estruturas do Estado.

O líder do grupo Wagner está a perder terreno, depois de ter assumido um importante papel na ofensiva russa ao conquistar Bakhmut e ter sido, ao mesmo tempo, um crítico dos comandos das Forças Armadas da Rússia e do presidente russo. Na terça-feira, perante uma grupo de bloggers militares e personalidades pró-russas, Putin admitiu que apoiava a iniciativa do ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que visa obrigar os grupos de mercenários a assinar contrato com o Ministério.

“Tem que ser feito o mais rápido possível”, referiu o chefe de Estado, citado pelo Guardian, sobre os contratos dos militares, explicando que estava “de acordo com o bom senso e com a lei”.

Putin deixou claro, com estas declarações, que pretende que todas os grupos paramilitares se inscrevam e que a lei seja alterada para que estes sejam legalizados.

“Esta é a única maneira de conseguir garantias sociais [para os combatentes mercenários], porque não há ainda nenhum contrato com o Estado e com o Ministério da Defesa”.

Esta medida do Kremlin pretende integrar e controlar o grupo Wagner e organizações paramilitares semelhantes, tornando Prigozhin um subordinado do Governo russo, caso assine o contrato – o que dificulta as ambições do líder do Wagner a manter influência política e militar, como foi fazendo quando estava na linha da frente pela conquista da cidade ucraniana de Bakhmut, criticando o Kremlin pela falta de armamento e munições.

Além disso, o apoio de Putin ao ministro da Defesa fragiliza mais a posição de Prigozhin, uma vez que visa que passe a necessário que os grupos paramilitares tenham um “estatuto legal” para operarem.

“Tanto quanto sei, o Ministério da Defesa está agora a fechar contratos com todos quantos queiram continuar a servir na zona de operações militares especiais”, afirmou Putin na passada terça-feira.O grupo Wagner não é legal na Rússia, mas o Kremlin permite que opere fora de território russo.


O presidente da comissão de Defesa da Duma, Andrei Kartapolov, disse no mesmo dia que estão a ser preparadas propostas para determinar o estatuto legal da empresa militar privada.

Não estamos a falar de legalização, estamos a falar de determinar a sua forma jurídica de acordo com a nossa legislação”, explicou, no mesmo evento.Líder do grupo Wagner contraria Putin
O líder do grupo de mercenários Wagner reiterou, já na quarta-feira, que recusa a assinatura de quaisquer contratos com o Ministério da Defesa, após Vladimir Putin insistir nessa necessidade para dar cobertura legal aos benefícios sociais dos combatentes na Ucrânia.

“Quando a pátria estava com problemas, quando era necessária a ajuda do Wagner e fomos todos defendê-la, o presidente prometeu-nos todas as garantias sociais”, escreveu Yevgueni Prigozhin, no Telegram.

“Tenho 20 mil mortos. Eles deviam também assinar um contrato com o Ministério da Defesa?”, questionou sarcasticamente Prigozhin.

Quando os mercenários colaboraram na ofensiva russa na Ucrânia, “ninguém disse” que seriam “obrigados a assinar acordos com o Ministério da Defesa”.

O dirigente do grupo russo de mercenários, que já no passado fim de semana tinha dito que não assinaria qualquer acordo que o subordinasse à Defesa, reiterou que “nenhum dos combatentes do Wagner está disposto a voltar a percorrer o caminho da vergonha".

"E, portanto, ninguém assinará contratos”.

Quanto aos benefícios sociais, disse que a câmara baixa do Parlamento russo (Duma) e Putin “encontrarão uma solução de compromisso”.

O Kremlin não fez, até agora, qualquer comentário à recusa de Prigozhin. Os combatentes do grupo Wagner mostraram que estão entre os mais eficazes da Rússia na Ucrânia, apesar de terem sofrido enormes perdas.

O Ministério da Defesa pretende ter os contratos assinados até dia 1 de julho, como um passo para uma maior integração destinada a aumentar o potencial de combate e a eficácia desses grupos dentro do Exército russo.
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