Polícia angolana dispersa estudantes que protestavam contra subida de propinas

por Lusa

A polícia angolana dispersou hoje com tiros e lançamento de gás lacrimogéneo uma manifestação de estudantes que protestavam em Luanda contra a subida de propinas e emolumentos nas instituições de ensino, uma marcha que começou de forma pacífica.

O "elevado" preço das propinas e emolumentos nas instituições públicas e privadas e "falta de qualidade no ensino" foram alguns dos propósitos da manifestação promovida este sábado, em Luanda, pelo Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA).

Mais de 250 estudantes e membros da sociedade civil concentraram-se no Largo das Heroínas, local onde antes do início da marcha os estudantes expulsaram o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, que teve de sair escoltado ante a "fúria" dos jovens.

"Kalunga fora" era o grito de protesto contra a presença do líder do CNJ que não escapou, inclusive, a uma garrafa de água que foi lançada contra si pelas costas.

Sob olhar e proteção policial, a marcha teve início pontualmente, às 13:00 locais, e enquanto os manifestantes percorriam a avenida Ho Chi Min entoavam palavras de ordem como "a educação é um direito e não deve ser vendida" ou "não matem o sonho da juventude, estudar é um direito".

Com várias paragens ao longo do percurso, a marcha contornou o largo 1º de Maio, mas foi à entrada da rua Nicolau Gomes Spencer que os ânimos dos manifestantes se alteraram, uma vez que uns pretendiam marchar até à sede do Ministério das Finanças e outros até ao largo dos Ministérios, a 500 metros, onde seria lido um "manifesto".

O aumento da tensão levou a polícia a reforçar no local o seu efetivo, com agentes da polícia de intervenção rápida e da brigada canina, com os estudantes a romperem o primeiro cordão policial, mas não conseguindo transpor o segundo cordão.

A polícia ainda tentou apaziguar os ânimos de alguns manifestantes insatisfeitos pela alteração do percurso da marcha, mas acabou por dispersá-los com tiros e lançamento de gás lacrimogéneo, causando o pânico entre manifestantes e transeuntes.

Naquele momento o trânsito parou, alguns manifestantes não escaparam à carga policial e outros foram detidos.

O MEA promoveu a marcha também para "exigir a revogação" do Decreto Presidencial 124/20 de 04 de maio, que agrava a subida das propinas e emolumentos nas instituições de ensino.

"Viemos reivindicar para que o Governo revogue o novo decreto por ser um perigo para a sociedade angolana, porque a maior parte dos jovens se encontram desempregados", disse o estudante Luís Manuel, em declarações à Lusa.

A frequentar o 2.º ano do curso de Direito, numa instituição privada, o estudante considerou também que o referido decreto "viola a gratuidade do ensino".

"Exigimos também melhor qualidade de ensino e a implementação da merenda escolar, como prevê a Lei de Base do Ensino", acrescentou.

Para Dumilton Silvestre, estudante de Engenharia de Minas na Universidade Agostinho Neto (UAN), maior universidade pública angolana, o aludido decreto presidencial "agravou" o preço das provas de recurso de 1.500 kwanzas (2 euros) para 5.000 kwanzas (6,3 euros).

"Mas agora houve uma subida exponencial do recurso para 5.000 kwanzas. Atendendo a que a maior parte da população vive abaixo da linha da pobreza, fazer o ensino superior aqui em Angola é um tremendo sacrifício", lamentou.

"Então, vim aqui para me manifestar a fim de que o Governo pudesse velar por isso, porque nunca devemos admitir uma subida assim exponencial", atirou o estudante universitário.

Também Teresa Luther King "repudiou" o decreto que aprova o pagamento de propinas, taxas e emolumentos nas instituições públicas de ensino, afirmando que "o Estado deve parar de matar a vontade dos jovens pobres".

Segundo a estudante angolana, muitos jovens no país "estão a ver os seus sonhos frustrados" em consequência das disposições do decreto que "penaliza, sobretudo, as famílias de baixa renda".

"É preciso que se criem políticas que vão de acordo à nossa realidade social, também merecemos sonhar", defendeu Teresa Luther King antes do início da marcha, que posteriormente foi dispersada pela polícia.

DYAS // MAD

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