Portugal disposto a ajudar na mediação mas não acredita que será preciso diz Paulo Rangel

por Lusa
António Pedro Santos - Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, disse hoje em Maputo que Portugal está disponível para apoiar a mediar a crise pós-eleitoral em Moçambique, mas acredita que tal não será necessário.

"Eu acho que o processo pode até dispensar essas ajudas, ou pelo menos uma mediação formal, porque todas as partes me parecem, sinceramente, por aquilo que eu posso testemunhar, especialmente agora, já cá - mas antes disso também, por contactos que tinha vindo a fazer -, que há uma vontade, realmente, de fazer desta crise uma oportunidade. E isso é uma coisa que nos deixa, como eu usei a palavra hoje de manhã, esperança", disse Rangel.

Em declarações aos jornalistas esta tarde, após a cerimónia de investidura de Daniel Chapo como quinto Presidente de Moçambique, marcada por novos confrontos entre a polícia e apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais, Paulo Rangel reconheceu que Portugal tem, pelos "laços afetivos históricos, culturais profundos", uma "posição especial".

"Nós temos, obviamente, um papel de ajuda. A União Europeia tem tido, exatamente, grande sintonia com as posições de Portugal. Basta verem, os comunicados que têm sido emitidos estão exatamente todos na mesma linha e nós aí, obviamente, é um interlocutor também importante. A CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa] também pode ter o seu papel", afirmou Rangel.

O chefe da diplomacia portuguesa confirmou igualmente que tem previsto um encontro com Venâncio Mondlane, que tem convocado sucessivas paralisações e manifestações contra os resultados das eleições gerais moçambicanas de 09 de outubro, durante a estadia em Maputo.

"Também falaremos com ele, com certeza, isso está previsto. Está previsto falar com todos e portanto com certeza que a predisposição de Portugal é sempre ajudar. Nós não podemos substituir-nos, obviamente, de maneira nenhuma, não queremos interferir na soberania de Moçambique, mas achamos que há aqui uma oportunidade para se criar uma agenda de consenso, de reformas por um lado institucionais e por outro lado com certeza económicas e sociais", disse.

O candidato presidencial Venâncio Mondlane acusou na terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros português de parcialidade e de "manipular" a opinião pública ao dizer que tem acompanhado o processo pós-eleitoral em Moçambique.

Questionado pelos jornalistas sobre estas declarações, Paulo Rangel desvalorizou, olhando para as mesmas "com um grande `fair play`".

"Eu compreendo que neste contexto as pessoas expressem as suas opiniões livremente e, portanto, o objetivo de Portugal, como eu disse desde o início, é uma postura, uma atitude, muito construtiva para facilitar o diálogo, para criar (...) a disponibilidade para ajudar, se isso for querido e se isso for necessário, e, portanto, é com essa postura construtiva, responsável, de um país irmão, que nós estamos aqui. E, portanto, as pequenas, diria, coisas do dia-a-dia não interferem com isso", sublinhou.

Paulo Rangel insistiu que neste processo, marcado por manifestações e tensões pós-eleitorais que já provocaram mais de 300 mortos e 600 baleados desde 21 de outubro, é necessário "diálogo a partir deste momento".

"Que aliás já começou, mas que agora obviamente tem que ter um novo fôlego, diálogo inclusivo com todas as forças da oposição e com todos os protagonistas da oposição e que esse diálogo leve em primeiro lugar a uma reconciliação nacional, porque deste processo muito traumático ficaram algumas feridas, portanto este é um ponto (...) para haver aqui um conjunto de reformas que possam ser consensualizadas e que relancem uma democracia funcional e, no fundo, reconhecida por todos", disse.

Também reconheceu, por outro lado, que o Governo português "sempre salientou" a necessidade de uma "reforma da lei eleitoral", também já admitida por todos os intervenientes moçambicanos.

 

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