Uma declaração de Narges Mohammadi, detida em Teerão desde novembro de 2021, foi lida pela ONG
Ensemble contre la Peine de Mort (Juntos contra a Pena de Morte, em português) perante uma plateia que debatia a situação do Irão no Conselho dos Direitos Humanos (CDH).
“Dirijo-me a vocês com grande preocupação” disse a iraniana.
"Com a recente onda de protestos e movimentos a favor da vida e da liberdade das mulheres, a repressão intensificou-se", prosseguiu, apelando à comunidade internacional para "exercerem uma pressão sistemática e global" sobre o Irão.
A ativista iraniana está a cumprir pena de prisão desde 2021, tendo sido repetidamente condenada e aprisionada nas últimas duas décadas pela sua oposição ao uso obrigatório do hijab pelas mulheres e à pena de morte.
O relator da ONU para o Irão, Javaid Rehman, afirmou que Narges Mohammadi, de 51 anos, sofre de “graves problemas de saúde, em particular problemas cardíacos e pulmonares graves, que colocam a sua saúde em grande risco”.
Estando os mandatos da Missão de Inquérito da ONU sobre o Irão e do Relator Especial prestes a terminar, no próximo mês de abril, a vencedora do Prémio Nobel da Paz, em 2023, e outras organizações não-governamentais e países presentes, apelaram esta segunda-feira à renovação dos mandatos destes peritos que não tendo sido autorizados a visitar o país no ano passado têm documentado a repressão do regime iraniano, na sequência da morte da jovem iraniana Mahsa Amini.
"Apelamos ao Irão para que ponha termo à impunidade e à repressão sistemática da sua população. A missão de apuramento de factos (...) deve continuar e completar a sua missão", disse a comissária alemã dos Direitos Humanos, Luise Amtsberg, ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDHNU). A proposta de prorrogação, iniciada pela Alemanha, está a ser analisada.
Crimes contra a humanidade e "discriminação institucionalizada"
Mobilização contra a repressão do regime iraniano em frente às Nações Unidas, em Genebra, em fevereiro de 2024
O relatório da Missão de Inquérito da ONU, publicado há dez dias,
concluiu que o regime iraniano assassinou, prendeu, torturou e violou pessoas que protestavam nas manifestações “Mulher, Vida, Liberdade” contra a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos detida pela Polícia da Moralidade iraniana por não estar a usar corretamente o véu islâmico.
Mas também que existe no país uma “discriminação institucionalizada” contra as mulheres e raparigas que por, sua vez, conduziram a “crimes contra a humanidade”.
Teerão “condenou veemente” este relatório que comprova a repressão do regime dos ayatollahs, por considerar não ser “factual nem profissional e muito menos justo e equilibrado”, denunciou o representante iraniano junto da CDHNU, Somayyeh Karimdoost.
A presidente da Missão, Sara Hossain, denunciou esta segunda-feira as medidas tomadas por Teerão "para silenciar as vítimas e as suas famílias na sua busca da verdade e da justiça", enquanto o relator especial, Javaid Rehman, se disse “muito preocupado” com o facto de "pelo menos 834 pessoas serem executadas em 2023", um aumento de 43 por cento em relação a um ano.
c/agências