Poluição. 1% da população na origem de metade das emissões de carbono da aviação

por RTP
Christian Mang - Reuters

Um estudo revela que apenas 1 por cento da população mundial causou metade das emissões de carbono da aviação em 2018. Os investigadores consideram que a atual crise provocada pela pandemia deve servir como uma oportunidade para aprender a lidar com estes “superemissores”, na tentativa de tornar a indústria da aviação mais justa e sustentável.

Uma pequena elite mundial (1 por cento da população) é responsável por metade das emissões de carbono da aviação. Esta é a conclusão de um estudo publicado na Global Environmental Change, que reuniu dados em larga escala.

Os passageiros frequentes identificados no estudo viajaram cerca de 35.000 milhas (56.000 quilómetros) por ano, o equivalente a três voos de longa distância por ano, um voo de curta distância por mês ou alguma combinação de ambos.

“Se quisermos resolver as questões climáticas, precisamos de redesenhar [a aviação] e devemos começar pelo topo, onde alguns 'superemissores' contribuem massivamente para o aquecimento global”, sublinhou Stefan Gössling, da Universidade Linnaeus na Suécia, que lidera o novo estudo.

“Os mais ricos tiveram demasiada liberdade para projetar o planeta de acordo com seus desejos. Devemos ver esta crise como uma oportunidade para restringir o sistema de transporte aéreo”, acrescenta, em declarações ao jornal The Guardian.

Em 2018, apenas 11 por cento da população mundial viajou de avião, 4 por cento para fora do país. Os Estados Unidos são o país em que os passageiros têm a maior pegada de carbono entre os países mais ricos, representando um total de emissões de aviação maior do que Reino Unido, Japão, Alemanha e Austrália juntos, quase um quinto do total da pegada mundial da aviação.

Em média, os norte-americanos voaram 50 vezes mais quilómetros do que os africanos em 2018, dez vezes mais do que os da região da Ásia-Pacífico e 7,5 vezes mais do que os latino-americanos. Na Europa e Médio Oriente, os passageiros voaram 25 vezes mais longe do que os africanos e cinco vezes mais do que os asiáticos.

Os benefícios da aviação são compartilhados da forma mais desigual em todo o mundo, mais do que provavelmente qualquer outra grande fonte de emissão. (…) Há um risco claro em que o tratamento especial das companhias aéreas apenas proteja os interesses económicos dos ricos a nível global”, alerta Dan Rutherdord, do International Council on Clean Transportation, que não participou neste estudo.

A China ocupa o segundo lugar entre os países mais poluentes, mas não disponibilizou dados pormenorizados. O estudo revela ainda que, mesmo em países ricos, grandes fatias da população não voam todos os anos para fora do país: 53 por cento nos Estados Unidos, 65 por cento na Alemanha ou 48 por cento no Reino Unido, por exemplo.

De acordo com os investigadores, a contribuição da aviação global para a crise climática estava em crescimento constante nos anos que antecederam a atual crise com a Covid-19, sendo que as emissões do setor aumentaram 32 por cento entre 2013 e 2018.

Com a pandemia, o número de voos em 2020 caiu pela metade, mas a indústria espera conseguir voltar aos níveis do passado até 2024. O estudo refere, no entanto, que a atual crise provocada pela Covid-19 deve ser aproveitada como oportunidade para melhorar a situação, por exemplo, ao fazer depender os resgates e apoios concedidos às empresas do setor com “condições verdes”, ou seja, exigindo em troca soluções para colmatar os níveis de poluição provocados pela indústria.

Dan Rutherdord sugere, em específico, criar uma taxa que é aplicada a passageiros frequentes. “Alguém vai precisar de pagar para descarbonizar os voos - por que não pagarem esses passageiros frequentes?”, questiona Dan Rutherdord.

No entanto, Stefan Gössling, um dos autores do estudo, mostra-se menos entusiasmado com a ideia, ressalvando que os passageiros frequentes são geralmente muito ricos, o que significa que aumentar os preços dos bilhetes não vai afetar a frequência com que viajam.

Como solução, o investigador prefere incentivos às companhias aéreas para que aumentem a proporção de combustíveis sintéticos, que têm menores níveis de carbono. A ideia é que este aumento seja progressivo até 100 por cento, a alcançar em 2050. 
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