Presidente Joe Biden visita Angola na sua primeira deslocação a África

por RTP
Kevin Lamarque - Reuters

O presidente norte-americano vai deslocar-se a Angola nas próximas semanas, no seguimento de uma promessa e naquela que será a sua primeira visita a África, anunciou a Agência Reuters em exclusivo.

A confirmar-se a deslocação, esta será a primeira visita de um presidente norte-americano a Angola, um dos principais produtores de petróleo do mundo e país rico em recursos minerais e agrícolas.

Antes de Biden, a visita do secretário da Defesa, Lloyd Austin, há um ano, marcou a única viagem a Angola de um alto funcionário da Administração norte-americana.
 
O último presidente dos Estados Unidos a deslocar-se à África sub-sahariana foi Barack Obama, em 2015, acrescentaram fontes próximas do que está a ser planeado e citadas pela Reuters. Obama, contudo, não foi a Angola.

Também a secretária do Tesouro, Janet Yellen, e a vice-presidente Kamala Harris, visitaram África em 2023 e o secretário de Estado, Antony Blinken, este ano. Mas Biden, presidente dos EUA desde 2021, mantinha-se afastado, gerando algum mal-estar e críticas em círculos diplomáticos. 

Os pormenores da viagem de Biden estão ainda a ser ultimados, mas esta deverá ocorrer nas semanas após a Assembleia Geral das Nações Unidas se reunir, entre 22 e 23 de Setembro, e antes das eleições presidenciais de 5 de novembro, acrescentou uma das fontes.

A Casa Branca não comentou nem a notícia dos planos nem a possibilidade da viagem.
Combater Pequim
Biden tinha pensado deslocar-se à antiga colónia portuguesa no final de 2023, mas a viagem foi adiada devido à eclosão do conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, após este último ter invadido Israel a 7 de outubro massacrando 1200 pessoas e sequestrando 250 reféns.

O ainda presidente norte-americano tinha prometido investir em relações mais próximas com os regimes democráticos do continente africano, para contrabalançar a crescente influência de Pequim na região.

Os Estados Unidos têm estado a investir em particular na ligação por via férrea da República Democrática do Congo ao porto angolano de Lobito, para evitar as congestionadas vias terrestres na rota da exploração das minas de cobre e de cobalto.

O presidente angolano João Lourenço foi recebido na Casa Branca em novembro de 2023, tendo sido então proposta a visita durante a reunião de ambos na Sala Oval.

Quatro meses depois, João Lourenço deslocou-se oficialmente a Pequim para uma visita de três dias.

Em maio último, Joe Biden afirmou que planeava visitar oficialmente África em fevereiro de 2025, se fosse reeleito presidente. A sua substituição por Kamala Harris, enquanto candidata democrata às presidenciais de novembro, esvaziou esses planos. 

Mas Biden não quis deixar de cumprir a visita a Angola, naquela que deverá ser uma das suas últimas, se não a última, deslocações oficiais ao estrangeiro enquanto presidente dos Estados Unidos.
O importante Corredor do Lobito

Segundo noticiou a agência de notícias angolana, ANGOP, em fevereiro deste ano, o Corredor do Lobito, uma rota comercial alternativa para a importação e exportação entre o Cinturão de Cobre Africano e a costa atlântica de Angola, está a tornar-se rapidamente uma das mais importantes no escoamento de minérios e produtos africanos.

O Corredor é operado pelo consórcio Lobito Atlantic Railway, constituído pela Trafigura, Mota-Engil e Vecturis, que obteve em 2022 a concessão por 30 anos para a operação, gestão e manutenção do Corredor do Lobito e do Terminal Mineraleiro do Porto do Lobito. 

O interesse no projeto é sobretudo ocidental, para contrariar, ou no mínimo controlar, os interesses de Pequim.

Em outubro de 2023, os Estados Unidos e a União Europeia (UE) aprovaram uma declaração conjunta para apoiar os esforços de revitalização e reforço do corredor do Lobito, ajudando, por exemplo, a encontrar investidores para o projeto - avaliado então em mais de mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros), pelo governo americano.

A linha, quando completamente modernizada, proporcionará uma rota mais eficiente e com menor emissão de teor de carbono para o mercado de cobre, cobalto e outros metais cruciais para a transição energética e vai operar de forma comercialmente aberta com todo o mercado.

Atualmente os minérios são transportados de camião para o porto sul-africano de Durban, em viagens que, devido ao congestionamento das estradas, podem demorar vários dias. De Durban viajam de navio para outros destinos, particularmente portos chineses.

O projeto de reabilitação do Corredor do Lobito, que revitaliza a antiga rota comercial da era colonial, beneficia já do apoio dos Governos de Angola, da RDC, da Zâmbia e da Parceria para o Investimento Global em Infraestruturas (PGII) do Governo dos EUA.

O projeto representa um investimento de mais de 500 milhões de dólares, durante a vigência da concessão, com um financiamento potencial de pelo menos 250 milhões de dólares (um dólar vale em kz 829,463) da Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos EUA.

O investimento vai permitir a renovação de troços da linha férrea e infra-estruturas associadas, além de garantir mais a aquisição de mais 1.500 vagões e 35 locomotivas.

Em fevereiro de 2024, as empresas Trafigura e as responsáveis pelo complexo Kamoa-Kakula, assinaram na África-do-Sul um acordo com a LAR – Atlantic Lobito Corridor, para transportar minerais.

O complexo de cobre Kamoa-Kakula, é uma joint venture entre a Ivanhoe Mines e a Zijin Mining,tendo-lhe sido atribuída uma capacidade mínima entre 120.000 a 240.000 toneladas, por ano, de produtos de cobre – blister-ânodo ou concentrado, a partir de 2025, com um compromisso inicial de 10.000 toneladas a serem transportadas em 2024, à medida que o Corredor do Lobito vá incrementando a sua operacionalidade.

com ANGOP
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