Populares em protestos desde quinta-feira em alguns bairros da província e cidade de Maputo, no sul de Moçambique, bloquearam vias e saquearam uma empresa de venda de material de construção, disseram esta sexta-feira à Lusa fontes locais.
No bairro de Benfica, subúrbios da cidade de Maputo, as manifestações começaram por volta das 08:00 (menos duas horas em Lisboa), onde um grupo de jovens bloqueou com recurso a algumas viaturas, a Estrada Nacional número 1 (EN1), exigindo a redução dos preços do cimento e dos produtos alimentares, explicou à Lusa uma fonte comerciante, próximo à estrada bloqueada.
A mesma fonte adiantou que a polícia efetuou disparos de gás lacrimogéneo para dispersar os protestos e desbloquear a mais importante rodovia do país.
Já em Mozal, bairro periférico da província de Maputo, no qual também se verificam os protestos, um residente local explicou à Lusa que a agitação começou na manhã da quinta-feira, quando populares obrigaram motoristas de autocarros a pararem na estrada, bloqueando algumas vias, queimando também pneus, a contestar o elevado custo de vida.
Os manifestantes fecharam ainda o terminal rodoviário, interditando a circulação de transportes semi-coletivos na região, tendo a polícia respondido com disparos.
"Os bloqueios interditaram o acesso a alguns bairros e ao município de Matola-Rio", avançou.
Já na manhã de hoje, o bairro da Mozal esteve calmo pela manhã, mas alguns troços continuavam bloqueados e, durante a tarde, foram registados novos focos de tensões entre a polícia, principalmente na Avenida da Namaacha, uma das principais do bairro.
"Os manifestantes foram a uma empresa de venda de material de construção onde carregaram algum material para a requalificação do posto de saúde do bairro Beleluana-Mozal", explicou à Lusa um transportador local.
A Lusa contactou, sem sucesso, a Polícia da República de Moçambique (PRM).
Moçambique vive, desde outubro, um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas, primeiro, pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, considerou na quinta-feira que as manifestações que o país tem registado fazem parte de uma "agenda de subversão", com objetivo "de desestabilizar" o país.
Desde 21 de outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas em confrontos entre a polícia e os manifestantes, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.