O ministro dos Transportes moçambicano, Mateus Magala, defendeu em entrevista à Lusa que os portos de Moçambique estão a afirmar-se como alternativa na costa do Índico da África Austral, mas precisam de estar ligados a novas estradas e ferrovias.
"As nossas estradas não foram construídas para suportar as cargas que estão a ser transportadas" e, além disso, "a estrada não é a única solução", referiu.
"Nós tínhamos uma tradição de transporte ferroviário" que "foi perdendo competitividade", descreveu o ministro.
No entanto, segundo o governante, a situação "está a mudar" porque o país começou "a investir novamente nas ferrovias", para que haja ligações intermodais à altura do atual contexto de oportunidade para os portos moçambicanos.
A procura pelos portos de Maputo (sul), Beira (centro) e Nacala (norte) aumentou consideravelmente nos últimos anos, com operadores regionais a procurarem alternativas face à pressão sobre os portos de Durban e de Richards Bay, na vizinha África do Sul, disse Mateus Magala.
"Não foi um processo automático: não foram só os problemas na África do Sul que se traduziram em sucessos para Moçambique. O nosso país já estava preparado e à altura de oferecer vantagens competitivas", considerou.
Só no principal porto moçambicano, em Maputo, segundo dados oficiais, o manuseamento de carga passou de 18,4 milhões de toneladas em 2020 para 26,7 milhões de toneladas em 2022, um resultado recorde, referiu.
Magala diz que é a face visível de um investimento total de 700 milhões de dólares (649 milhões de euros) desde que as infraestruturas foram concessionadas, em 2003.
"Moçambique pôs a infraestrutura necessária, desenvolveu os corredores, colocou disciplina e apostou na digitalização", destacou.
"O nível de roubos, que era uma coisa que assustava os exportadores, hoje está a zero", acrescentou o ministro.
Assim, "quando do outro lado [na África do Sul] as coisas não funcionam, o nosso país torna-se uma alternativa", afirmou o ministro dos Transportes e Comunicações.
A integração dos portos num sistema intermodal eficaz é um desafio que persiste, sublinhou.
Além da revitalização do sistema ferroviário, outra opção que pode ser viável consiste na própria via marítima, num país com mais de 2.500 quilómetros de costa, mas este setor não é "barato", alertou o governante.
"A cabotagem só funciona quando há carga de um ponto para o outro" e a Indústria marítima "é de capital intensivo", observou o governante, acrescentando que a solução passa por definir estratégias público-privadas para fazer face às exigências do setor.
Segundo o ministro, qualquer solução deve ser acompanhada por legislação que estimule o investimento.
"Temos de olhar para os nossos instrumentos legais e fazer com que sejam adequados para apoiar o setor privado a realizar a sua tarefa de produzir da forma mais eficiente", salientou Magala.
Se se conseguirem combinar infraestruturas e legislação apropriada, estarão criados os "incentivos necessários" para que o melhor meio de transporte seja naturalmente eleito por quem investe.
Mateus Magala foi nomeado ministro dos Transporte e Comunicações em junho de 2022, sensivelmente a meio do segundo mandato do Presidente Filipe Nyusi, substituindo no cargo Janfar Abdulai.
Até à data da sua nomeação, era vice-presidente dos Serviços Institucionais e de Recursos Humanos do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), tendo sido o primeiro lusófono a chegar a uma vice-presidência nos 54 anos da instituição.