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População de Gaza debate-se com "insegurança alimentar grave"

por Inês Moreira Santos - RTP
Ibraheem Abu Mustafa- Reuters

Depois de o chefe da diplomacia europeia ter culpado Israel por deixar à fome os palestinianos e usar esta situação como "arma de guerra", um relatório das agências especializadas das Nações Unidas revelou que praticamente toda a população em Gaza vive numa situação de "insegurança alimentar grave". Segundo os dados revelados, mais de 1,1 milhões de habitantes naquele território enfrentam "uma situação de fome catastrófica", o que representa "o número mais elevado alguma vez registado".

A população de Gaza corre risco de ficar à fome “até ao final de maio de 2024 se não houver uma cessação imediata das hostilidades e um acesso sustentável ao fornecimento de bens e serviços essenciais à população”. As conclusões são do relatório da Iniciativa Integrada de Classificação da Fase de Segurança Alimentar, instituição conhecida pela sigla IPC, que indica que de acordo com o “cenário mais provável, tanto a província de Gaza Norte como a de Gaza” têm 70 por cento da população na numa situação de “fome catastrófica”.

“A continuação do conflito e a quase total falta de acesso das organizações humanitárias e camiões comerciais às províncias do norte irão provavelmente agravar as vulnerabilidades e a disponibilidade, acesso e utilização extremamente limitada de alimentos, bem como o acesso a cuidados de saúde, água e saneamento”
, revela ainda o relatório, divulgado na segunda-feira.

“O limiar da fome para a insegurança alimentar aguda das famílias já foi largamente excedido e, segundo os dados mais recentes que mostram uma tendência acentuadamente crescente nos casos de desnutrição aguda, é altamente provável que o limiar da fome para a desnutrição aguda também tenha sido excedido”, lê-se ainda.

Considerando este cenário, os especialistas das agências do IPC e da ONU receiam que “todos os limiares de fome sejam ultrapassados em breve”.

Embora haja regiões do território onde a situação é mais grave, “toda a população da Faixa de Gaza (2,23 milhões de pessoas) enfrenta elevados níveis de insegurança alimentar aguda”. E se o conflito não cessar entre meados de março e meados de julho, os especialistas apontam que o “cenário mais provável” seja ficar metade da população em “condições catastróficas” de fome, ou seja, no “nível mais grave na escala de Insegurança Alimentar Aguda do IPC”.

“Todas os dados apontam para uma grande aceleração da morte e da desnutrição
”, é advertido no documento, no qual se apela ainda a “ações necessárias para prevenir a fome” que “exigem uma decisão política imediata para um cessar-fogo, juntamente com um aumento significativo e imediato do acesso humanitário e comercial a toda a população de Gaza”.

“Todos os esforços devem ser feitos para garantir o fornecimento de alimentos, água, medicamentos e proteção dos civis, assim como para restaurar e fornecer serviços de saúde, água e saneamento, e energia (eletricidade, gasóleo e outros combustíveis) ”.
Deterioração da situação na Faixa de Gaza
Com base no relatório divulgado pelo IPC, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) deixou o alerta para o risco de uma rápida deterioração da crise de fome na Faixa de Gaza. Em comparação com a análise anterior do IPC, publicada em dezembro de 2023, a insegurança alimentar aguda na Faixa de Gaza aprofundou-se e alargou-se.

“Esta análise atualizada do IPC valida o que todos temíamos – um aprofundamento e uma rápida deterioração da situação de segurança alimentar em Gaza. Metade da população enfrenta níveis catastróficos de insegurança alimentar”, afirmou a vice-diretora-geral da FAO, Beth Bechdol, citada num comunicado.

“Isto atinge o nível mais alto já registado, diferente de tudo o que já vimos antes. (…) Se não forem tomadas medidas para cessar as hostilidades e proporcionar mais acesso humanitário, a fome será iminente. Isso já pode estar a acontecer. O acesso imediato é necessário para facilitar a prestação de assistência urgente e crítica em grande escala”.

Já o secretário-geral da ONU considerou que este “desastre é inteiramente causado pela ação humana” e é uma evidência chave da necessidade de um cessar-fogo imediato no enclave.

Numa conferência de imprensa, António Guterres fez um apelo às autoridades israelitas para a garantia de acesso total e irrestrito de produtos humanitários em Gaza e para que a comunidade internacional apoie totalmente os esforços humanitários.

Também Antony Blinken lamentou que "100 por cento da população de Gaza sofre de insegurança alimentar grave”.

“É a primeira vez que uma população inteira é classificada desta forma".

Para o responsável norte-americano, proteger os civis e prestar assistência humanitária em Gaza é uma "prioridade absoluta", descrevendo a situação como horrível.

"Continuamos a enfrentar uma situação humanitária horrível em Gaza", sublinhou, em conferência de imprensa, em Manila, onde Blinken se encontra após uma passagem pela Coreia do Sul.

"Proteger os civis e prestar assistência humanitária aos que dela necessitam desesperadamente é uma prioridade absoluta", acrescentou. "É imperativo que exista um plano para Gaza e temos vindo a repetir isto a Israel".
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