Passam hoje 20 anos do acidente do Prestige, uma catástrofe ambiental sem precedentes que teve repercussões à escala europeia e global. A embarcação está a 3.500 metros de profundidade.
Seis dias depois de encalhar, a embarcação, que sofreu um rombo de 35 metros no casco, partiu-se em dois e acabou por se afundar a 28 milhas (270 quilómetros) do Cabo de Finisterra, na Corunha, e provocar uma maré negra na costa galega.
Mais de 63 mil toneladas de petróleo foram derramadas e cerca de três mil quilómetros das costas espanhola, portuguesa e francesa ficaram poluídas.
Na Galiza, o setor da pesca e marisco sofreu perdas de mais de 22 milhões de euros e os danos ambientais foram incalculáveis, com 115 mil aves marinhas mortas e 25 reservas protegidas afetadas.
Nos três meses que se seguiram ao acidente, foram recolhidas em Portugal 439 aves marinhas cobertas de fuelóleo.
Foto: Reuters
Os setores da pesca e piscicultura também sofreram prejuízos devido à maré negra. Em Espanha e em Portugal, os consumidores ficaram receosos de consumir peixe poluído.
A tragédia causou uma onda de solidariedade sem precedentes em todo o mundo. Mais de 300 mil voluntários de toda a Europa participaram nas operações de limpeza das praias, zonas rochosas atingidas e resgate dos animais afetados pela maré negra.
A tragédia causou uma onda de solidariedade sem precedentes em todo o mundo. Mais de 300 mil voluntários de toda a Europa participaram nas operações de limpeza das praias, zonas rochosas atingidas e resgate dos animais afetados pela maré negra.
Foto:Reuters
Nos dias e meses seguintes ao naufrágio, as televisões passavam imagens de voluntários a tentar salvar as aves marinhas, os golfinhos e as tartarugas que tinham sido afetadas pela maré negra.
Foto: Reuters
Logo que os primeiros resíduos transportados pelo petroleiro alcançaram a costa espanhola, a Força Aérea Portuguesa deu início à realização de dois voos diários para verificar os danos ecológicos da maré negra em Portugal.A maré negra afetou uma ampla área, estendendo-se entre o norte de Portugal e oeste-noroeste de França, com principal incidência na Galiza.
Cerca de duas semanas após o acidente, foram detetadas duas manchas de fuelóleo a 36 quilómetros da Zona Económica e Exclusiva (ZEE) de Portugal. Também uma parte do litoral francês foi afetada pela contaminação.
A gestão política da catástrofe ambiental por parte do Governo espanhol, liderado por José Maria Aznar, provocou uma onda de protesto em todo o país, com mais de 200 mil pessoas a manifestarem-se com o lema “Nunca mais”.
O naufrágio do Prestige acabou por provocar uma crise política no governo regional da Galiza, com o ministro da Política Territorial a apresentar a demissão a 16 de janeiro de 2003, seguindo-se a substituição de outros quatros governantes, incluindo o do Ambiente, a 18 do mesmo mês.
Em março de 2003, a série Maré Azul III, da RTP, apresentou a reportagem “Maré Negra” da jornalista Maria Cerqueira com entrevistas a vários voluntários que participaram nas operações de limpeza.
Todos eles culpavam a inércia do Governo espanhol e da Galiza pela falta de resposta e de limpeza da costa.
Para os pescadores e mariscadores da Galiza a preocupação mantinha-se e alguns ponderavam a hipótese de emigrar.
Segundo um relatório da organização ambientalista internacional World Wild Found (WWF), um ano depois do acidente, foram calculadas pelo menos 64 mil toneladas de fuelóleo no mar e, dessas, entre cinco a dez mil continuavam à deriva.
Cinco anos depois, uma investigação concluiu que dos destroços do Prestige ainda saiam mais de 100 litros por dia de fuelóleo.
No entanto, em 2013, o petróleo do Prestige continuava a dar à costa galega. A conclusão de que se trata de petróleo do Prestige era de uma investigação da Universidade de Vigo.
Esta informação que veio confirmar os receios da cientista que coordenou o estudo de que tantos anos depois da catástrofe ecológica, o meio ambiente tarda em recuperar.
Foto: Reuters
Segundo os cientistas os efeitos da contaminação do Prestige estenderam-se à costa de Portugal e França, embora em menor escala.
Todos os arguidos absolvidos O julgamento do maior desastre ecológico em Espanha começou em outubro de 2011. O julgamento termina a 10 de julho de 2012, nove meses depois de começar, com 400 horas em 89 sessões e declarações e após ouvir testemunhas e peritos
Em novembro de 2013, foi lida a sentença, com os três arguidos no processo a serem absolvidos.
O Tribunal Superior de Justiça da Galiza decidiu absolver o capitão do Prestige, o grego Apostolos Mangouras, e o chefe de máquinas do navio, o também grego Nikolaos Argyropoulos, analisando em detalhe as decisões tomadas para lidar com o acidente.
O tribunal absolveu também o ex-diretor geral da Marinha Mercante em Espanha José Luis López Sors, o terceiro acusado no processo, destacando que não lhe pode ser imputado qualquer responsabilidade penal. Na sentença, lida pelo magistrado Juan Luis Pia, o tribunal absolve o Governo espanhol de responsabilidade penal, avaliando uma das decisões mais polémicas tomadas na altura do acidente: a de afastar o navio da costa, recordando, por exemplo, que as autoridades marítimas portuguesas rejeitaram a entrada do navio em águas portuguesas e que "a possibilidade de aproximar o navio da costa teria muitos riscos para a zona".
"Descartou-se levar o barco para a costa por questões ambientais", disse.
"O falhanço estrutural foi culpa de manutenção deficiente e que se ocultou à tripulação", disse o magistrado, que detalhou, na leitura em galego, dados sobre o naufrágio, as ações do Governo - como a primeira ordem de afastar o barco da costa - e os impactos subsequentes.
Na sentença, o magistrado disse que "ninguém sabe exatamente a causa do acidente" e como tal "não há responsabilidade penal" que se possa imputar a empresas como a armadora ou as responsáveis pela inspeção.
Quinze anos depois do naufrágio, o Tribunal da Corunha, na Galiza (noroeste de Espanha), fixou em 1.573 milhões de euros o montante da indemnização que o Estado espanhol deve receber dos responsáveis pela maré negra provocada pelo petroleiro Prestige. O que se passou? A 13 de novembro de 2002, o Prestige estava a caminho de Gibraltar depois de ter zarpado do porto de Ventspils, na Letónia, e foi apanhado por uma tempestade ao largo da Galiza, o que lhe provocou danos irreversíveis entre os quais um rombo de 50 metros no casco. A embarcação lançou um pedido de socorro que foi respondido pela Marinha espanhola por se encontrar a apenas alguns quilómetros da costa.
Todos os arguidos absolvidos O julgamento do maior desastre ecológico em Espanha começou em outubro de 2011. O julgamento termina a 10 de julho de 2012, nove meses depois de começar, com 400 horas em 89 sessões e declarações e após ouvir testemunhas e peritos
Em novembro de 2013, foi lida a sentença, com os três arguidos no processo a serem absolvidos.
O Tribunal Superior de Justiça da Galiza decidiu absolver o capitão do Prestige, o grego Apostolos Mangouras, e o chefe de máquinas do navio, o também grego Nikolaos Argyropoulos, analisando em detalhe as decisões tomadas para lidar com o acidente.
O tribunal absolveu também o ex-diretor geral da Marinha Mercante em Espanha José Luis López Sors, o terceiro acusado no processo, destacando que não lhe pode ser imputado qualquer responsabilidade penal. Na sentença, lida pelo magistrado Juan Luis Pia, o tribunal absolve o Governo espanhol de responsabilidade penal, avaliando uma das decisões mais polémicas tomadas na altura do acidente: a de afastar o navio da costa, recordando, por exemplo, que as autoridades marítimas portuguesas rejeitaram a entrada do navio em águas portuguesas e que "a possibilidade de aproximar o navio da costa teria muitos riscos para a zona".
"Descartou-se levar o barco para a costa por questões ambientais", disse.
"O falhanço estrutural foi culpa de manutenção deficiente e que se ocultou à tripulação", disse o magistrado, que detalhou, na leitura em galego, dados sobre o naufrágio, as ações do Governo - como a primeira ordem de afastar o barco da costa - e os impactos subsequentes.
Na sentença, o magistrado disse que "ninguém sabe exatamente a causa do acidente" e como tal "não há responsabilidade penal" que se possa imputar a empresas como a armadora ou as responsáveis pela inspeção.
Quinze anos depois do naufrágio, o Tribunal da Corunha, na Galiza (noroeste de Espanha), fixou em 1.573 milhões de euros o montante da indemnização que o Estado espanhol deve receber dos responsáveis pela maré negra provocada pelo petroleiro Prestige. O que se passou? A 13 de novembro de 2002, o Prestige estava a caminho de Gibraltar depois de ter zarpado do porto de Ventspils, na Letónia, e foi apanhado por uma tempestade ao largo da Galiza, o que lhe provocou danos irreversíveis entre os quais um rombo de 50 metros no casco. A embarcação lançou um pedido de socorro que foi respondido pela Marinha espanhola por se encontrar a apenas alguns quilómetros da costa.
A resposta foi rebocar o petroleiro para longe da costa espanhola, mas a viagem durou apenas seis dias.
O navio foi rebocado para sul, até a Marinha Portuguesa afirmar que não podia prosseguir, pelo que o rumo foi direcionado para oeste.
O capitão do navio, que permaneceu a bordo, recusou-se a rebocar o navio para longe da costa espanhola, o que provocou atrasos nos trabalhos de salvamento dos 27 tripulantes. Acabou por ser detido a 15 de novembro (três dias depois do acidente) pela Capitania Marítima de A Coruña que o acusou de obstrução e desobediência.
Os tanques de lastro do petroleiro monocasco liberiano, que navegava com a bandeira das Bahamas, sofriam, aparentemente, de corrosão e de vários danos estruturais no casco.
No ano anterior, o Prestige tinha sido alvo de uma reparação na China, considerada por engenheiros navais como “deficientes” tendo a embarcação “saído em piores condições do que quando chegou”.
O Prestige navegava desde 1976, quando terminou a sua construção no Japão, com pavilhão das Bahamas. Apesar de ter licença norte-americana, a embarcação não foi inspecionada durante três anos e algumas companhias petrolíferas deixaram de o usar entre 1997 e 2000.
Além disso, era um navio de casco simples (monocasco) e já não cumpria a legislação em vigor na altura, que exigia que os petroleiros fossem de casco duplo para poder navegar na União Europeia.
Há 10 anos, a Euronews assinalava a data com a cronologia de “uma morte anunciada.
Um relatório preliminar da empresa norte-americana ABS - a mesma empresa que tinha certificado a navegabilidade do navio anos antes - salientou que o derrame poderia ter sido evitado se o Prestige tivesse sido levado para mais perto do porto e tivessem sido feitas tentativas para conter as fissuras no local.