Presidentes na mira: o Brasil pós-ditadura

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Lula da Silva, a sua mulher, Marisa, e Dilma Rousseff fotografados no início de março na casa do antigo Presidente brasileiro em São Bernardo do Campo Paulo Whitaker - Reuters

Lava Jato, Mensalão, impeachment. O Brasil leva 31 anos de democracia, mas em seis presidentes poucos passaram impolutos pelo Palácio do Planalto. Dilma Rousseff e Lula da Silva estão agora na berlinda: depois das notícias que deram como iminente um mandado de prisão para o ex-Presidente, eis que surge o convite de Dilma para o lugar de ministro da Casa Civil. Há quem diga que se trata de uma jogada para garantir a imunidade do fundador do Partido dos Trabalhadores, mas o Executivo defende que se trata de dar novo rumo ao Brasil.

Considerada pelas autoridades brasileiras como a maior investigação de corrupção da história do país, a operação Lava Jato rebentou há exatamente dois anos, a 17 de março de 2014, com o cumprimento de mais de uma centena de mandados de busca e apreensão, de prisão temporária e de prisão preventiva.A nomeação de Lula para ministro da Casa Civil resultou na saída do PRB da coligação governamental.

O objetivo é apurar um esquema de lavagem de dinheiro que poderá ter movimentado milhares de milhões de reais em pagamentos ilegais, subornos que terão andado de bolso em bolso, envolvendo empresários, políticos, partidos, governantes e ex-governantes.

É um escândalo que aquece o Brasil destes dias. Mas antes de Lula e Dilma serem apanhados pela engrenagem houve outros processos a envolver a principal cadeira do Palácio do Planalto.
José Sarney

É o primeiro Presidente pós-ditadura. José Sarney entrou na política ainda na década de 1950. Assumiu a Presidência em 1985, logo após a queda da Ditadura Militar.

Deixou o cargo em 1990, não sem antes enfrentar acusações de corrupção que se estendiam ao seu Governo.


Foto: Roberto Jayme - Reuters

Sobrefaturação e irregularidades em concursos públicos para grandes obras, como o caso da licitação da Ferrovia Norte-Sul, e favorecimento em concessões públicas de radiodifusão a troco de apoio foram alguns dos casos em que esteve envolvida a Presidência de José Sarney.

Em 1988 a CPI da corrupção apontava Sarney como um dos responsáveis do esquema através do qual a Presidência distribuiu dinheiro a municípios.
Fernando Collor de Mello

A 29 de setembro de 1992 a Câmara do Deputados votou por maioria esmagadora o impeachment do Presidente Collor de Mello. A Presidência é assumida pelo então vice-Presidente Itamar Franco. Fernando Collor de Mello viria a renunciar ao cargo três meses depois, a 29 de dezembro. Pela primeira vez na história do Brasil um presidente eleito era afastado por vias democráticas, sem golpes de Estado.

Fernando Affonso Collor de Mello tornou-se em 1990 – e é ainda hoje - o mais jovem Presidente da História do Brasil. Tinha 40 anos e era o primeiro a ser eleito por voto direto do povo após o Regime Militar de 1964-1985.

Implementou o denominado Plano Collor, que inicialmente colheu boas críticas, mas que acabou a afundar a economia numa recessão: quase um milhão de postos de trabalho perdidos e uma inflação de 1200 por cento foram consequências da sua política.


Foto: Reuters

Mas Collor de Mello ver-se-ia também envolvido em acusações de corrupção. Aqui surge um nome, que ficou na memória dos brasileiros: PC Farias. Paulo César Farias era o tesoureiro de Collor. A denúncia partira do próprio irmão do Presidente. Em Maio de 1992, Pedro Collor de Mello revelava numa entrevista que estava montado um esquema de corrupção que envolvia o ex-tesoureiro da campanha Paulo César Farias.

Denúncias de irregularidades surgem nos jornais envolvendo personalidades do círculo próximo do Presidente: estamos a falar de ministros, amigos e a primeira-dama, Rosane Collor. As suspeitas levam à instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o grau de envolvimento do Presidente Collor no esquema.

A imprensa publica em junho uma investigação em que o motorista da secretária de Collor de Mello revela que ele próprio estava encarregado de pagar as despesas pessoais do Presidente com dinheiro de uma conta fantasma mantida por PC Farias. O processo de impeachment é aberto em 2 de setembro. Collor sai três meses depois, impedido da actividade política por oito anos.

Mas Fernando Collor de Mello volta a estar na mira das autoridades judiciais. Na Operação Politeia, um desdobramento da Operação Lava Jato, Collor é suspeito de receber pagamentos em troca de contratos com a subsidiária da Petrobras que controlava politicamente. As suas empresas seriam usadas para lavar o dinheiro por meio de empréstimos fictícios.
Itamar Franco

Pelo meio há um episódio insólito, não relacionado com dinheiros ou corrupção, mas que quase leva ao derrube de Itamar Franco, o 33.º Presidente.

Durante o carnaval de 1994, o Presidente assistia ao desfile de a partir de um camarote na Marquês do Sapucaí. A seu lado, a modelo Lilian Ramos era fotografada a partir de baixo, apenas vestida com uma t-shirt e sem roupa interior.



O país estremeceu com as fotografias que rodaram à volta do planeta. O Congresso quis não se sabe o quê.
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