Populista de extrema-direita e admirador de Trump vence primárias na Argentina

por RTP
EPA

O populista de extrema-direita Javier Milei foi o mais votado nas eleições primárias de domingo destinadas a escolher os candidatos presidenciais às eleições gerais de outubro na Argentina, país assolado por problemas económicos.

As eleições gerais da Argentina, que decorrem em outubro, sofreram uma reviravolta depois de o populista de extrema-direita, Javier Milei, ter sido o mais votado nas eleições primárias de domingo, destinadas a escolher os candidatos presidências às eleições gerais.

Com cerca de 92% das assembleias de voto apuradas, Milei obteve cerca de 30% dos votos totais, de acordo com os resultados oficiais, muito acima do previsto. Os candidatos da principal coligação da oposição, Juntos pela Mudança, obtiveram 28% e a atual coligação governamental, União pela Pátria, conseguiu 27%.

Milei, um admirador do ex-presidente dos EUA Donald Trump, diz que o Banco Central da Argentina deve ser abolido, acha que a mudança climática é uma mentira, caracteriza a educação sexual como uma manobra para destruir a família, acredita que a venda de órgãos humanos deve ser legal e quer tornar mais fácil a posse de armas de fogo.

Enquanto celebrava na sede eleitoral, Milei prometeu pôr "fim à casta política parasita, corrupta e inútil" do país.


"Hoje demos o primeiro passo para a reconstrução da Argentina", disse. "Uma Argentina diferente é impossível com as mesmas pessoas de sempre", acrescentou.
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O resultado representa um duro golpe à coligação de centro-esquerda e reflete um descontentamento generalizado na Argentina, que se debate com uma inflação anual superior a 100%, o aumento da pobreza e uma moeda em rápida desvalorização.

A crise económica deixou muitos argentinos desiludidos com os principais partidos políticos e abriu as portas para Milei, que atraiu o apoio ao apelar à substituição do peso pelo dólar norte-americano.

Os resultados "refletem o cansaço das pessoas em relação à liderança política e a falta de soluções dentro dos espaços que têm estado no poder consecutivamente", disse Mariel Fornoni, diretor da Management and Fit, uma empresa de consultoria política. As primárias são obrigatórias para a maioria dos adultos e são vistas como uma sondagem nacional sobre a posição dos candidatos perante os argentinos para as eleições gerais, que ocorrem a 22 de outubro, dando uma indicação clara de quem é o favorito a assumir a presidência.

Na principal coligação da oposição, Juntos pela Mudança, os eleitores também pareciam estar dispostos a deslocar-se mais para a direita, uma vez que a antiga ministra da Segurança, Patricia Bullrich, derrotou com facilidade um candidato mais centrista, o presidente da Câmara de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta.

A coligação governamental, União pela Pátria, foi derrotada pelos eleitores devido à crise económica, terminando em terceiro lugar no total de votos. Como esperado, o ministro da Economia, Sergio Massa, tornou-se o candidato presidencial da coligação, derrotando facilmente o esquerdista Juan Grabois.

"Temos 60 dias para dar a volta a estas eleições", disse Massa aos apoiantes.
Consequências no mercado financeiro
Os mercados da Argentina acordaram, esta segunda-feira, enfraquecidos após a vitória do populista de extrema-direita.

Antes das eleições, os analistas já tinham avisado que um resultado melhor do que inicialmente esperado para Milei, de 52 anos, provavelmente perturbaria os mercados financeiros e levaria a uma queda acentuada no valor do peso argentino, muito pela incerteza sobre as políticas económicas que poderia adotar, caso se tornasse presidente.


O banco de investimentos JPMorgan projeta "uma pressão crescente sobre a taxa de câmbio, resultando em uma diferença cada vez maior entre a taxa de câmbio paralela e oficial".

A Argentina é o maior devedor do Fundo Monetário Internacional (FMI), com um programa de 44 mil milhões de dólares aprovado em março do ano passado para refinanciar um empréstimo de 2018.

c/agências
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