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Pentágono quer responder a ciberataques com armas nucleares

por Graça Andrade Ramos - RTP
A ser aprovado o documento tal como foi apresentado, irá ser permitido o uso de armas nucleares como resposta a uma série de ataques considerados devastadores para as infraestruturas dos EUA e aliados, mesmo se não-nucleares Larry Downing - Reuters

A proposta inclui-se numa nova estratégia norte-americana para o nuclear, enviada pelo Pentágono à Casa Branca. De acordo com o New York Times, o documento, intitulado Revisão da Postura Nuclear, retoma várias ideias da Administração Obama e está a ser revisto pela Administração Trump.

A proposta final deverá ser publicada dentro das próximas semanas e pode abrir uma série de novas possibilidades ao uso de armas nucleares, por levantar diversas restrições impostas até agora.

A ser aprovado o documento tal como foi apresentado, irá ser permitido o uso de armas nucleares como resposta a uma série de ataques considerados devastadores para as infraestruturas dos EUA e aliados, mesmo se não-nucleares.

Incluindo aquilo que anteriores e atuais responsáveis da Administração descrevem como os ciber-ataques mais incapacitantes.
Eletricidade e comunicação vulneráveis
O documento foi publicado na semana passada pelo jornal Huffington Post mas só agora começa a ser escrutinado. É o primeiro a alargar o uso de armamento nuclear em caso de tentativas de destruição de uma grande variedade de infraestruturas.O documento antevê um futuro sombrio para os Estados Unidos, ao citar os progressos nucleares russos e chineses mas também os da Coreia do Norte e, potencialmente, os do Irão.

Nas últimas décadas, os presidentes norte-americanos ameaçaram usar armas nucleares contra os seus inimigos, mesmo em circunstâncias muito estritas e limitadas, como em resposta por exemplo à utilização de armas biológicas contra os Estados Unidos.

Agora, os ciberataques são a nova ameaça, sobretudo tratando-se de redes de distribuição de eletricidade ou de comunicações ou até do comando de arsenais.

“Temos de olhar a realidade de frente e ver o mundo como ele é, não como desejaríamos que fosse”, refere a proposta. A iniciativa “realinha a nossa política nuclear com uma análise realística das ameaças que enfrentamos atualmente e as incertezas quanto ao futuro do ambiente de segurança”.

A Casa Branca recusou comentar as notícias e o Pentágono espera pela aprovação da proposta para se pronunciar.
Preocupação desde Obama
O New York Times cita contudo três antigos altos responsáveis governamentais, para quem a ameaça de ataques cibernéticos contra os Estados Unidos e os seus interesses tem de passar a inscrever-se entre o tipo de agressão externa que pode implicar uma resposta nuclear. Sublinham apesar disso que há diversas outras respostas mais convencionais a usar em retaliação.

Gary Samore, que foi conselheiro nuclear para o Presidente Barack Obama, afirma mesmo que muito do documento estratégico “repete os elementos essenciais da política declarada por Obama, palavra por palavra”, incluindo a declaração de que os EUA só “irão considerar o uso de armas nucleares em circunstâncias extremas para defender os interesses vitais dos Estados Unidos ou dos seus aliados e associados”.

A maior diferença no documento reside naquilo que constitui “circunstâncias extremas”.

Neste esboço sob a Administração Trump estas podem “incluir significativos ataques estratégicos não nucleares”. Ou seja, “ataques contra a população ou infraestruturas civis, nos EUA, seus aliados ou associados” e “ataques contras forças norte-americanas ou aliadas, o seu comando ou controlo ou capacidades de alerta ou de avaliação”.
Dominar arsenais via ciberataque
Falta definir que tipo de ataque cibernético seria considerado incapacitante. Os especialistas admitem que, atualmente, esse tipo de ataque é o mais eficiente para paralisar sistemas como redes de eletricidade ou de comunicações, como telemóveis ou a internet, que pode ser lançado de forma quase instantânea e paralisar um país sem usar armas.

Um ataque cibernético é igualmente uma enorme ameaça para os sistemas de controlo de arsenais nucleares, que poderiam, mais do que serem desativados, responder a dados falsos ou comandos à distância para serem lançados.

Esta última possibilidade tem sido cada vez mais debatida pelos especialistas deste tipo de armamento.

Parece certo que tais ataques estão já ao virar da esquina e são incluídos em todos os estudos de estratégias militares do mundo, incluindo os próprios Estados Unidos, contra inimigos – reais ou imaginários – em caso de conflito real.
Armas autónomas
No esboço de estratégia inclui-se o desenvolvimento de uma nova geração de armas nucleares de menor dimensão – que já se iniciou sob a Administração Obama. Os especialistas avisam que estas armas, por serem menores, podem esbater a distinção entre armas nucleares e não nucleares.

Também a eventualidade de armas autónomas – como um torpedo nuclear que estará a ser desenvolvido pela Rússia à revelia de acordos de não-proliferação de armas nucleares – abre a possibilidade de a inteligência artificial ser capaz de cumprir um ataque mesmo que o sistema de comunicações falhe ou seja cortado.

A existência deste protótipo terá sido revelada sob a Administração Obama mas nunca foi debatida até agora abertamente fora de círculos militares.

O documento descreve esta ameaça de Moscovo como tão perturbante que pode justificar a reversão da política de Obama de redução do papel e da extensão do arsenal nuclear norte-americano.
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