O Presidente da África do Sul anunciou esta quarta-feira que decidiu renunciar ao cargo com “efeitos imediatos”. Numa declaração televisiva, Jacob Zuma antecipou-se à moção de censura que o próprio Congresso Nacional Africano (ANC), o partido do Presidente, previa apresentar na quinta-feira.
“Nenhuma vida deve ser perdida em meu nome e o ANC não deve ficar dividido em meu nome", acrescentou.
Num discurso de 30 minutos emitido na televisão, Zuma afirmou que discordava com decisão da liderança do partido, mas que acatava as decisões. “Tenho sido sempre um membro disciplinado do ANC”, afirmou.
"Vou continuar a servir o povo sul-africano, assim como o ANC, a organização que servi durante toda a vida", assegurou.
A declaração surge horas depois de Zuma ter afirmado, em entrevista à cadeia pública sul-africana, a SABC, que se recusava a seguir a imposição do Congresso Nacional Africano (ANC) e que não via razões para se demitir. Na terça-feira, o partido do Presidente tinha dado 48 horas para que Zuma apresentasse a demissão.
Em reação ao pedido de demissão, a direção do ANC considera que a decisão do Presidente demissionário é acertada e acalma o país. "Esta decisão dá certezas ao povo sul-africano, num tempo em que os desafios económicos e sociais exigem uma resposta rápida e firme" afirmou Jessie Duarte, vice-secretária-geral do partido.
O ANC, partido no poder desde 1994, tinha agendado para quinta-feira a votação de uma moção de censura contra o Presidente, caso este não apresentasse a decisão no prazo concedido. Na entrevista desta manhã, Jacob Zuma admitia que acataria a decisão saida do Parlamento contra a sua vontade.
Presidente de África do Sul desde 2009, Jacob Zuma enfrenta vários processos de corrupção. Num dos mais recentes e relevantes, o chefe de Estado é suspeito de estar envolvido em alegados crimes cometidos pelos irmãos Gupta, uma família imigrante de origem indiana que detém grandes negócios na África do Sul e que está a ser investigada pelo FBI.
O Presidente da República é suspeito de ter favorecido atividades empresariais desta família poderosa, permitindo aos irmãos Gupta ganharem concursos públicos milionários. Poucas horas antes de ter anunciado a demissão, a polícia sul-africana efetuou buscas numa das moradias dos Gupta.
Mandatos polémicos
A pressão sobre o Presidente aumentou desde dezembro, quando Cyril Ramaphosa, vice-presidente da África do Sul, chegou à liderança do partido. Uma das grandes batalhas do novo líder do ANC tem sido o combate à corrupção e foi um dos temas fortes que o levaram a assumir a presidência do partido. Precisamente, é Cyril Ramaphosa o principal nome apontado pelo partido para substituir Zuma na presidência.
Jacob Zuma, de 75 anos, juntou-se ao ANC em 1958. Membro histórico do partido, esteve preso durante dez anos na prisão de Robben Island com Nelson Mandela. Antes de regressar à África do Sul em 1990 viveu no exílio durante vários anos em Moçambique.
Apesar do passado de luta contra o apartheid, Jacob Zuma tornou-se no político mais polémico da história recente da África do Sul. Em março de 2016, a oposição iniciou um processo de impeachment ao Presidente que acabaria por fracassar, uma vez que o ANC detém, como detinha na altura, a maioria no Parlamento e impediu a destituição.
Notícias vindas a público dois anos antes sobre o uso indevido de fundos do erário público para pagar obras efetuadas na sua casa no valor de 20 milhões de euros. Logo em 2009, ano em que tomou posse, o Presidente mobilizou fundos públicos para construir e melhorar a sua casa pessoal. Apesar da polémica, Zuma foi reeleito em maio de 2014.
Em março de 2016. o Tribunal Constitucional sul-africano viria a condenar Jacob Zuma a devolver grande parte dos custos das obras realizadas na sua propriedade privada.