Presidente congolês promete resposta militar "vigorosa" ao avanço do M23

por Carla Quirino - RTP
Elementos dos rebeldes M23 fazem ronda nas zonas controladas Reuters

O presidente da República Democrática do Congo anunciou que as tropas congolesas estão a montar uma resposta "vigorosa" ao avanço dos rebeldes do M23 apoiados pelo vizinho Ruanda. Felix Tshisekedi afirmou ainda que está ser "uma afronta" a inação da comunidade internacional perante o agravamento da crise de segurança no leste do país.

O leste da República Democrática do Congo, rico em minerais, tem um histórico de conflitos que tem devastado o território durante décadas.Os confrontos têm envolvido dezenas de grupos armados que podem ser parcialmente rastreados até ao genocídio de Ruanda em 1994, também conhecido como genocídio tutsi.

Desde o início da semana, o movimento rebelde M23, que capturou vastas áreas do leste da RDC, reivindica o controlo da maior parte da cidade-chave de Goma e estão a avançar para o sul para ocupar mais território.

Este avanço dos M23 desencadeou pedidos de negociações de crise e alertas de uma crise humanitária iminente.
Alerta de "escalada" na região dos Grandes Lagos
O presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, já veio dizer que as tropas congolesas estão a montar uma resposta "vigorosa e coordenada" para deter o movimento rebelde, definindo-os como "terroristas".

"Está em curso uma resposta vigorosa e coordenada contra estes terroristas e os seus patrocinadores". "O leste do nosso país, particularmente as províncias de Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri, está a enfrentar um agravamento sem precedentes da situação de segurança", acrescentou o chefe de Estado.

Num discurso transmitido na televisão, Tshisekedi criticou ainda a comunidade internacional por "inação" e por “não fazer o suficiente” face ao "agravamento sem precedentes da crise de segurança".

"O seu silêncio e inação são uma afronta" à RDC, alegou o presidente, acrescentando que o avanço dos combatentes apoiados por Ruanda poderia levar "a uma escalada" na região mais ampla dos Grandes Lagos.


Félix Tshisekedi, presidente da RDC | Ludovic Marin - EPA

Tshisekedi apelou também à união de todos os congolenses e para apoiarem a luta do exército para retomar o controlo. "Certifiquem-se de uma coisa: a República Democrática do Congo não se deixará humilhar ou esmagado. Vamos lutar e triunfar", reiterou.

Os combates na região de Goma forçaram cerca de 500 mil pessoas a abandonarem o território, agravando mais ainda a crise humanitária pré-existente, de acordo com a ONU.

Os confrontos deixaram a cidade sem eletricidade, a água foi cortada e os alimentos escasseiam.

O exército congolês ainda não fez uma declaração sobre os novos avanços do M23. Os dias de intensos confrontos deixaram mais de 100 mortos e quase mil feridos, de acordo com uma contagem da France Presse.
Receio de alastramento do conflito à África do Sul
Uma reunião entre os líderes dos países do bloco regional da África Oriental teve lugar, também na quarta-feira, através de videoconferência. O encontro foi convocado pelo presidente do Quénia, William Ruto, presença essa que Tshisekedi desconsiderou.

Ruto pediu uma "solução pacífica dos conflitos" e exortou o Governo da RDC a “envolver-se diretamente com todas as partes interessadas, incluindo o M23 e outros grupos armados que têm queixas".A reunião foi assistida por Paul Kagame, presidente do Ruanda, ao lado dos líderes de outros países membros como o Burundi, Sudão do Sul, Tanzânia e Somália.

Entretanto, durante o discurso, Tshisekedi deixou também uma homenagem aos soldados da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral que "lutaram ao nosso lado" e às forças da ONU que morreram na sequência do ataque rebelde a Goma.

Treze soldados sul-africanos foram mortos durante os últimos ataques, levando a tensões crescentes entre a África do Sul e Ruanda.

Por sua vez, Kagame disse que o Ruanda estava pronto para enfrentar a África do Sul, caso fosse necessário, após uma alegação do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que atribuiu responsabilidade aos combatentes do M23 e às forças ruandesas pelas mortes em Goma.

Em resposta no X a Ramaphosa, Kagame acusou-o de distorcer as conversas privadas sobre a situação volátil.

“Se a África do Sul quer contribuir para soluções pacíficas, isso é bom, mas por outro lado a África do Sul não está em posição de assumir o papel de pacificador ou mediador. E se a África do Sul preferir o confronto o Ruanda vai lidar com o assunto nesse contexto a qualquer momento", ameaçou.

Angola já pediu que os líderes congoleses e ruandeses se encontrem urgentemente em Luanda.
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