Polícia trava nova tentativa de manifestação da oposição guineense

por Lusa

A polícia guineense voltou hoje a travar uma tentativa de manifestação da oposição ao regime do país, com uso de gás lacrimogéneo, carga policial e detenções, entre um número reduzido de participantes.

As coligações PAI-Terra Ranka e API anunciaram para hoje uma passeata, com concentração marcada na entrada da aldeia SOS, numa zona de Bissau onde se concentram várias escolas de diferentes níveis de ensino.

A polícia posicionou-se em diversos pontos antes da hora marcada, às 08:00, e da chegada dos menos de 20 manifestantes, essencialmente da organização da iniciativa, como observou a Lusa no local.

O grupo que se juntou para a passeata começou por ser abordado de forma cordial por alguns policias, até à chegada da força de intervenção rápida que carregou com cassetes sobre os presentes e levou alguns elementos para uma carrinha.

Enquanto isso, outros agentes mandavam dispersar, incluindo os jornalistas, e foram conduzindo os presentes apeados e em viaturas.

Alguns metros após o início da dispersão, a polícia disparou granadas de gás lacrimogéneo, junto a uma das escolas que se localizam nesta zona da capital da Guiné-Bissau.

Em poucos minutos, polícia e manifestantes abandonaram o local, onde a população prosseguiu com o ritmo quotidiano, interrompido apenas momentaneamente pelos estrondos do gás lacrimogéneo e por um ou outro olhar discreto para o aparato policial.

As duas coligações decidiram marcar para hoje uma passeata depois de terem cancelado manifestações anunciadas para as comemorações do dia das Forças Armadas, na semana passada.

A Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka), liderada por Domingos Simões Pereira, que é também presidente do PAIGC, e a Aliança Patriótica Inclusiva (API), chefiada por Baciro Dja, têm reunido nos últimos dias para concertar posições.

A concertação visa demonstrar o desagrado da oposição com o que considera de "abuso do poder e falta de democracia" no país e ocorre depois do cancelamento das eleições legislativas.

O Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, decidiu adiar, alegando falta de condições, o ato eleitoral que tinha marcado para 24 de novembro, quase um ano depois de ter dissolvido o parlamento de maioria PAI-Terra Ranka, sem ter decorrido o prazo legalmente estipulado.

O chefe de Estado começou esta semana a ouvir os partidos para a remarcação das eleições que, para o líder da coligação PAI-Terra Ranka, não vão resolver o problema do país.

Na audiência com o Presidente, Simões Pereira, que foi deposto da presidência da Assembleia Nacional Popular (ANP), propôs que seja retomado o normal funcionamento do parlamento e formado um Governo de transição para resolver a crise política da Guiné-Bissau.

A oposição pede também a marcação de eleições presidenciais, tendo em conta que o mandato termina a 27 de fevereiro e o novo Presidente deve tomar posse nessa data.

O chefe de Estado quer presidenciais só em novembro de 2025 e defende que o seu mandato só termina em setembro, tendo em conta a data da decisão judicial de um diferendo sobre os resultados eleitorais na corrida em que, em 2019, Sissoco Embaló e Simões Pereira foram adversários.

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