Pianista András Schiff cancela concertos nos EUA devido a "bullying" de Trump
O pianista britânico de origem húngara András Schiff cancelou as atuações nos Estados Unidos marcadas para 2025 e 2026, por causa do "bullying` inacreditável" de Donald Trump, como disse ao jornal New York Times.
András Schiff, reconhecido pela crítica como um dos "grandes intérpretes" da atualidade, enumerou ao jornal nova-iorquino, na quarta-feira, as decisões do presidente dos Estados Unidos que o alarmaram e sustentam a decisão: a atitude em relação à Ucrânia, os desejos expansionistas para a Gronelândia, o Canadá e a Faixa de Gaza, a deportação de imigrantes e o apoio à extrema-direita na Alemanha.
Para o premiado intérprete de Bach, Mozart, Schubert e Schumann, toda a ação de Donald Trump consiste num "bullying inacreditável", acrescentando ser "impossível concordar com o que está a acontecer".
Nascido em 1953, numa família judia de Budapeste que viveu o Holocausto, Schiff disse que os apelos de Trump à deportação em massa o fazem lembrar-se "de forma dolorosa" da perseguição de judeus na Alemanha nazi e nos países ocupados durante a Segunda Guerra Mundial.
Schiff decidiu assim cancelar os concertos que tinha agendado para a primavera de 2026, nos Estados Unidos, com as orquestras filarmónicas de Nova Iorque e de Filadélfia, assim como uma digressão de recitais, marcada para o próximo outono, que passaria por várias salas de concerto norte-americanas, incluindo o grande auditório do Carnegie Hall, em Nova Iorque.
Os Estados Unidos juntam-se assim à Rússia e à Hungria natal de Schiff, países onde se recusa a tocar, por causa dos governos autoritários.
Em outubro, András Schiff, que atua regularmente em Portugal, abriu o Ciclo de Piano da atual temporada de música da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, poucos meses depois de ter aceitado a "carta branca" do Festival de Sintra.
O New York Times recorda que Schiff não é o primeiro músico a boicotar os Estados Unidos por causa de Donald Trump.
O violinista alemão Christian Tetzlaff, um dos mais destacados intérpretes de Mozart e Bach, anunciou em fevereiro que também deixaria de tocar nos Estados Unidos, num protesto contra a aproximação da administração Trump à Rússia do Presidente Vladimir Putin.