A Polónia aprovou hoje uma resolução que garante a participação "livre e segura" de representantes de Israel, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que quiserem comparecer às comemorações do 80.º aniversário da libertação de Auschwitz-Birkenau, dia 27.
Netanyahu e outros membros do seu gabinete de extrema-direita e das forças armadas são objeto de um mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), o principal tribunal de crimes de guerra do mundo, acusando-os de crimes contra a humanidade no conflito na Faixa de Gaza.
"O Governo polaco trata a participação segura dos líderes de Israel nas comemorações em 27 de janeiro de 2025, como parte do tributo à nação judaica, milhões de cujas filhas e filhos se tornaram vítimas do Holocausto realizado pelo Terceiro Reich", pode ler-se na resolução publicada pelo gabinete do primeiro-ministro Donald Tusk.
"[A Polónia] garantirá o acesso e a participação livres e seguros nestas comemorações aos mais altos representantes do Estado de Israel", acrescenta-se na resolução, assinada por Tusk.
A decisão foi tomada na sequência de um pedido do Presidente da Polónia, Andrzej Duda, a Tusk a solicitar ao Governo que garanta imunidade a Netanyahu, caso este compareça nas comemorações.
"[O Presidente] acredita que todas as pessoas de Israel, todos os representantes das autoridades do país, devem ter a oportunidade de participar neste evento único", disse Malgorzata Paprocka, chefe da chancelaria do Presidente polaco na rede social X.
Segundo Paprocka, Duda enviou uma carta a Tusk, para garantir que Netanyahu possa participar na celebração do 80.º aniversário da libertação de Auschwitz, "se assim o desejar".
A 21 de novembro de 2024, o TPI, com sede em Haia, emitiu mandados de captura contra Netanyahu por crimes contra a humanidade e crimes de guerra em Gaza, onde Israel está a conduzir uma operação militar em retaliação ao ataque perpetrado no seu território a 07 de outubro de 2023 pelo movimento islâmico palestiniano Hamas.
A decisão suscitou a fúria de Israel, que recorreu da decisão, embora não reconheça o tribunal.
Em dezembro, um vice-ministro dos Negócios Estrangeiros polaco afirmou que a Polónia era "signatária do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional e, como tal, é obrigada a cumprir as ordens emitidas pelo TPI".
As cerimónias que assinalam o 80.º aniversário da libertação do campo de extermínio nazi de Auschwitz-Birkenau pelo Exército Vermelho estão previstas para 27 deste mês, com a participação de delegações de vários países.
A direção do museu de Auschwitz-Birkenau já tinha dito à agência noticiosa France-Presse (AFP) que não iria enviar convites formais para as cerimónias e que cabia a cada país escolher os seus representantes.
Construído na Polónia ocupada, Auschwitz-Birkenau é o símbolo do genocídio perpetrado pela Alemanha nazi contra seis milhões de judeus europeus, um milhão dos quais morreu no campo entre 1940 e 1945, juntamente com mais de 100.000 não-judeus.
Cerca de 80.000 polacos não judeus, 25.000 ciganos e 20.000 soldados soviéticos foram também mortos pelos nazis alemães.