A semana que agora arranca tem marcada na agenda de Volodymyr Zelensky uma viagem a Washington com uma dupla função: antes de tudo apresentar à Casa Branca o recentemente anunciado plano de vitória para a guerra com os russos; mas, não menos importante para o presidente ucraniano, encontrar-se com o novo presidente americano que sairá das eleições de 5 de novembro próximo, o que implica reunir-se com os dois candidatos em disputa, a atual vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump.
Se o primeiro ponto é uma questão de agenda, importante apenas no sentido de manter o assunto da guerra na agenda da diplomacia internacional, o segundo será mais vital para os destinos ucranianos, já que os Estados Unidos estão a trabalhar um novo pacote de ajuda a Kiev: 375 milhões de dólares (cerca de 338 milhões de euros) em auxílio militar.
Mais dos que o dinheiro em causa, ou do material militar a receber de Washington, a visita de Zelensky reveste-se de importância vital para Kiev, no sentido em que mantém o fluxo de apoio dos norte-americanos numa altura em que essa ajuda arrisca cair para a nulidade a cumprirem-se duas condições: a eleição de Trump e a promessa do ex-presidente de, acolhendo a opinião de uma parte considerável da ala republicana, colocar fim à ajuda aos ucranianos, o que poderia representar por sisó o fim da capacidade de resistência de Kiev.Em relação ao atual presidente, Joe Biden, a função de Zelensky enfrenta igualmente um desafio nesta deslocação. O líder ucraniano deverá investir novamente na libertação das amarras que impedem Kiev de usar os mísseis de longo alcance cedidos pelo Ocidente para atacar a Rússia além-fronteiras, no seu próprio território.
Biden tem-se revelado renitente em autorizar a utilização do armamento cedido a Kiev para atingir alvos no território russo e ainda este domingo foi peremptório na sua negativa em relação a essa luz verde que Zelensky procura há semanas. Apenas Londres já manifestou essa possibilidade de forma aberta, mas um discurso dissuasivo do presidente russo, Vladimir Putin, parece estar a amarrar as mãos de Joe Biden. Putin avisou que uma decisão de fornecer armamento a Kiev que viesse a ser usado contra território russo constituiria, na perspetiva de Moscovo, um ataque direto do Ocidente e da NATO à Rússia, o que abriria cenários de guerra talvez nunca vistos numa era que que temos no terreno potências nucleares.
Se o presente é fulcral para os ucranianos numa altura em que investiram o que tinham na ofensiva em Kursk e procuram conter qualquer possibilidade de recuo nesse capítulo que terá constituído um dos maiores êxitos de Kiev na guerra que leva dois anos e meio, a preparação do futuro não é menos vital e a figura central desses cenários pode vir a ser Donald Trump, que disputa à atual vice-presidente americana a chave da Casa Branca a partir de 2025.Trump, no seu estilo habitual, já veio garantir que uma vez presidente dos Estados Unidos termina a guerra da Ucrânia em 24 horas.
É no entanto conhecida a sua inclinação para a figura de Vladimir Putin, a quem durante a sua Presidência apoiou contra a tese dos serviços de informações americanos de que o Kremlin estava por detrás da manipulação das eleições de 2016. Putin garantiu que não e Trump disse não ter razões para duvidar dele.
A leitura do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, parece ser muito clarificadora neste aspeto: Trump vai dar voz aos republicanos que estão fartos de contribuir financeiramente para o apoio a Kiev e, portanto, vai deixar de financiar a guerra, terminando esta naturalmente por falta de recursos dos ucranianos.
Trump disse que “não poria um centavo na guerra entre a Ucrânia e a Rússia. É por isso que a guerra vai acabar”, explicava Orbán, ele próprio um aliado de Putin, após um encontro com o ex-presidente e agora novamente candidato.
Plano Zelensky
Quanto a Volodymyr Zelensky, o cansaço parece já sobrevir e o seu plano assentará na ideia que “este outono determinará o futuro da guerra”. A asserção foi deixada no vídeo realizado esta noite durante a viagem de avião rumo aos Estados Unidos.
This fall will determine the future of this war. Together with our partners, we can strengthen our positions as needed for our victory—a shared victory for a truly just peace.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) September 22, 2024
Right now, the legacy of the current generation of world leaders is being shaped—those in the highest… pic.twitter.com/ji2dZ6cAgR
O presidente ucraniano apontou como fundamental para a vitória de Kiev a cedência de armas para os militares nas frentes de batalha e os esforços diplomáticos para forçar a Rússia à paz.