Um dos dois portugueses que vivem na ilha de Rodes, Grécia, atingida por incêndios que obrigaram à retirada de milhares de pessoas, nomeadamente turistas, destacou hoje a solidariedade do povo grego na resposta aos mais afetados pelo flagelo.
"Estamos a assistir à maior evacuação da história de toda a Grécia e não apenas na ilha. Cerca de 26.000 pessoas já foram retiradas do local onde se encontravam", disse à Lusa Hugo Vieira, a viver naquele país europeu há cerca de seis anos.
Com a mulher, Hugo Vieira faz parte dos dois habitantes portugueses de Rodes, residindo na zona norte, que não foi atingida pelos fogos, que consomem o centro e o sul da ilha, que é precisamente a região mais procurada pelos turistas.
Desde a passada segunda-feira que o casal, tal como os outros habitantes, vive "com o coração apertado e a respiração suspensa".
"Rodes tinha, até agora, uma das áreas de floresta virgem mais bem preservadas e mais antigas da Europa, extremamente bela e com espécies nativas, inclusive uma espécie única de veados", contou à Lusa.
Essa mesma floresta virgem -- de difícil acesso para os meios de combate ao fogo -- foi atingida pelas chamas na segunda vaga de calor e perante o aumento dos ventos.
Hugo Vieira e a mulher têm ajudado no apoio aos que estão na "linha da frente", fornecendo água e alimentos, pois é isso que os corpos de bombeiros têm pedido.
E têm presenciado "a enorme onda de calor, abafado, e uma vaga de fumo enorme pelas montanhas".
Já na capital, onde reside, o casal apercebeu-se da "aflição, do caos, da emoção das pessoas que foram obrigadas a fugir" e que foram acolhidas pela população e as autoridades em escolas, ginásios e improvisados, mas bem organizados, centros de acolhimento.
"As aldeias estão cheias de turistas. A ilha está atolada", disse, sublinhando a resposta que as autoridades e a sociedade civil têm prestado a estes populares assustados, nomeadamente os turistas que tiveram de fugir dos hotéis localizados em locais afetados ou em risco.
E ressalvou: "A solidariedade do povo grego é tremenda. Rapidamente se instalaram centros de acolhimento para os turistas, sobretudo de origem britânica. São acolhidos em escolas, ginásios. Os hotéis [na zona norte, não atingida] oferecem os seus pátios e as transportadoras colocam os meios à disposição".
As últimas informações dão conta de três frentes ativas e nenhuma controlada, neste incêndio florestal que arde há sete dias.
Como únicos portugueses na ilha de Rodes, o casal esperava ter sido contactado pelas autoridades portuguesas, mas tal não aconteceu antes de Hugo Vieira ter escrito uma mensagem nas redes sociais da Embaixada de Portugal na Grécia.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal disse hoje que tem estado "em contacto com 19 portugueses" na Grécia, na sequência dos incêndios que estão a afetar este país.
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, disse hoje que a Grécia está "em guerra" contra os incêndios florestais que assolam o país, que tem "mais três dias difíceis" pela frente devido às altas temperaturas.