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Presidente israelita "profundamente perturbado" com reacender dos ataques em Gaza

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Oren Ben Hakoon - Reuters

O presidente israelita, Isaac Herzog, manifestou-se "profundamente perturbado" com o recomeço dos ataques israelitas na Faixa de Gaza e com as consequências destes na libertação dos reféns, numa rara crítica ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Na última noite, os ataques israelitas mataram mais de 43 pessoas.

Benjamin Netanyahu está debaixo de críticas desde que quebrou o cessar-fogo, na terça-feira, e lançou um dos ataques mais mortíferos desde o início da guerra com o Hamas, a 7 de outubro de 2023.

Num raro ataque ao primeiro-ministro, o presidente israelita disse estar “profundamente perturbado” com o recomeço dos ataques na Faixa de Gaza e com a consequência destes no regresso dos reféns que ainda permanecem detidos pelo Hamas.

"É impossível não ficar profundamente perturbado pela dura realidade que se desenrola diante dos nossos olhos", disse Isaac Herzog numa declaração em vídeo partilhada nas redes sociais.

"É inconcebível enviar os nossos filhos para a frente de batalha e, ao mesmo tempo, promover iniciativas controversas que (...) criam divisões profundas no seio da nossa nação", acrescentou.

Após dois meses de uma trégua frágil, Israel lançou na terça-feira bombardeamentos maciços em território palestiniano, seguidos de operações terrestres, num esforço para pressionar o movimento islâmico-palestiniano a libertar os 58 reféns que ainda mantém na sua posse.

No entanto, muitos têm questionado a estratégia de Netanyahu e milhares de israelitas têm protestado contra o Governo, exigindo que o executivo feche um acordo para libertar os reféns.

“É impensável retomar os combates e ao mesmo tempo continuar a missão sagrada de repatriar os nossos reféns", disse Herzog.

Netayahu demite chefe do Shin Bet
A acrescentar à polémica, o Governo israelita anunciou esta sexta-feira a demissão do chefe do serviço de segurança interna de Israel (Shin Bet), Ronen Bar, depois de uma investigação ter apontado a responsabilidade do Governo pelos "acontecimentos que levaram ao dia 7 de outubro".
Esta é a primeira vez na história israelita que um Governo despede o líder do Shin Bet.

A decisão está a gerar uma onda de críticas. A oposição israelita e uma organização não-governamental anunciaram que apresentaram junto do Supremo Tribunal de Israel um recurso contra a demissão de Ronen Bar. O partido de centro-direita Yesh Atid, do líder da oposição Yair Lapid, anunciou que tinha apresentado um recurso em nome de vários movimentos da oposição e denunciou uma "decisão tomada devido a um flagrante conflito de interesses do primeiro-ministro, com base em considerações estrangeiras".

O Movimento por um Governo de Qualidade denunciou em comunicado uma "decisão ilegal [...] que representa um risco real para a segurança nacional".

Netanyahu, por sua vez, defendeu que a decisão de despedir Bar foi tomada depois de ter perdido a confiança no diretor do Shin Bet, e acusou a procuradora-geral Gali Baharav-Miara, de "traição perigosa" e "tentativa de usurpar o Governo" após esta posicionar-se contra a legalidade desta demissão pelo Governo.
Mais de 40 mortos na última noite
Enquanto isso, Israel continua a bombardear a Faixa de Gaza. Na última noite, a ofensiva israelita matou mais 43 pessoas e feriu outras 82, segundo avançou a imprensa palestiniana.

De acordo com o jornal Filastin, Israel atacou as cidades de Rafah e Khan Yunis, ambas no sul da Faixa de Gaza, e contra o campo de refugiados de Al-Bureij, no centro.

Nas últimas 72 horas, os ataques israelitas tinham causado a morte de pelo menos 591 palestinianos e ferido 1.042, segundo indicou na quinta-feira à noite o Governo da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas.

Na quinta-feira, o exército israelita anunciou que tinha conduzido "operações terrestres na zona de Chaboura, em Rafah", no extremo sul do território palestiniano, acrescentando que mantinham as suas operações "no norte e no centro" de Gaza.

O porta-voz do Governo israelita, David Mencer, disse que o exército "controla agora o centro e o sul de Gaza" e está a criar uma zona tampão "entre o norte e o sul".


Israel e o Hamas estão num impasse, não chegando a um entendimento sobre como prosseguir o acordo de tréguas – cuja primeira fase expirou a 1 de março.

O Hamas quer passar à segunda fase do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente, a retirada das tropas israelitas de Gaza, a retoma do envio de ajuda humanitária e a libertação dos restantes reféns.

Israel, por seu turno, quer que a primeira fase seja prolongada até meados de abril para que mais reféns sejam libertados e exige a "desmilitarização" de Gaza e a saída do Hamas antes de passar à segunda fase.
O Hamas não aceitou a proposta e insiste que seja cumprido o acordo inicial.

Na quarta-feira, o Hamas disse que “não fechou a porta às negociações”, mas exige que Israel “cesse imediatamente” as hostilidades.

Por sua vez, Netanyahu avisou que, “a partir de agora”, as negociações "só se realizarão debaixo de fogo" e alertou que “se todos os reféns israelitas não forem libertados e o Hamas não for completamente afastado de Gaza, Israel tomará medidas a uma escala nunca antes vista".

c/ agências
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