Carles Puigdemont, líder do governo regional catalão exigiu esta segunda-feira a retirada total das forças policiais deslocadas para a Catalunha pelo governo de Madrid e afirma que não teve qualquer contacto com o Governo central de Espanha. Foi ainda anunciada a criação de uma comissão especial de investigação para investigar as queixas de abuso da polícia espanhola durante o referendo de domingo.
“O Governo que hoje se reuniu não decidiu declarar a independência. Se houver mediação, falamos de tudo, senão já explicámos o que se passará”, afirmou Puigdemont.
“Não tenho nenhum indício de que a União Europeia possa apadrinhar esta mediação”, disse o líder catalão, “mas não é por isso que deixaremos de apelar ao que me parece ser uma responsabilidade”.
E reiterou que o referendo realizado este domingo é válido e vinculativo.
O líder catalão anunciou a criação de uma comissão especial de investigação para analisar a atuação da polícia este domingo, na tentativa de travar a realização do referendo e que possa refgletir umsa violação dos Direitos Fundamentais. No último balanço conhecido, há registo de 893 feridos. A Policía Nacional e a Guardia Civil usaram bastões e balas de borrachas em vários momentos.
“O dia de violência gratuita de ontem não se pode repetir, nem ficar impune”, reforçou o presidente, dizendo que a comissão vai investigar responsabilidades de agentes, comandantes e responsáveis políticos.
#President @KRLS: “Emprendrem totes les accions legals per depurar les responsabilitats dels agents, comandaments i responsables polítics”
— Govern. Generalitat (@govern) 2 October 2017
Para Puigdemont, a UE tem de “deixar de olhar para o outro lado” perante o que disse serem as “violações” da carta europeia de direitos fundamentais, alegando que a questão já não é apenas um assunto interno, mas “um assunto europeu”.
UE apela ao diálogo, ONU pede investigação imparcial
A União Europeia apelou esta manhã "todos os atores pertinentes" a passar "da confrontação ao diálogo".
"A violência nunca pode ser um instrumento político", acrescentou o porta voz da Comissão Europeia, e que mais do que aspetos legais, agora é tempo para que todas as partes passem “do confronto ao diálogo”.
Margaritis Schinas defendeu que a questão da Catalunha é do foro interno do Estado espanhol que "tem de ser resolvida dentro da ordem constitucional em Espanha", mas relembra que o referendo de domingo não foi legal.
Inquéritos "imparciais"
Também esta segunda-feira de manhã, o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, exortou as autoridades espanholas a realizar inquéritos "imparciais" sobre "todos os atos de violência" cometidos na Catalunha durante a realização do referendo proibido pelo Tribunal Constitucional, este domingo.
"Exorto as autoridades espanholas a garantir inquéritos completos, independentes e imparciais sobre todos os atos de violência", declarou o Alto Comissário numa mensagem escrita, apelando ao diálogo e sublinhando que "as intervenções policiais devem ser sempre proporcionais e necessárias".
Mais de 90 por cento dos votos expressos aprovaram a independência catalã. Já esta segunda-feira, o ministro da Justiça espanhol já veio dizer que ponderá acionar o artigo 155 da Constituição para impedir a declaração unilateral de independência da Catalunha.