"É uma tristeza que o Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV) continue assim. Tem uma péssima gestão hospitalar", disse José Ramos-Horta à Lusa em Darwin, depois de visitar o Royal Darwin Hospital e a escola de investigação médica Menzies.
"Em Timor, e noutros países, fazemos o mesmo: o diretor do hospital é um médico. E um médico pode ser muito bom médico, mas pode não entender nada de gestão hospitalar. Para ser diretor não se tem que ser médico, mas tem que se ter formação em gestão hospitalar. E isso tem que acontecer em Timor", referiu.
Ramos-Horta, que conclui este fim de semana uma visita de Estado à Austrália regressou ao hospital onde em 2008 esteve entre a vida e morte, depois de ser baleado num atentado em Díli.
Uma visita em que em que conheceu unidades como a de pediatria -- que no passado recebia médicos timorenses em formação complementar -- ou o laboratório onde, numa primeira fase, eram testadas as amostras de covid-19 recolhidas em Timor-Leste.
Ramos-Horta destacou os "grandes médicos, enfermeiros e funcionários administrativos" do que disse ser "um hospital verdadeiramente sério e super profissional, que além de bom equipamento, tem gente muito boa".
O chefe de Estado destacou o apoio que o setor de saúde australiano em Darwin, especialmente equipas da Menzies, têm dado a Timor-Leste, tanto na resposta à pandemia como para lidar com outros problemas graves de saúde do país.
"Foram e continuam a ser grandes amigos de Timor. Pessoas muito dedicadas, gente muito boa a trabalhar com pessoal de saúde timorense, que estão a aprender muito com eles. Equipas que estão também a fazer investigação sobre os vários problemas de saúde no país: tuberculose, dengue, malária, problemas reumáticos, rins", entre outros, explicou.
A ligação entre o Darwin Hospital e Timor-Leste abrangeu, no passado, outros programas, como a formação contínua de médicos timorenses, treinados em Timor-Leste ou em Cuba, e que estiveram depois em Darwin para formação em áreas como pediatria e emergência.
Noeno Sarmento, médico residente, explicou à Lusa que o programa foi suspenso, por Timor-Leste, apesar da formação ser muito útil para o país.
"Durante três ou quatro anos, a cada seis meses o Darwin Hospital trazia dois médicos timorenses para formação adicional, durante seis meses. Mas há três anos esse programa foi parado. Dizem-me que, por causa de mudanças na situação política, o programa parou", disse à Lusa.
"Os médicos que participaram consideram-no muito útil, aprenderam muito. E se houver mais oportunidades, os médicos jovens querem poder beneficiar deste tipo de programas, que abrange qualificações de que necessitamos muito em Timor-Leste", referiu Sarmento.
Sarmento disse que ele próprio foi para Sydney estudar depois da restauração da independência com uma bolsa de estudo, esteve depois a trabalhar em Wollongong e está agora há vários anos em Darwin.
Na reta final da jornada, Ramos-Horta teve ainda oportunidade de visitar o National Critical Care and Response Centre (NCCRC), em Darwin, infraestrutura criada pelo Governo australiano na sequência dos atentados de 2002 em Bali.
O Presidente timorense tinha à espera vários "amigos" de Timor-Leste, incluindo o médico Phil Carson e a enfermeira Rhiannon Winter -- parte da equipa que o recebeu e tratou em 2008 -- e o diretor executivo do NCCRC, Len Notaras.
O NCCRC deu apoio às várias edições do Tour de Timor em ciclismo, iniciativa criada pelo próprio Ramos-Horta, no seu primeiro mandato como chefe de Estado, entre 2007 e 2012, e que o Presidente quer agora reativar.
Nas paredes do centro -- cujos armazéns têm material para responder a emergências na região -- estão fotos de alguns dos desastres, acidentes e outras emergências para as quais as equipas foram mobilizadas.
"O centro foi criado para coordenar e destacar as equipas de Ausmat que são destacadas sempre que for solicitado apoio ao Governo, sempre que haja algum desastre, na Indonésia, Timor-Leste ou no Pacífico", explicou à Lusa Michele Foster, diretora operacional do centro.
"Nos últimos dois anos e meio foram destacadas 21 equipas em resposta à covid-19 e, em Timor-Leste, além da covid-19, demos apoio na sequência das cheias de abril do ano passado", notou.
Com capacidade de montar hospitais de campanha ou outras estruturas de apoio, o NCCRC tem uma base de dados de mais de 700 pessoas disponíveis para serem mobilizadas em caso de necessidade, com 40 pessoas permanentemente destacadas em Darwin.