A polícia sérvia utilizou hoje gás lacrimogéneo para dispersar centenas de manifestantes da oposição que tentavam entrar no edifício da Câmara municipal de Belgrado em protesto por alegadas irregularidades na votação durante as eleições gerais do passado domingo.
Apesar de os relatórios dos observadores internacionais terem detetado diversas irregularidades, o Governo negou a existência de fraude eleitoral. Hoje, o Presidente Aleksandar Vucic definiu estas alegações de "mentiras grosseiras" promovidas pela oposição.
As forças policiais protegeram-se no interior do edifício da Câmara municipal de onde dispararam gás lacrimogéneo em direção aos manifestantes, que partiram vidros nas janelas da fachada do edifício, indicou a agência noticiosa Associated Press (AP).
Os manifestantes gritaram "Abram a porta" e "Ladrões", enquanto também lançavam ovos em direção ao edifício, situado no centro de Belgrado. Alguns entoaram "Vucic é Putin", comparando o Presidente sérvio ao líder da Rússia, precisou a AP.
Não foram registados no imediato relatos de feridos ou detenções.
Na passada quinta-feira, o principal grupo de oposição na Sérvia exortou a União Europeia (UE) a colaborar na investigação internacional sobre alegadas irregularidades nas eleições legislativas e municipais do passado domingo.
As alegações de fraude eleitoral estão a agravar a tensão política no país balcânico, envolvido desde 2012 em negociações de adesão à UE.
A coligação da oposição Sérvia contra a violência (SPN) indicou numa carta enviada às instituições da UE, responsáveis oficiais e Estados-membros que não reconhece o resultado das eleições legislativas e locais de domingo passado e apelou à UE que adote a mesma posição e inicie uma investigação.
A Sérvia garantiu o estatuto de candidato à adesão já durante o mandato de Aleksandar Vucic, mas a oposição acusa o bloco comunitário de ignorar o autoritarismo do regime em troca da estabilidade na região dos Balcãs, ainda em convulsão na sequência das guerras na década de 1990.
"A União Europeia tem agora uma enorme possibilidade de restaurar a confiança da população da Sérvia", indicou na ocasião Dragan Djilas, um dos líderes da coligação SPN, em declarações à agência noticiosa AP.
Djilas disse que as irregularidades incluem manipulação dos `media`, assinaturas falsas nas listas eleitorais, "compra" de votos e votantes de outros países, incluindo cidadãos provenientes da vizinha Bósnia-Herzegovina. Os líderes da oposição asseguram que 40.000 pessoas foram conduzidas para a Sérvia no dia da votação.
Responsáveis oficiais da Comissão Europeia manifestaram no início da semana passada "preocupação" por um processo eleitoral que "requer uma substancial melhoria" e pediram uma análise aos "credíveis relatórios sobre irregularidades".
Na carta, a SPN apela à UE para "não reconhecer os resultados das eleições legislativas, municipais e em particular as locais na Sérvia, até estar concluída uma ampla investigação internacional sobre irregularidades eleitorais".
A missiva acrescenta que a UE deveria iniciar a investigação e contribuir posteriormente para a formação de um comité de verificação destinado a supervisionar as próximas eleições para assegurar uma votação livre e justa.
Na quarta-feira passada, a comissão eleitoral sérvia anunciou a realização de novos escrutínios em 30 assembleias de voto onde os resultados não puderam ser divulgados, três dias após as eleições contestadas pela oposição. Estas eleições serão sobretudo organizadas nas zonas rurais.
O anúncio surgiu após dois dias de manifestações que juntaram milhares de pessoas frente à comissão eleitoral em Belgrado para contestar o resultado das eleições, que deram a vitória ao partido presidencial (SNS, direita nacionalista de Vucic) com 46,7% dos votos.
A coligação SPN garantiu 23,5% dos votos e desde domingo que denuncia diversas fraudes.
Numa primeira reação, responsáveis do SNS consideraram as eleições livres e justas apesar das críticas da oposição e dos reparos dos observadores internacionais.
As alegações foram confirmadas por um relatório preliminar da missão internacional de observadores (OSCE, Parlamento Europeu e Conselho da Europa), que se referiu a "compra de votos" e "bloqueio de urnas" em algumas assembleias de voto.
Segundo a coligação da oposição, "mais de 40.000 pessoas" votaram na capital -- onde também decorreram eleições municipais -- sem serem residentes, e transportadas de autocarro desde a Republika Srpska (RS), a entidade sérvia da vizinha Bósnia-Herzegovina.
Os sérvios bósnios têm o direito de participar nas eleições nacionais, mas não podem votar em eleições locais.