Preparativos para funeral do Papa e conclave avançam

por Agência LUSA
EPA

O sepultamento de João Paulo II em terra, a existência de um "testamento espiritual" ainda por ler e a informação de que o corpo não foi embalsamado estão entre os pormenores divulgados hoje após nova reunião dos cardeais.

Sobre o conclave, que entre o 15º e o 20º dia após a morte de João Paulo II (entre 17 e 22 de Abril) se reúne para eleger o próximo Papa, foi hoje anunciado que já estão em Roma 88 dos 183 cardeais, que ainda não foi marcada uma data para o seu início e que o tradicional fumo branco que anuncia a eleição será, desta vez, acompanhado do toque dos sinos da Basílica de São Pedro.

Estes são os principais pontos anunciados pelo porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, e pelo mestre-de-cerimónias das celebrações litúrgicas, Piero Marini, numa conferência de imprensa conjunta realizada após a terceira reunião do colégio dos cardeais para preparar o funeral de João Paulo II e o conclave.

Segundo Navarro-Valls, o Papa não deixou quaisquer disposições relativas ao seu funeral, uma informação que põe termo aos rumores segundo os quais Karol Wojtyla queria ser sepultado na sua Polónia natal.

Piero Marini anunciou por seu lado que, pela primeira vez, o rosto do Papa vai ser coberto por um véu de seda branca, colocado antes de o caixão ser fechado provisoriamente para ser levado para a praça de São Pedro no dia do funeral, marcado para sexta-feira às 10:00 (9:00 em Lisboa) e cuja missa, segundo a mesma fonte, durará três horas.

Marini explicou também que a Basílica de São Pedro, onde o corpo do Papa está em câmara ardente desde segunda-feira à tarde, permanecerá aberta ao público até quinta-feira à noite, sendo depois encerrada durante algumas horas para os vários preparativos.

João Paulo II será sepultado em terra, no local onde antes esteve a sepultura de João XXIII, vazia desde que em 2000 foi beatificado e trasladado para a capela de São Jerónimo, e a lápide será "muito simples", ostentando apenas o nome João Paulo II e as datas de início e fim do seu pontificado.

João Paulo II ficará ao lado do seu antecessor João Paulo I, morto 33 dias após a eleição em 1978, e dos Papas Bento XV, Inocêncio IX, Júlio III e Paulo VI, e em frente da sepultura considerada pelos arqueólogos como sendo a de São Pedro.

Joaquín Navarro-Valls disse ainda na conferência de imprensa que o corpo de João Paulo II não foi embalsamado, como os de outros Papas, mas "preparado" para ser visto pelo público.

O porta-voz explicou que essa preparação do cadáver, de que não deu pormenores, foi realizada por uma equipa de especialistas de medicina legal da policlínica Tor Vergata, de Roma, dirigida pelo professor Giovanni Arcudi.

Segundo a tradição e os ritos aprovados pelo Vaticano, salvo indicação em contrário do próprio em vida, o corpo do Papa é embalsamado antes de ser colocado em câmara ardente.

Os últimos três Papas - João XXIII, Paulo VI e João Paulo I - foram embalsamados, processos confiados à família romana dos Signoracci, que desta vez não foi contactada pelo Vaticano.

O cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, chegou entretanto a Roma, afirmando aos jornalistas que está confiante numa eleição rápida do novo Papa e recusando assumir-se como um dos favoritos.

"Não (me vejo como favorito). Neste momento, vejo-me entre os eleitores. Esta é uma missão de tal maneira transcendente e difícil que seria uma loucura situar-me entre os favoritos", disse o cardeal português.

Dos 117 cardeais eleitores foi entretanto anunciado que um não estará presente: o cardeal filipino Jaime Sin, que comunicou ao colégio dos cardeais não poder deslocar-se a Roma por problemas graves de saúde.

Há a possibilidade, por outro lado, de um outro nome ser acrescentado à lista.

Trata-se do cardeal nomeado por João Paulo II em 2003 e cujo nome ficou 'in pectore' (no coração), uma figura prevista no direito canónico e que é habitualmente usada quando um Papa quer distinguir um prelado cuja nomeação pode representar um risco para o próprio ou para as relações do Vaticano com um determinado Estado.

Segundo o porta-voz, o Papa João Paulo II deixou "um documento", um testamento espiritual, que ainda não foi lido pelos cardeais reunidos em congregação que pode, ou não, conter a identificação do cardeal.

A Constituição Apostólica estipula que o conclave deve ter início entre o 15º e o 20º dia após a morte do Papa, mas a data ainda não foi marcada: "Os 88 cardeais que participaram na reunião de hoje ainda não decidiram a data exacta do início do conclave", disse Navarro-Valls.

O espaço do conclave dos cardeais que elegerá o próximo Papa vai ser alargado, pela primeira vez na história, a todo o complexo do Vaticano e os cardeais continuam a estar submetidos à interdição de qualquer contacto com o exterior.

Monsenhor Piero Marini referiu ainda que os cardeais se poderão deslocar livremente do lugar onde ficarem alojados, na casa de Santa Marta, para as capelas onde celebrarão as liturgias e para a capela Sistina, onde continuarão a reunir-se para eleger o novo Papa.

Até ao último conclave (1978), os cardeais ficavam alojados em pequenas celas situadas junto da Capela Sistina, mas João Paulo II quis melhorar as condições e mandou construir a casa de Santa Marta, situada atrás da grande sala de audiências Paulo VI e composta por pequenos apartamentos.

Outra das novidades hoje anunciada é a de que o tradicional fumo branco que anuncia a eleição de um novo Papa vai ser acompanhado pelo toque dos sinos, para evitar confusões quanto à cor do fumo.

"Desta vez planeamos tocar os sinos da Basílica de São Pedro para tornar a eleição do Papa mais clara", disse Piero Marini, evocando anteriores eleições em que houve alguma confusão quanto à cor do fumo. "Assim, até os jornalistas vão saber", acrescentou.

Segundo o ritual vaticano, os votos dos cardeais eleitores são queimados depois de cada escrutínio. Se o fumo que sai da chaminé da Capela Sistina for negro, significa que não houve acordo entre os cardeais, se for branco, que foi escolhido o novo Papa.

Marini acrescentou que o Vaticano também está a tentar melhorar o processo de queima dos votos para tornar a cor do fumo mais definida.


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