A vantagem foi expressiva, mas insuficiente para resolver a contenda à primeira volta. Jair Bolsonaro, o candidato do PSL à Presidência do Brasil, colheu 46 por cento dos votos nas eleições de domingo, à frente de Fernando Haddad, do PT, que chegou aos 29 por cento. A escolha do sucessor de Michel Temer ficará selada a 28 de outubro.
Ciro Gomes, o candidato do PDT, surge no terceiro posto com 12,47 por cento, seguido de Geraldo Alckmin, do PSDB, com 4,76 por cento.
Conhecidos os números, Bolsonaro e Haddad apressaram-se a assestar a artilharia política para a segunda volta, que terá lugar dentro de três semanas. O primeiro voltou a dramatizar, advertindo os eleitores contra um “passo à esquerda” num “país à beira do caos”. Ao mesmo tempo procurou pôr de parte a habitual aspereza das suas intervenções de campanha, vogando agora da extrema-direita ao centro.
“O nosso país está à beira do caos. Não podemos dar mais um passo à esquerda, o nosso passo agora é de centro-direita”, clamou Jair Bolsonaro numa mensagem publicada no Facebook.
“Temos que unir os cacos que nos fez o governo da esquerda no passado, botando de um lado negros e brancos, jogando nordestinos contra sulistas, pais contra filhos, até mesmo quem tem opção sexual homo contra héteros”, ensaiou, para propugnar ainda a “um ponto final nos ativismos”, a desregulamentação de “muita coisa”.
“Pacto da Constituinte está em jogo”
Também Fernando Haddad não resistiu a dramatizar no momento de ler os resultados da jornada eleitoral de domingo. Para o homem do PT, “o próprio pacto da Constituinte de 88”, momento fundador do atual regime democrático brasileiro, “está hoje em jogo”.
“Vamos ser vitoriosos no segundo turno”, lançou Haddad, para quem esta é uma “eleição muito diferente de todas” as precedentes.
“Muito respeitosamente, nós vamos para o campo democrático com uma única arma, o argumento”, reforçou o candidato, que tornaria, adiante, a colocar a tónica nos seus “valores”, exortando Bolsonaro a aceitar um debate televisivo.
“O segundo turno é uma oportunidade de ouro para discutir frente a frente”, frisou.
A matemática dos apoios
Ciro Gomes, o terceiro classificado, já saiu a terreiro para descartar qualquer forma de apoio, na segunda volta, a Jair Bolsonaro.
Segundo os números do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil, país onde o voto é obrigatório, 29,9 milhões de eleitores não foram às urnas. A abstenção foi assim de 20,3 por cento. É a mais alta desde 2002.
“Meu espírito é de continuar fazendo o que eu fiz a vida inteira: lutar em defesa da democracia e contra o fascismo. Uma coisa já está decidida: ele não, sem dúvida”, afiançou, referindo-se à campanha #elenão.
“Esse é o sentimento com que eu termino: gratidão, profunda gratidão ao povo brasileiro”, concluiu o antigo governador do Ceará.
Por sua vez, Marina Silva, candidata da Rede, remeteu para mais tarde a clarificação da posição para o segundo capítulo das presidenciais. Ainda assim, garante que “independentemente de quem seja o vencedor” estará “na oposição”, considerando que esta “é a única forma de quebrar o ciclo vicioso”.
Geraldo Alckmin, do PSDB, em quarto lugar, promete falar na terça-feira, depois da “avaliação do processo eleitoral” por parte da cúpula do partido.