Polícia usa gás e tiros para dispersar manifestantes em Maputo

por Lusa

A polícia moçambicana recorreu, ao final da tarde, a disparos de gás lacrimogéneo e tiros para dispersar centenas de manifestantes que durante o dia cortaram a avenida Acordos de Lusaka, centro de Maputo, em protesto contra o processo eleitoral.

Cerca das 17:30 locais (menos duas horas em Lisboa), com aquela avenida central cortada por manifestantes desde as 08:00, um forte dispositivo policial, com elementos da Unidade de Intervenção Rápida e brigada canina, dispersou momentaneamente os manifestantes, que ocupavam a via com pneus em chamas, pedras e contentores.

Na altura da carga policial, os manifestantes encontravam-se sentados, ocupando parte do troço final daquela avenida, que dá acesso ao aeroporto internacional de Maputo e a hipermercados.

Seguiram-se vários minutos de tiros e disparos de gás lacrimogéneo na zona, com os manifestantes a fugirem para o interior dos bairros à volta.

A Plataforma Eleitoral Decide, Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, divulgou hoje que pelo menos 90 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais no país desde 21 de outubro, além de 294 pessoas baleadas e 3.496 detidas.

O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou para uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, de 04 a 11 de dezembro, em "todos os bairros" de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08:00 às 16:00 locais.

"Todos os bairros em atividade forte", disse Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, numa intervenção através da conta oficial na rede social Facebook.

Tal como aconteceu na fase anterior de contestação, de 27 a 29 de novembro, o candidato presidencial pediu que as viaturas parem de circular das 08:00 às 15:30, seguindo-se então 30 minutos para se entoar os hinos de Moçambique e de África nas ruas, o que se verificou nos últimos três dias em várias artérias centrais, nomeadamente, de Maputo.

"Vamo-nos manifestar de forma ininterrupta, sem descanso. Vão ser sete dias cheios (...). Todas as viaturas, tudo o que se move, fica parado", insistiu, pedindo aos automobilistas para colarem cartazes de contestação nas viaturas que circulem até às 08:00 e depois das 16:00.

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.

Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.

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