Reccep Tayyip Erdogan não mediu as palavras esta sexta-feira contra o Governo alemão, a quem acusou de abrigar terroristas e de enviar espiões para a Turquia. Ancara acusou ainda Berlim de trabalhar contra o reforço do Presidente turco.
Berlim já afirmou não ter tido qualquer interferência nas decisões locais que levaram à anulação dos encontros "pro-Erdogan". E também o Governo holandês considerou "indesejável" a realização a 11 de março de um encontro de apoio às pretensões do Presidente turco em Roterdão e disse que iria informar Ancara.
Mas para o Presidente turco, a anulação dos encontros foi o pretexto para acusar a Alemanha de dois pesos e duas medidas, por anular os encontros ao mesmo tempo que tolera a presença no seu território de separatistas curdos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, PKK, que Ancara considera terroristas.
As autoridades alemãs "deverão ser julgadas, pois elas ajudam e abrigam os terroristas", lançou Erdogan numa cerimónia de entrega de prémios esta noite em Istambul.
"Eles impedem o meu ministro da Justiça de falar, o meu ministro da Economia de falar. Também eu deveria exprimir-me em visioconferência", acusou.
Acusação de espionagem
O caso de Deniz Yücel serviu igualmente de arma de arremesso para Erdogan, que descreveu o correspondente do Die Welt detido terça-feira na Turquia, como um "representante do PKK" e um "agente alemão".
De acordo com a sua versão dos factos, Yücel "escondeu-se durante um mês no consulado alemão em Istambul".
"Não é por ele ser um correspondente do Die Welt que ele foi detido", explicou Erdogan. "É porque esta pessoa se esconde na embaixada alemã como um membro do PKK e um agente alemão duranteum mês. Quando lhes dissemos para o entregarem para ser julgado, recusaram".
Um comunicado do ministério alemão dos Negócios Estrangeiros emitido esta noite considerou a acusação de espionagem "aberrante".
"De casa em casa, de café em café"
De viagem à Tunísia, a chanceler alemã Angela Merkel negou por seu lado toda a implicação do Governo federal da anulação dos encontros pelas autoridades locais, acrescentado uma crítica direta: "é apropriado da nossa parte criticar os atentados à liberdade de imprensa" na Turquia, referiu.Apesar da tensão parece existir uma vontade de manter abertos os canais de comunicação e os ministros dos Negócios Estrangeiros turco e alemão falaram ao telefone combinando um encontro para quarta-feira, referiu um alto responsável da Turquia.
Reccep Tayyip Erdogan tem sido acusado de pretender impor uma deriva autoritária na Turquia, sobretudo depois de um alegado golpe de Estado falhado em julho, que serviu de desculpa para a detenção de mais de 43.000 pessoas, desde militares a juízes e jornalistas, extremamente críticos de Erdogan.
A conquista da opinião da importante comunidade turca na Alemanha é crucial para Erdogan. O seu ministro da Economia, Nihat Zeybekci, diz-se disposto a ir "de casa em casa, de café em café" para se encontrar com os líderes da comunidade, depois da anulação dos encontros.
"Eles não querem que os turcos façam campanha aqui, eles trabalham para o não", acusou por seu lado o chefe da diplomacia turca, Mevlüt Cavusoglu.
Também o ministro da justiça, que deveria ter participado quinta-feira num encontro em Gaggenaud (sudoeste da Alemanha) entretanto anulado, acusou as autoridades alemãs de "medidas fascistas".
O edifício da Câmara de Gaggenau, onde se deveria ter realizado o encontro, foi evacuado esta sexta-feira devido a uma ameaça de bomba que se revelou falsa.