Paris, 03 abr (Lusa) -- O presidente francês e o seu primeiro-ministro não sabiam que o ex-ministro do Orçamento Jérôme Cahuzac, formalmente acusado na terça-feira de fraude fiscal, tinha uma conta no estrangeiro, assegurou hoje a porta-voz do Governo.
François Hollande e Jean-Marc Ayrault não estavam "ao corrente", disse a porta-voz, Najat Vallaud-Belkacem, à rádio Europe 1.
"Ninguém está livre de ter um mentiroso na sua própria família", insistiu a porta-voz em relação ao caso do ministro, que se demitiu a 19 de março, mais de três meses depois de um jornal ter revelado ser titular de uma conta na Suíça.
"Não houve qualquer complacência, qualquer vontade de obstruir a justiça", afirmou por seu lado o ministro da Economia e Finanças, Pierre Moscovici, que tinha a autoridade de tutela sobre Cahuzac.
"O presidente da República e eu próprio fizemos o que tínhamos de fazer", acrescentou, precisando ter feito "diligências que contribuíram para a manifestação da verdade".
O "número dois" do Governo, Laurent Fabius, também assegurou que o Governo não tinha conhecimento da conta de Jérôme Cahuzac. "Se ele (François Hollande) o tivesse sabido, Cahuzac teria sido imediatamente demitido", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros à cadeia BFM.
"É esmagador", acrescentou Fabius, referindo que, antes de ser ministro, Cahuzac foi presidente da comissão de Finanças da Assembleia Nacional.
Jérôme Cahuzac, que foi ouvido na terça-feira por dois juízes, admitiu ter mentido durante meses e reconheceu deter uma conta bancária no estrangeiro há cerca de 20 anos. O ex-ministro disse ter dado instruções para que os 600.000 euros que tinha nessa conta sejam transferidos para Paris.
Antes, Cahuzac negou categoricamente ser titular de uma conta no estrangeiro, inclusive perante a Assembleia Nacional.
O caso suscitou críticas de toda a classe política em França, com a oposição de direita, a esquerda radical e a extrema-direita a levantarem a questão de um eventual conhecimento dos factos por parte dos membros do Governo.
Hoje, o máximo responsável do Partido Socialista francês, Harlem Désir, anunciou em comunicado que Jérôme Cahuzac foi expulso do partido pelos seus "atos de extrema gravidade".
Segundo o diário suíço Le Temps, a investigação judicial realizada na Suíça permitiu detetar a conta do ex-ministro, depois de buscas efetuadas ao banco UBS e ao pequeno banco privado Reyl et Cie, conhecido pela sua clientela não suíça.
Segundo o jornal, foram as conclusões da investigação, ainda não transmitidas à justiça francesa, que levaram à mudança de posição de Cahuzac e à sua confissão.
O Ministério Público de Genebra recebeu a 12 de março um pedido de cooperação judicial internacional emitido pelo Ministério Público de Paris. As buscas foram feitas numa data não precisada pelo jornal.
"Encontrámos o que procurávamos", disse ao Le Temps o procurador Jean-Bernard Schmid, recusando dar pormenores.