A província da Huíla, em Angola, vai passar a poder fazer localmente testes à covid-19, no âmbito de um projeto de reforço da capacidade laboratorial apoiado por Portugal e que inclui também formação para profissionais de saúde.
No âmbito do projeto, será instalado no laboratório da universidade Mandume ya Ndemufayo, na cidade do Lubango, um aparelho de PCR-RT, que foi hoje entregue, numa cerimónia simbólica, pelo diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-UNL), Filomeno Fortes, ao embaixador de Angola em Lisboa, Carlos Alberto Fonseca.
Além deste aparelho serão também enviados equipamentos acessórios de testagem, como reagentes, e Equipamentos de Proteção Individual (EPI`s).
"Este equipamento tem uma capacidade para fazer 120 testes por dia e os resultados são conhecidos no máximo em 24 horas", disse aos jornalistas Filomeno Fortes, sublinhando a "mais valia" que representa passar a fazer os testes e a obter os resultados localmente e sem necessidade de envio das amostras para fora da região.
O reforço do laboratório é um dos primeiros resultados do trabalho da "task-force" montada há três meses para apoio aos países africanos lusófonos na luta contra a covid-19 pelo IHMT-UNL, Centro Ciência LP, Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e instituto Camões.
O projeto inclui ainda a realização de formação laboratorial para apoiar as unidades de saúde da província no diagnóstico da covid-19, bem como a participação em projetos de investigação no âmbito do combate às doenças infecciosas em África.
Na conversa com os jornalistas, Filomeno Fortes sublinhou ainda o papel central da província da Huíla na luta contra a propagação da doença, nomeadamente a partir de países vizinhos como a Namíbia.
"A Namíbia está com a situação de transmissão da doença a agravar-se e a província de Huíla funciona como província-tampão, dá apoio às províncias de Cunene, Cuango-Cubango e Namibe e a instalação deste laboratório vai permitir que o país possa começar a monitorizar" a doença naquela zona, disse.
O diretor do IHMT-UNL assinalou, por outro lado, que esta região de Angola começa agora a ter temperaturas mais baixas, o que deverá levar a um aumento das doenças respiratórias.
"É preciso haver capacidade para diagnóstico diferencial entre as doenças respiratórias e a covid-19. A província é a segunda mais populosa do país e com mais população idosa, portanto mais suscetível à pandemia", acrescentou o médico angolano e especialista em malária e doenças tropicais.
Para Filomeno Fortes, "o reforço da província da Huíla é fundamental para que o país possa continuar a manter o controlo da situação epidemiológica" da covid-19.
O reforço da capacidade laboratorial na província angolana resulta de uma ação conjunta com o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO), que gere uma rede de laboratórios geminados (twinlabs) em África no âmbito da cátedra UNESCO "Life on Land".
O coordenador-executivo do CIBIO, Carlos Pereira, explicou que a organização está a reforçar e a readaptar a capacidade dos laboratórios que já tem no terreno para fazer testes à covid-19.
"Temos um laboratório central em Angola que está já a dar algum apoio aos pacientes, mas não lhe está a ser possível fazer testes. Os 120 testes feitos até à semana passada à população da província da Huíla foram enviados para Portugal", disse.
"A testagem tem sido mínima", apontou, adiantando que o laboratório da universidade Mandume ya Ndemufayo, que tinha inicialmente competência pedagógica e de formação, sofrerá "uma pequena readaptação" para, em conjunto com o hospital central, fazer testes de diagnóstico do novo coronavírus.
A iniciativa do IHMT-UNL, Ciência LP e FCT insere-se no Plano de Ação na resposta sanitária à pandemia covid-19 entre Portugal, os PALOP e Timor-Leste, coordenado pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua (IC).
O presidente do instituto Camões, Luís Faro Ramos, também presente na cerimónia, sublinhou a importância da "parceria e solidariedade" entre Portugal e os países lusófonos no combate à covid-19, considerando que permitirá "ganhar outra escala" e "impulsionar outras ações de apoio" no futuro.
O plano de resposta sanitária à pandemia, anunciado na semana passada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, prevê a disponibilização de três milhões de euros para apoiar os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e Timor-Leste a combaterem a propagação da covid-19.
Para além dos três milhões de euros, o plano, que tem a duração prevista de um ano, envolve também a disponibilização de material médico e proteção individual, num total de cerca de 800 mil artigos e 95 ações de formação.
Angola ultrapassou, na quinta-feira, os 200 casos de covid-19, totalizando desde o início da pandemia 212 infetados, com dez óbitos, 121 casos ativos e 81 doentes recuperados.