Pelo menos 18 mortos em manifestações na Beira desde segunda-feira

por Lusa

Pelo menos 18 pessoas morreram na Beira e 81 foram baleadas desde segunda-feira nas manifestações de contestação aos resultados das eleições gerais moçambicanas, segundo o balanço feito hoje pelo hospital local, no centro do país.

"A situação é muito preocupante. Temos doentes nos corredores do hospital e estamos a ficar sem capacidade. No total são 18 pessoas que morreram vítimas de balas e outras 81 contraíram ferimentos e que estão em tratamento", disse Ana Tambo, diretora clínica do Hospital Central da Beira, na província de Sofala.

A responsável acrescentou, no balanço preliminar dos feridos que deram entrada em resultados das manifestações, que dos 18 óbitos, oito ocorrem já no hospital e os restantes já chegaram sem vida.

Referiu ainda que dos 81 feridos recebidos no HCB, alguns contraíram traumatismo craniano em resultado de baleamento, outros apresentam fraturas nos membros superiores e inferiores e outros têm balas alojadas no corpo.

"Temos uma anciã de 76 anos de idade que tem uma bala alojada no seu tórax e contraiu ferimentos nos membros inferiores. Segundo o seu histórico médico, ela foi baleada na sua residência na Munhava", disse ainda Ana Tambo.

A polícia moçambicana registou 236 "atos de violência grave" em 24 horas, na contestação aos resultados eleitorais, incluindo ataques a esquadras e cadeias, que provocaram 21 mortos, anunciou na terça-feira à noite o ministro do Interior, garantindo o reforço imediato da segurança.

"Ninguém pode chamar, nem considerar, estes atos criminosos de manifestações pacíficas", afirmou esta noite o ministro Pascoal Ronda, em conferência de imprensa em Maputo, num momento de caos generalizado no país, com barricadas, saques, vandalizações e ataques diversos, um dia depois do anúncio dos resultados finais das eleições gerais de 09 de outubro.

O governante revelou que entre essas 236 ocorrências nas últimas 24 horas "em todo o território", incluem-se 25 viaturas incendiadas, duas das quais da Polícia da República de Moçambique (PRM), 11 subunidades policiais e um estabelecimento penitenciário "atacados e vandalizados, de onde foram retirados 86 reclusos", quatro portagens incendiadas, três unidades sanitárias vandalizadas, um armazém central de medicamentos incendiado e vandalizado e dez sedes do partido Frelimo incendiadas.

"Tiveram como consequências 21 óbitos, dos quais dois membros da PRM, 25 feridos, sendo 13 civis e 12 membros da PRM", acrescentou Pascoal Ronda, dando conta que 78 pessoas foram detidas e que a polícia está a investigar os autores morais e materiais destes crimes, que representam um momento "difícil" e "nefasto".

"Diante da gravidade dos eventos registados, o Governo de Moçambique determinou o reforço imediato de medidas de segurança em todo o território nacional e as Forças de Defesa e Segurança [FDS] vão intensificar a presença em pontos estratégicos e críticos", avançou ainda Pascoal Ronda.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

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