Entre polémica sobre ex-colónias. Marcelo em visita de três dias a Cabo Verde
O presidente da República inicia esta terça-feira uma visita de três dias a Cabo Verde, onde vai participar nas comemorações dos 50 anos da libertação dos prisioneiros do campo de concentração do Tarrafal. A presença neste local, símbolo da violência da ditadura colonial portuguesa, acontece após declarações polémicas de Marcelo Rebelo de Sousa sobre eventuais reparações a ex-colónias.
Numa segunda fase, em 1962, reabriu com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom e recebeu os guerrilheiros dos grupos de libertação dos países africanos. Neste período morreram dois angolanos e dois guineenses.
A visita do chefe de Estado português acontece numa altura em que as suas declarações sobre as ex-colónias têm causado alvoroço. Marcelo Rebelo de Sousa defendeu, num jantar com jornalistas estrangeiros, que Portugal deve "assumir a responsabilidade total" pelo que fez no período colonial e "pagar os custos".
Mesmo após criticado, o presidente veio insistir na sua tese. "Não podemos meter isto debaixo do tapete ou dentro da gaveta. Temos obrigação de pilotar, de liderar este processo, porque se nós não o lideramos, assumindo, vai acontecer o que aconteceu com países que, tendo sido potências coloniais, ao fim de x anos perderam a capacidade de diálogo e de entendimento com as antigas colónias", alertou no último sábado.
Marcelo Rebelo de Sousa deu como exemplos o perdão de dívidas, a cooperação ou a concessão de linhas de crédito e de financiamento. E defendeu que o atual Governo deveria continuar com o processo de levantamento dos bens patrimoniais das ex-colónias em Portugal, iniciado pelo anterior Governo, para posteriormente os devolver.
"É uma questão que tem que ser tratado pelo novo Governo, em respeito com as funções executivas do Governo e tem que ser tratada em contacto com esses Estados", declarou.
Além do património das ex-colónias, o chefe de Estado lembrou que falta resolver os problemas dos antigos combatentes e dos "espoliados" dos seus bens nas ex-colónias e obrigados a regressar a Portugal.
A agenda de Marcelo
As celebrações no Campo de Concentração do Tarrafal acontecem a 1 de maio e incluem o descerramento de uma placa comemorativa, uma sessão especial com os chefes de Estado e uma conferência sobre o campo do Tarrafal pelo historiador Victor Barros.
À tarde, os presidentes realizam uma visita guiada ao campo e as comemorações do dia terminam com um concerto com Mário Lúcio (Cabo Verde), Teresa Salgueiro (Portugal), Paulo Flores (Angola) e Karyna Gomes (Guiné Bissau), com entrada livre.
Antes disso, esta terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa visita a Feira do Livro na capital, Praia, onde é recebido pelo homólogo cabo-verdiano. De seguida, os dois visitam a exposição "50 Anos de Abril - Antes e Depois", no Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde.
Marcelo Rebelo de Sousa termina o dia com uma receção à comunidade portuguesa.
c/ Lusa