Piratas da Somália atacam segundo cargueiro norte-americano

por RTP
Em 2008, a pirataria no Índico fez um rombo de 80 milhões de dólares nos cofres das empresas de transporte marítimo Paul Farley (NVNS), EPA

Os piratas que operam ao largo da Somália atacaram um cargueiro dos Estados Unidos que transportava ajuda humanitária para o Quénia. O "Liberty Sun" foi atingido durante horas por granadas de morteiro e disparos de espingardas automáticas, até ser socorrido pelo mesmo contratorpedeiro que resgatou o capitão do navio norte-americano "Alabama".

No espaço de uma semana, os piratas somalis já ensaiaram dois assaltos a cargueiros norte-americanos. Mas os ataques estendem-se a todos os tipos de pavilhões. Em menos de três meses, os bandos de piratas do Corno de África atacaram pelo menos 78 navios. Dezanove foram apresados. Dezasseis permanecem sob sequestro dos assaltantes, que mantêm cativos mais de 300 reféns de uma dúzia de nacionalidades.

No domingo, o contratorpedeiro da Armada norte-americana "USS Bainbridge" pôs termo ao cativeiro de cinco dias do capitão Richard Phillips, capturado por piratas depois de uma abordagem a um cargueiro dos Estados Unidos. Atiradores especiais da força de elite Seal abateram três dos quatro piratas que mantinham cativo o capitão norte-americano do "Alabama". Um quarto homem acabou por se render. Philips oferecera-se como refém para garantir a segurança da sua tripulação.

O Presidente dos Estados Unidos, que autorizou a operação de resgate, prometeu reforçar os meios de combate à pirataria ao largo da Somália. Nas 48 horas que se seguiram às declarações de Barack Obama, mais cinco navios foram alvo das manobras dos piratas, entre os quais o cargueiro "Liberty Sun".

"Estamos a ser atacados por piratas"

Durante a tentativa de assalto ao "Liberty Sun", Thomas Urbik, um dos 20 tripulantes do navio, encontrou tempo para enviar um e-mail à mãe. "Estamos a ser atacados por piratas, estamos a ser atingidos por rockets. E também balas. Estamos barricados na casa das máquinas e até agora ninguém ficou ferido", escreveu o tripulante de 26 anos numa mensagem de correio electrónico obtida pela Associated Press.

O capitão do cargueiro apressou-se a pedir ajuda à Armada norte-americana. Quando o "USS Bainbridge" chegou, cerca de seis horas após o início do ataque, os piratas já haviam abandonado o local. O contratorpedeiro limitou-se a escoltar o "Liberty Sun" até ao Quénia.

A Liberty Maritime, empresa proprietária do cargueiro com sede em Lake Success, Nova Iorque, emitiu um comunicado a saudar "toda a tripulação pelo seu profissionalismo e postura debaixo de fogo".

Piratas desafiam Estados Unidos

Até ao momento, as patrulhas navais internacionais têm-se mostrado incapazes de controlar o recrudescimento da pirataria no Corno de África. A vastidão do teatro de operações e a agilidade dos bandos têm dificultado a acção dos vasos de guerra. O comando da força naval da NATO destacada para a Somália tem sido assegurado pela fragata da Armada portuguesa "Corte Real". Os navios da Standing NATO Maritime Group One vão deixar a região no início da próxima semana para participar em exercícios no Paquistão e em Singapura. O regresso à costa africana do Índico está previsto para Junho.

Os piratas alegam ser parte activa num combate à pesca ilegal e às descargas de resíduos tóxicos em águas da Somália. Contudo, as suas manobras excedem largamente os limites territoriais e as fronteiras da protecção dos recursos somalis. Cada um dos navios apresados pode render até um milhão de dólares aos bandos de assaltantes. Dados do Governo queniano avaliam em 150 milhões de dólares o montante extorquido em acções de pirataria no ano passado.

Em declarações à Associated Press, Omar Dahir Idle, um pirata da cidade costeira de Harardhere, garantiu que os bandos vão intensificar os ataques no Golfo de Aden para demonstrar que não se deixam intimidar pelas palavras de Obama: "Os nossos últimos sequestros têm por objectivo mostrar que ninguém pode impedir-nos de proteger as nossas águas do inimigo, porque acreditamos em morrer pela nossa terra".

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