Presidente da Geórgia afirma que não irá abandonar o cargo no final do mandato
Numa altura em que decorre em Tbilissi o terceiro dia consecutivo de protestos contra o Governo liderado pelo Sonho Georgiano, a presidente do país afirmou que pretende manter-se no cargo em dezembro próximo, altura em que termina o seu mandato. Estes protestos surgem na sequência da decisão por parte do executivo em congelar as negociações para a entrada na União Europeia até 2028.
No entanto, grande parte da população apoia a adesão da Geórgia à União Europeia, tanto que o objetivo de adesão está inscrito na Constituição do país. É essa popularidade que também explica a força dos protestos dos últimos três dias, em que a polícia dispersou a multidão com gás lacrimogéneo e canhões de água.
No sábado, o Ministério georgiano do Interior indicou que deteve mais de uma centena de pessoas nos protestos de sexta-feira. Esperam-se mais ações de protesto nos próximos dias.
Às primeiras horas da noite de sábado, milhares de manifestantes começavam a reunir-se em Tbilissi para mais uma noite de protesto, perante a presença reforçada da polícia de choque.
Salome Zourabichvili considerou que a presidência é, neste momento, a única instituição legítima que resta à Geórgia e recusa-se a abandonar o cargo.
Zourabichvili considerou este sábado que o Parlamento não tem legitimidade para eleger o seu sucessor, isto porque considera que as eleições legislativas de 26 de outubro, que ditou a vitória do partido Sonho Georgiano, foi fraudulenta.
"Não há um Parlamento legítimo e, portanto, um Parlamento ilegítimo não pode eleger um novo presidente. Assim, não pode haver nenhuma tomada de posse e meu mandato continua até que um Parlamento legitimamente eleito seja formado", afirmou, citada pela agência Reuters.
Maidan "não pode acontecer" na Geórgia
Nos últimos dias, a presidente da Geórgia tem sido uma das principais vozes a opor-se à decisão de congelar as negociações para a adesão à União Europeia e a temer uma aproximação à Rússia.
De acordo com observadores a OSCE, NATO e UE, as eleições de 26 de outubro na Geórgia foram “marcadas por desigualdades (entre candidatos), pressões e tensões”. Denunciaram “casos de enchimento de urnas” e “agressões físicas” durante o ato eleitoral.
De acordo com observadores a OSCE, NATO e UE, as eleições de 26 de outubro na Geórgia foram “marcadas por desigualdades (entre candidatos), pressões e tensões”. Denunciaram “casos de enchimento de urnas” e “agressões físicas” durante o ato eleitoral.
O partido Sonho Georgiano sublinha que não é pró-russo e tem garantido que está "comprometido com a democracia e a integração com o Ocidente”, mas enfrenta alegações sobre tendências autoritárias e de eventuais ligações ao Kremlin.
De destacar que Tbilissi e Moscovo mantêm relações difíceis desde a independência da Geórgia, sobretudo desde 2008, ano em que a Rússia invadiu e passou a ocupar a Abcásia a Ossétia do Sul. Ou seja, 20 por cento do território georgiano.
Neste contexto, o primeiro-ministro georgiano, por sua vez, tenta traçar distinções entre a Geórgia da atualidade e a Ucrânia de há dez anos.
"Na Geórgia, o cenário de Maidan não pode acontecer. A Geórgia é um Estado, e o Estado não irá permitirá isso, é claro", afirmou Irakli Kobakhidze.
O chefe do Governo liderado pelo Sonho Georgiano tem acusado os manifestantes de conspirarem para conduzir uma revolta como a que sucedeu na Ucrânia, em 2014, quando milhares de manifestantes acorreram à praça Maidan durante vários meses para protestar contra o afastamento de Kiev em relação à União Europeia, uma decisão então adotada por um Governo próximo de Moscovo.
(com agências)