Polónia. Novo escândalo de pedofilia ensombra o centenário do papa João Paulo II

por RTP
Alessandro Bianchi - Reuters

No sábado foi divulgado um novo documentário sobre pedofilia na Igreja católica da Polónia, o que levou um arcebispo polaco a instar o Vaticano a investigar os casos em questão. O documentário veio lançar uma sombra sobre as celebrações do centenário do papa João Paulo II na Polónia.

Este fim-de-semana, a Polónia celebra o centenário do papa João Paulo II que nasceu em 18 de maio de 1920 em Wadowice, no sul da Polónia. Porém, as comemorações foram ensombradas por um novo escândalo de pedofilia na terra natal do antigo papa.

No sábado, foi publicado o documentário “Hide and Seek”, o segundo realizado pelos irmãos Marek e Tomasz Sekielski sobre abuso infantil na Igreja católica, que aborda a história de dois irmãos, agora adultos, alegadas vítimas de um bispo polaco que beneficiava da proteção tácita mas evidente de Edward Janiak, atualmente bispo titular de Kalisz, cidade no centro do país.

Depois de o documentário ter sido visto por cerca de 80 mil pessoas em direto no YouTube, o arcebispo polaco Wojciech Polak exigiu ao Vaticano que “iniciasse um processo” e investigasse os casos abordados no filme.

“O documentário ‘Hide and Seek’, que eu acabei de ver, demonstra que as normas de proteção para crianças e adolescentes em vigor na Igreja não foram respeitadas”, disse o arcebispo Polak num vídeo transmitido pela agência de notícias católica KAI.

“Na minha qualidade de delegado do episcopado para a proteção das crianças e dos adolescentes, solicito à Santa Sé, através da sua nunciatura, que abra um procedimento em virtude do motu proprio [uma carta apostólica] do papa Francisco sobre a omissão de uma reação legalmente obrigatória”, insistiu.

O filme, unicamente financiado por coleta pública, acusa o procurador de proteger sistematicamente os representantes da Igreja, designadamente ao transmitir dossiers de inquérito aos eclesiásticos interessados, durante o seu exame, de acusações desde logo rejeitadas pela procuradoria nacional.

Em comunicado, o procurador refere ter indiciado formalmente o padre Arkadiusz Hajdasz por abusos sexuais sobre menores, em setembro de 2019. Mas os procuradores não citam em qualquer parte do processo o nome do bispo Janiak. Em dezembro do ano passado, o papa Francisco declarou que a regra do "segredo pontifício" deixaria de se aplicar aos casos de abusos sexuais de menores por parte do clero, procurando assim alcançar o máximo de transparência nestes casos.

O documentário gerou uma onda de indignação na Polónia, terra natal de João Paulo II e um país onde 90 por cento da população se identifica como católica.

Em maio de 2019, o jornalista independente Sekielski tinha lançado um outro documentário semelhante, intitulado “Tell No One”, que foi visto 23,5 milhões de vezes no YouTube.

O documentário desencadeou uma discussão nacional sobre abuso sexual na Igreja católica e provocou um choque e reação ao mais alto nível da hierarquia eclesiástica e do poder, mas de seguida o tema quase desapareceu do espaço público.

Os dois filmes de Sekielski questionam a responsabilidade da hierarquia católica, mas sem abordarem a ausência de reação durante o pontificado do papa João Paulo II, de 1978 a 2005, que continua a ser venerado na Polónia.

No entanto, Tomasz Sekielski já anunciou um próximo documentário sobre “o papel de JPII na dissimulação dos crimes perpetrados por padres”.

Diversas manifestações, missas e concertos difundidos na Internet estão incluídos nas celebrações deste fim-de-semana em memória de João Paulo II.

c/agências
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