Possível confronto entre Biden e Trump não entusiasma eleitores da Virgínia

por Lusa

A previsível repetição do confronto entre Joe Biden e Donald Trump nas presidenciais norte-americanas de novembro retirou entusiasmo nas primárias do decisivo estado da Virgínia, revelam analistas e eleitores.

Na véspera da "Super Terça-Feira" - como é designado este dia grande eleitoral em que 15 estados e um território norte-americanos vão a votos -, as ruas de Richmond, capital da Virgínia, estavam praticamente desertas, algo que seria impensável em anos anteriores, como disse à Lusa o analista e especialista em comunicação política Robert Denton, que antevê uma baixa participação eleitoral no sufrágio de hoje.

"Os eleitores da Virgínia realmente não estão entusiasmados. Há muito pouco entusiasmo, quer do lado republicano, quer do lado democrata, ao contrário do que vimos nas eleições de 2016 ou mesmo em 2020. (...) Há muito pouco interesse aqui na Virgínia e eu ficaria surpreendido se houvesse uma participação líquida de 10% nestas primárias", avaliou Denton.

Para vários eleitores da Virgínia, está bastante claro que a repetição do cenário de 2020 - quando o ex-presidente Donald Trump defrontou o atual chefe de Estado, Joe Biden - é o motivo para o desânimo em torno desta "Super Terça-Feira".

"Acredito que esta falta de entusiasmo esteja ligada ao facto de estar praticamente certo que veremos novamente uma corrida presidencial entre os mesmos dois homens. Já vimos isto antes (...) e acho que simplesmente não é entusiasmante. Acredito que as pessoas olhem para esta eleição e não vejam isto como uma corrida eleitoral normal, mas apenas dois homens novamente atrás do mesmo", disse à Lusa Margot, uma eleitora de 65 anos de Richmond.

Uma visão semelhante foi partilhada por Richard, um reformado de 69 anos, que, porém, acredita que o cenário mudará à medida que as presidenciais se forem aproximando.

"As pessoas não estão minimamente entusiasmadas com esta eleição, porque olham para isto como se fosse algo já predeterminado. Neste momento, as pessoas olham para eleição de hoje como uma corrida de pequenas dimensões. Mas tenho a certeza que a situação mudará quando a data das presidenciais se estiver a aproximar, porque este estado é considerado um `campo de batalha`", observou.

A Virgínia é considerada um `swing state` (`estado pendular` ou ainda `estado campo de batalha`), por tradicionalmente oscilar entre democratas e republicanos e acaba por ser essencial para a estratégia de campanha de um candidato, uma vez que o torna especialmente competitivo.

Ao contrário de muitos estados, uma das particularidades da Virgínia é que sediará primárias abertas, ou seja, um democrata poderá votar num candidato republicano e vice-versa.

De acordo com analistas ouvidos pela Lusa, esta situação poderá beneficiar especialmente a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley, a principal rival de Donald Trump dentro do Partido Republicano, que poderá angariar votos de democratas que não se identificam com a continuidade de Joe Biden e que rejeitam completamente Donald Trump.

A Virgínia poderá ser, aliás, um dos poucos estados em que Haley se poderá aproximar hoje do favorito republicano Donald Trump.

Contudo, apesar de acreditar que a ex-governadora poderá ter um bom resultado e angariar alguns delegados na Virgínia, Robert Denton não tem dúvidas que de o magnata republicano sairá vencedor desta primária republicana.

"Sabemos que Nikki Haley saiu-se muito bem em Washington DC [único local onde conseguiu derrotar Trump]. O norte da Virgínia é muito suburbano e com um grau elevado de instrução. As mulheres votam mais do que os homens naquela área, assim como em torno de Richmond. E, tendo isso em conta, Haley poderá conseguir algum apoio real nessa parte do estado. Mas, quando nos começamos a aproximar do lado sul e sudoeste da Virgínia, esse é o ponto forte de Trump", analisou.

"Não ficaria surpreso se Nikki Haley ultrapassasse os 35% [de votos], mas Trump vencerá as primárias", frisou o analista, que já foi diretor da Escola de Comunicação da Universidade Virginia Tech.

Em relação aos problemas que a população da Virgínia quer ver resolvidos, Denton explicou que há um alinhamento com a restante população, com questões como economia, imigração ou aborto a liderar as preocupações.

"A Virgínia está realmente alinhada com a nação em termos das suas preocupações. Mas, também é verdade que o povo da Virgínia, tanto democratas quanto republicanos, estão entre a significativa parcela de norte-americanos que não quer ver Trump ou Biden nesta eleição de novo. A Virgínia reflete o sentimento nacional de: `oh meu Deus, não arranjamos melhor do que isto?`", concluiu.

Hoje, 15 estados norte-americanos vão a votos - Alabama, Alaska, Arkansas, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont e Virgínia - além do território de Samoa Americana.

O resultado desta "Super Terça-Feira" pode ser decisivo para a escolha dos candidatos presidenciais, sendo cada vez mais certo uma repetição do duelo entre Trump e Biden, num momento em que o atual chefe de Estado não tem adversários significativos e se espera que volte a vencer com facilidade os candidatos democratas Dean Phillips e Marianne Williamson.

 

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