Ebrahim Raisi quer uma investigação à morte da jovem de 22 anos que morreu quando estava sob custódia da "polícia da moralidade". O Presidente iraniano revelou ainda que já entrou em contacto com a família de Mahsa Amini. Os protestos prosseguem em várias cidades do país.
Raisi quer uma investigação “firme” e acusou as nações ocidentais de “dois pesos e duas medidas”, apontando para os casos de violência policial nos Estados Unidos e Reino Unido.
“Todos os dias, em vários países, incluindo os Estados Unidos, vemos homens e mulheres a morrer nas mãos das autoridades policiais, mas não há sensibilidade quanto à causa e tratamento dessa violência”, afirmou Ebrahim Raisi numa conferência de imprensa à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.
“Será que todas estas mortes foram investigadas?”, questionou.
Raisi apelou ainda ao “mesmo padrão” em todo o mundo para lidar com as mortes nas mãos das autoridades.
Sobre a morte da jovem curda, Raisi frisou que “as autoridades estavam a fazer o necessário e que a responsabilidade está agora nas mãos do poder judicial”.
Na quinta-feira, o Presidente iraniano desistiu de uma entrevista com a jornalista da CNN Christiane Amanpour , em Nova Iorque, por ela se ter recusado a usar o véu islâmico.
Os protestos em várias cidades do país, onde as mulheres queimam os hijabs e cortam o cabelo, são os mais graves desde 2019, quando irromperam por causa da subida do preço da gasolina por parte do Governo.
Raisi que não condena abertamente os protestos, acrescentou: “Claro que estas manifestações são normais e aceites. Temos de diferenciar entre manifestações e vandalismo. As manifestações são boas para expressar questões específicas”.
As manifestações parecem ser demonstrações mais amplas de desafio ao Governo da República Islâmica, que se tornou mais rígida desde a eleição do executivo de Raisi no ano passado. Após oito anos de administração moderada de Hassan Rouhani, o Irão elegeu um ultraconservador cujos pontos de vista estão alinhados com o pensamento do poderoso clero e líder do país, o aiatola Ali Khamenei.
Redes socias bloqueadas e mais de 30 mortos em protestos As autoridades iranianas bloquearam na quinta-feira o acesso às redes sociais Instagram e Whatsapp, após seis dias de protestos pela morte de uma jovem detida pela polícia da moralidade, nos quais já morreram mais de 30 pessoas.
Em paralelo, a poderosa Guarda Revolucionária do Irão definiu ainda hoje como “sedição” os protestos por Masha Amini e pediu ao poder judicial que proceda ao julgamento “de quem dissemina rumores e mentiras” nas redes sociais e nas ruas.
O corpo militar referia-se aos recentes atos de “sedição” que foram “organizados pelo inimigo”, num duro comunicado onde também envia condolências à família da falecida.
A morte da jovem iraniana Masha Amini, de 22 anos, desencadeou uma vaga de condenações em todo o mundo, com várias ONG a denunciar a repressão “brutal” aos protestos por parte das autoridades do país.
Os protestos tornaram-se um desafio aberto ao Governo, com alguns iranianos a apelar à queda da República Islâmica.
Masha Amini, natural do Curdistão, foi presa pela polícia da moralidade em 13 de setembro, em Teerão, por “vestir roupas inadequadas”, e morreu três dias depois num hospital.
Os protestos começaram depois do funeral de Masha Amini, quando várias mulheres foram filmadas a abanar os hijabs e a gritar “morte ao ditador” – um cântico muitas vezes dirigido ao Líder Supremo, Ayatollah Ali Khamenei.
Vários grupos de ativistas dizem que a jovem foi vítima de uma agressão fatal na cabeça, mas as autoridades iranianas negam as acusações e anunciaram a abertura de uma investigação.