Os representantes da diplomacia russa e chinesa destacaram na Assembleia Geral das Nações Unidas a importância do diálogo com a Coreia do Norte para a resolução da crise nuclear.
Esta marcação de posição por parte dos dois países historicamente próximos do regime de Pyongyang vai ao encontro das declarações de Moon Jae-in, o presidente da Coreia do Sul, que frisou a necessidade de manter a paz na península coreana.
China e Rússia impediram recentemente a imposição de sanções ainda mais asfixiantes, num quadro de negociações do Conselho de Segurança, mas têm ainda assim compactuado com as pressões contínuas para a desnuclearização da Coreia do Norte, incluindo com o último pacote de sanções implementadas após o lançamento nuclear de 3 de setembro.
O dossier Coreia do Norte continuou a dominar os discursos na Assembleia Geral das Nações Unidas, no mesmo dia em que a administração norte-americana anunciou uma nova imposição de sanções económicas a Pyongyang, que visa sobretudo as empresas e instituições financeiras que mantenham negócios com o regime.
No início da semana, Donald Trump tinha prometido “destruir completamente” a Coreia do Norte, caso não cessasse com as provocações.
Wang Yi, ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, afastou-se das opções militares e sublinhou em Nova Iorque que “a negociação é a única solução” para a crise nuclear.
O aliado histórico do regime eremita declarou em Nova Iorque “continua a haver esperança de paz” e que todos os intervenientes devem desempenhar “um papel construtivo para reduzir a tensão”, procurando entender-se por via de negociações.
Mas mesmo Pequim deixa transparecer sinais de impaciência, após os repetidos ensaios de mísseis balísticos e nucleares: “Exortamos a Coreia do Norte a não ir mais longe nesse caminho perigoso”, declarou o responsável chinês, apelando à "desnuclearização total e irreversível" da península coreana.
“Histeria militar”
Sergei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, condenou também os recentes lançamentos da Coreia do Norte, sublinhando que “não há alternativa para a diplomacia na resolução da tensão”.
No seu discurso perante a Assembleia Geral da ONU, o MNE russo disse que “a histeria militar não é um impasse, é um desastre”.
O ministro focou outros temas que marcaram os últimos dias e agradeceu ao Presidente dos EUA por ter destacado, no seu discurso, a importância de respeitar a soberania nas relações
internacionais.
Lavrov diz que essa é uma posição que contrasta com a sua habitual prática norte-americana de “impor os seus valores a outros povos”.
"Agrada-me ver que o Presidente Trump declarou unilateralmente a importância de defender o princípio da soberania nos assuntos internacionais e que países com valores diferentes (...) podem trabalhar juntos", afirmou.
No entanto, Lavrov criticou a prática “errada” de aplicar “sanções unilaterais”, dando como exemplo o embargo dos EUA a Cuba, que, lembrou, se opõe à esmagadora maioria dos Estados-membros da ONU.
“Restos da Guerra Fria”
O ministro acusou ainda o Ocidente de não estar a trabalhar para acabar com os restos da Guerra Fria, dando como exemplo o conflito na Ucrânia. "A NATO está a tentar restaurar o clima da Guerra Fria", afirmou Lavrov.
O ministro criticou também as “tentativas de derrubar regimes” no Médio Oriente e na África do Norte e disse que a origem dessas políticas está nos problemas atuais de terrorismo, refugiados e ondas de migrantes.
Serguei Lavrov valorizou ainda a força dos mecanismos de integração que deixam de lado os EUA, como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).
Considerou que este tipo de grupos informais permitem um "equilíbrio" com organizações como o Grupo dos 20 (G20) ou o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Lavrov apelou ao restabelecimento da “cultura de diálogo” a nível global, afirmando que a Rússia dialogará com aqueles que favoreçam "uma cooperação de respeito mútuo".
c/ Lusa