Os partidos populistas conseguiram triplicar a votação na Europa ao longo dos últimos 20 anos, apurou o jornal britânico The Guardian, que analisou 31 países. À direita ou à esquerda, estas formações registaram um crescimento contínuo ao longo de duas décadas e já têm representação em 11 governos. Um em cada quatro cidadãos europeus votou num partido de orientação populista nas últimas eleições nacionais.
Atualmente, “alguns dos desenvolvimentos políticos recentes mais significativos, como o referendo sobre o Brexit e a eleição de Donald Trump, não podem ser entendidos sem ter em conta a ascensão do populismo”, contextualizou.
Neste contexto, é expectável que nas próximas eleições europeias, em maio de 2019, aumente o número de eurodeputados de orientação populista, principalmente de direita, num Parlamento que com o Brexit ficará reduzido a 705 lugares.
Populistas adaptam-se
Jan Kavan, antigo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, considera que nos últimos anos se verifica o aparecimento de uma nova vaga de populismo.
Os partidos populistas de esquerda, como o Syriza, conheceram rápido crescimento no contexto da crise financeira de 2008 mas só chegaram ao poder na Grécia.
A esquerda começou a conquistar votos nas últimas eleições nacionais, com o Podemos em Espanha e o La France Insoumise.
“Há três razões principais para a forte ascensão do populismo na Europa", explicou Cas Mudde, professor de Assuntos Internacionais da Universidade da Geórgia, também citado por The Guardian. “A grande recessão, que criou alguns fortes partidos populistas de esquerda no sul, a chamada crise de refugiados, que foi um catalisador para populistas de direita e, finalmente, a transformação de partidos não populistas em partidos populistas – como o Fidesz e Lei e Justiça [na Polónia]”, enumerou.
A professora da Universidade Lusófona Cláudia Álvares aponta a “capacidade de convencer o público de que não pertencem ao sistema político” como um elemento determinante para o sucesso dos populistas. “Como tal, estão em pé de igualdade com as pessoas, na medida em que nem eles nem o povo pertencem às elites "corruptas", afirmou.
A investigadora portuguesa destaca o papel das redes sociais na ascensão do populismo e no modelo algorítmico que promove mensagens controversas. “A raiva que os políticos populistas conseguem canalizar é alimentada pelos posts nas redes sociais, porque estas são muito permeáveis à fácil disseminação da emoção. O resultado final é a polarização do discurso político e jornalístico”, explicou.
As próximas eleições, na primeira metade de 2019, da Ucrânia à Dinamarca, da Finlândia à Bélgica, vão permitir uma leitura mais ampla sobre o desempenho dos populistas.
Contudo, o fenómeno não está circunscrito ao continente europeu. Governantes com discursos populistas conquistaram o poder em cinco grandes economias mundiais: Estados Unidos, México, Brasil, Índia e Filipinas.