"Precisamos da Gronelândia" repete Donald Trump antes da visita de JD Vance
Washington reduziu a dimensão da visita do vice-presidente ao território autónomo dinamarquês, marcada para a próxima sexta-feira, mas Donald Trump não desistiu dos objetivos últimos de agregar a Gronelândia aos EUA.
A Administração Trump assumiu logo no início do mandato a vontade de conseguir domínio sobre o território, propondo-se comprá-lo ou desafiando os habitantes a escolherem tornar-se norte-americanos com a Gronelândia a ser acrescentada à federação americana como 51º Estado.
Propósitos firmemente negados pela Dinamarca e pela maioria dos gronelandeses, apesar destes, na sua maioria, pretenderem tornar-se um país independente. Contudo, a pressão norte-americana pode abrandar mas é constante.
"Ingerência estrangeira"
Há dias, notícias da chegada, não solicitada, de uma série de veículos blindados e de uma delegação norte-americana de alto nível a Nuuk, capital da Gronelândia, para acompanhar a mulher de JD Vance durante uma corrida de trenós de cães, causaram desconforto e protestos, tanto na Dinamarca como na ilha.
Rumores sobre a possibilidade de uma visita do conselheiro de segurança nacional, Mike Waltz, agravaram a reação.
O primeiro-ministro da Gronelândia, Mute Egede, denunciou segunda-feira uma "ingerência estrangeira" e o governo interino lembrou que, sem executivo oficial, nem convites nem reuniões oficiais deveriam acontecer. Desde as eleições de 11 de março, os principais partidos da Gronelândia estão em negociações para formar um governo de coligação.
O protesto acalmou depois de Washington recuar e confirmar que a visita de JD Vance seria circunscrita à base militar norte-americana de Pituffik.
A diplomacia dinamarquesa saudou a mudança de planos, sublinhando que qualquer deslocação além do território autónomo ou encontros políticos ou sociais estavam fora de questão.
"Penso que é muito positivo que os americanos anulem a sua visita à socidedade gronelandesa. Em vez disso, irão visitar a sua própria base, Pituffik, e não temos nada contra", declarou o ministro dinamarquês dos Negócios Estrangeiros, Lars Løkke Rasmussen, à rádio DR.
"As viaturas que foram entregues há alguns dias estão a ser devolvidas à procedência, e a esposa do vice-presidente norte-americano e o seu conselheiro para a segurança não farão qualquer visita no seio da sociedade gronelandesa", acrescentou.
"A questão está a ser concluída e é positivo", aplaudiu Løkke, mencionando uma "pirueta magistral".
Marc Jacobsen, professor do Colégio Real de Defesa da Dinamarca, estimou que a decisão de limitar a deslocação de Vance constituiu "uma desescalada". "O fato das autoridades gronelandesas e dinamarquesas vos dizerem que não são bem-vindos é significativo", estimou à agência France Press.
"O risco de uma cobertura negativa nos media e nas redes sociais talvez tenha tido ainda mais peso", acrescentou, lembrando que estava prevista uma manifestação em Sisimiut durante a visita de Vance, depois de um protesto anti-americano em Nuuk, a 15 de março.
Segurança do Ártico
Politicamente, a Gronelândia está aberta a fazer "negócios" com os EUA, mas, depois do desanuviamento na questão da visita, as palavras de Trump, esta quarta-feira, podem criar anticorpos.
Numa sondagem realizada em finais de janeiro, a população da Gronelândia mostrou-se massivamente oposta à ideia de ficar dependente de Washington.
Os Estados Unidos admistram uma única base militar da ilha, dedicada ao Espaço. A vice-presidência norte-americana justificou a visita, referindo que JD Vance vai "informa-se dos assuntos ligados à segurança do Ártico".