Polícia antiterrorista investiga incêndio que encerrou o aeroporto de Heathrow
A polícia antiterrorista está a investigar o incêndio que provocou o encerramento do aeroporto londrino de Heathrow, o maior da Europa em termos de transporte de passageiros, e causou perturbações no tráfego aéreo a nível mundial.
No entanto, explicou que, "dada a localização da subestação e o impacto que este incidente teve em infraestruturas nacionais críticas, o Comando Antiterrorista da Met está agora a liderar as investigações".
"Isto deve-se aos recursos e competências especializadas desse comando, que podem ajudar a fazer avançar esta investigação a um ritmo que minimize as perturbações e identifique a causa", acrescentou.
Heathrow deveria efetuar 1.351 voos esta sexta-feira, transportando até 291 mil passageiros.
Segundo o porta-voz da polícia antiterrorista, “a causa do incendio continua a ser investigada”.
O comissário adjunto da corporação de bombeiros de Londres, Jonathan Smith, adiantou que o incêndio teve lugar num transformador com 25 mil litros de óleo de refrigeração. As chamas ficaram controladas ao início da manhã, com o transformador mergulhado em espuma branca de combate a incêndios.
"Isto criou um grande perigo devido ao equipamento de alta tensão e à natureza do incêndio alimentado por combustível", explicou.
O responsável referiu não haver indicações de poluição com consequências para a saúde do incêndio.
Os terminais 2 e 4 do aeroporto de Heathrow continuam sem eletricidade, tal como cerca de cinco mil casas nas imediações, mas outras 62 mil já tiveram o serviço restaurado.
Em entrevista à Sky News, o secretário da Energia, Ed Miliband, explicou que existia “um gerador de reserva, mas este também foi afetado pelo incêndio, o que ilustra o quão invulgar e sem precedentes (este incidente) é”.
“Isto torna Heathrow muito vulnerável, pelo que temos de aprender as lições” para o aeroporto e outras infraestruturas importantes em todo o país.
O diretor-geral da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), Willie Walsh, criticou as “deficiências” do aeroporto.
“Como é possível que uma infraestrutura estratégica (...) esteja totalmente dependente de uma única fonte de eletricidade, sem alternativa? Se for esse o caso, como parece ser, trata-se de uma clara falha de organização por parte do aeroporto”, afirmou o antigo diretor da British Airways na rede social X, acrescentando que o incidente “levanta sérias questões”.
Today’s closing of @HeathrowAirport will inconvenience a huge number of travelers.
— IATA (@IATA) March 21, 2025
We thank those affected for their patience as #airlines focus on getting them to their destination as quickly and efficiently as possible.
IATA DG's comments continue in 👇 thread. pic.twitter.com/QWdIwT2zwZ
Em resposta, o grupo que explora o aeroporto de Heathrow explicou que os sistemas de energia de reserva, funcionaram “como esperado” quando o incêndio na subestação começou.
“Temos várias fontes de energia para Heathrow. Mas quando uma fonte é interrompida, temos geradores a gasóleo de reserva e fontes de alimentação ininterruptas, e todos eles funcionaram como previsto”.
Sendo o aeroporto mais movimentado da Europa, Heathrow consome tanta energia como uma pequena cidade, pelo que não é possível dispor de uma reserva para toda a energia necessária para funcionar em segurança.
“Os nossos sistemas de reserva são sistemas de segurança que nos permitem aterrar os aviões e evacuar os passageiros em segurança, mas não foram concebidos para nos permitir funcionar em pleno”, acrescentou o grupo.
Segundo a Heathrow Airport Holdings, “estamos a implementar um processo que nos permitirá redirecionar a energia para as áreas afetadas, mas este é um processo crítico para a segurança que leva tempo, e manter a segurança continua a ser a nossa prioridade, pelo que tomámos a decisão de encerrar o aeroporto”.
Os peritos das companhias aéreas afirmaram que a última vez que os aeroportos europeus sofreram perturbações em tão grande escala foi em 2010, com a nuvem de cinzas da Islândia, que paralisou cerca de 100 mil voos.
Anita Mendiratta, especialista em turismo e aviação, afirmou à AFP que as infraestruturas do aeroporto, que foi inaugurado em 1946, “são antigas, quer se trate da subestação elétrica ou de Heathrow”, e “foram construídas antes do crescimento das zonas residenciais e industriais” nas proximidades.
Segundo o secretário da Energia, “e claro que teremos de analisar mais de perto as causas e a proteção e resiliência implementadas em grandes infraestruturas como Heathrow”.
Custos do encerramento
O custo do encerramento para o aeroporto e para as companhias aéreas “ultrapassará certamente os 50 milhões de libras (59 milhões de euros)”, afirmou à agência AFP o consultor de aviação Philip Butterworth-Hayes.
Os proprietários do aeroporto incluem a empresa francesa Ardian, a Autoridade de Investimento do Catar e o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, para além de outros investidores na Austrália, China e Espanha.
John Strickland, analista independente especializado no sector da aviação, estima que o encerramento do aeroporto, que movimenta mais de 200 mil passageiros por dia, “será da ordem dos milhões, mesmo que ainda não o possamos quantificar”.
“O impacto será, portanto, considerável (...) principalmente para as companhias aéreas, devido a todos os custos associados ao alojamento dos passageiros, reembolsos, novas reservas, etc.”, acrescentou em declarações à AFP.
Na sua opinião, é “pouco provável” que as companhias aéreas consigam recuperar as suas perdas.
A British Airways, a principal companhia aérea que opera no aeroporto de Londres, avisou que o encerramento teria um “impacto significativo” nas suas operações.
A British Airways, a maior transportadora aérea em Heathrow, tinha 341 voos programados para aterrar esta sexta-feira.
Kathleen Brooks, analista da XTB, frisa que o incêndio está também a ter um “impacto significativo” nas ações de companhias aéreas como a IAG (empresa-mãe da British Airways e da Iberia) em Londres e a Air France KLM em Paris.
A EasyJet e a Ryanair efetuaram voos adicionais ou utilizaram aviões maiores para ajudar a resolver o problema dos atrasos.
O aeroporto de Gatwick, a sul de Londres, aceitou voos desviados e muitos passageiros cujos voos foram cancelados em Heathrow também se dirigiram para lá para tentar apanhar outro voo.
Frankfurt recebeu seis voos na manhã de sexta-feira devido ao encerramento de Heathrow, segundo o aeroporto alemão.
Cinco voos foram também desviados para o aeroporto parisiense Charles de Gaulle, dois de Singapura, um de Perth (Austrália), um do Dubai e um de Kigali (Ruanda), informou o operador ADP.
Sete aviões da United Airlines também tiveram de voltar para trás ou ser desviados para outros destinos, segundo a companhia aérea americana, cujos voos de sexta-feira para Heathrow foram cancelados.
Construído em 1946, Heathrow é o maior dos cinco aeroportos que servem a capital britânica. Em janeiro, o Governo deu-lhe luz verde para construir uma terceira pista até 2035.
“Heathrow é um dos principais hubs do mundo”, afirmou à Reuters Ian Petchenik, porta-voz do site de rastreamento de voos FlightRadar24. “Isso vai perturbar as operações das companhias aéreas em todo o mundo”.
Os especialistas do sector alertaram para o facto de alguns passageiros forçados a aterrar na Europa poderem ter de permanecer em salas de trânsito se não tiverem a documentação necessária para sair do aeroporto.
Os horários dos voos globais também serão afetados, uma vez que os aviões e as tripulações ficarão fora de posição, obrigando as transportadoras a reconfigurar rapidamente as suas redes.
Os preços dos hotéis nos arredores de Heathrow dispararam, com os sites de reservas a oferecerem quartos por 500 libras, cerca de cinco vezes mais do que os valores normais.
No entanto, quando o aeroporto de Heathrow reabrir, a retoma do tráfego não será instantânea. Os passageiros dos voos cancelados terão de ser transportados e os aviões em causa terão de retomar o seu horário.
De facto, “os passageiros, a tripulação, a carga e os aviões” não estarão onde deveriam estar nos horários e “o atraso acumulado terá de ser resolvido”, acrescentou à AFP Anita Mendiratta.
Mendiratta estima que serão necessários “dois a quatro dias” para concluir a operação, que ela descreve como “extremamente complicada”.
Já o consultor de aviação Philip Butterworth-Hayes, considera que pode até levar “sete ou oito dias para colocar tudo de volta no lugar”.
Mas “não temos a certeza, porque não sabemos quando é que o aeroporto estará novamente operacional”, acrescentou à AFP.
Encerramentos devem-se normalmente a fenómenos meteorológicos
Os encerramentos de aeroportos não são raros em todo o mundo, mas devem-se principalmente a fenómenos meteorológicos (tempestades, furacões, etc.) ou na sequência de acidentes ou conflitos.
No início de outubro do ano passado, vários aeroportos internacionais da Florida - Tampa, Orlando e Palm Beach - deixaram de funcionar devido à passagem do furacão Milton.
Heathrow e os outros grandes aeroportos de Londres foram afetados por outras interrupções nos últimos anos, mais recentemente por uma falha no sistema automatizado e um colapso do sistema de tráfego aéreo, ambos em 2023.
Em abril de 2010, a erupção do vulcão Eyjafjallajökull na Islândia levou vários países europeus a encerrar o seu espaço aéreo, incluindo o Reino Unido, a Noruega e a Dinamarca.
Na sequência dos atentados de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos também encerraram o seu espaço aéreo ao tráfego civil durante dois dias.