Paz frágil nos Balcãs. Sérvios em "prontidão de combate" na fronteira com Kosovo

por Carla Quirino - RTP
Patrulhas na cidade de Mitrovica Florion Goga - Reuters

O ministro da Defesa da Sérvia, Milos Vucevic, anunciou na noite de segunda-feira a ordem para a colocação de forças militares "em total estado de prontidão para combate" na fronteira com o Kosovo. A União Europeia e a NATO apelam ao atenuar das tensões entre os dois países.

"O presidente da Sérvia ordenou que o exército estivesse no mais alto nível de prontidão de combate, ou seja, no nível de uso da força armada", anunciou em comunicado Milos Vucevic, ministro da Defesa da Sérvia.

O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, também deixou clara a intenção do reforço das Forças Armadas dos atuais 1.500 para cinco mil efetivos.

Por sua vez, o ministro do Interior da Sérvia, Bratislav Gasic, vincou que, ao abrigo da “ordem da total prontidão de combate”, a polícia e de outras unidades de segurança devem ser colocadas sob o comando do chefe do Estado-Maior do Exército, de acordo com o “seu plano operacional”.

Num outro comunicado, Bratislav Gasic avança que a ordem do presidente Vucic pretende que “todas as medidas sejam tomadas para proteger o povo sérvio em Kosovo”.
Paz frágil
A maioria da população no Kosovo é de etnia albanesa, mas no norte vivem mais de 50 mil sérvios. Depois da guerra nos anos de 1990, o Kosovo separou-se da Sérvia. Belgrado não reconheceu a declaração de independência de Pristina, em 2008. Desde então, a força militar conhecida por KFOR, constituída por 3.760 soldados e liderada pela NATO, tem patrulhado o frágil equilíbrio entre as duas nações.

Nas últimas semanas, as relações no norte do Kosovo estiveram ainda mais voláteis. A população sérvia da região indignou-se com a detenção de um ex-polícia sérvio, que está acusado de agredir agentes em serviço durante uma manifestação.

Seguiu-se um grande protesto em dezembro, com os sérvios locais a montarem barricadas e a cortarem estradas para exigir a libertação desse oficial.

O Governo do Kosovo pediu à KFOR ajuda para remover as barricadas, mas as tensões agravaram-se depois de terem sido disparados tiros contra as patrulhas da NATO, na noite de domingo.

Ninguém ficou ferido e o carro onde seguiam permaneceu ileso durante o tiroteio na área de Zubin Potok, informou a missão KFOR, acrescentando estar a investigar o incidente.

“É importante que todos os envolvidos evitem qualquer retórica ou ação que possa causar tensões e agravar a situação”, disse a KFOR em um comunicado, citado pela estação televisiva Al Jazeera. "Esperamos que todos os atores se abstenham de demonstrações provocativas de força e procurem a melhor solução para garantir a segurança de todas as comunidades”.


Os sérvios locais carregam uma bandeira sérvia gigante junto a um dos bloqueios de estrada em Rudare, perto da parte norte da cidade etnicamente dividida de Mitrovica. Protestam contra o Governo do Kosovo e a prisão de um polícia sérvio |  Fatos Bytyci - Reuters
Achas para a fogueira
Na comunicação social, circulam alegações de que Pristina está a preparar "um ataque" às áreas étnicas sérvias no norte de Kosovo. O Governo de Pristina não fez comentários sobre as alegações, mas já acusou Vucic de usar "jogos" para criar problemas.

A União Europeia tem tentado mediar. O bloco dos 27 pede "máxima contenção e ação imediata" e que os líderes da Sérvia e Kosovo "contribuam pessoalmente para uma solução política".

O primeiro-ministro kosovar, Albin Kurti, o comandante da KFOR, major-general Angelo Michele Ristuccia, e Lars-Gunnar Wigermark, que chefia uma missão de lei e ordem da UE, reuniram-se na segunda-feira para discutir a situação, adiantou a KFOR no Twitter.

Depois do encontro, o gabinete de Kurti afirmou que “a conclusão desta reunião é que a liberdade de movimento deve ser restaurada e que não devem existir barricadas em nenhuma estrada”.

Por sua vez, a Sérvia pediu à KFOR que mobilizasse até mil dos seus militares no norte do Kosovo,  para proteger os sérvios da região do suposto assédio de albaneses étnicos, a maioria no país.

O pedido não foi atendido, desencadeando as ordens de Vucic para o posicionamento de cinco mil militares sobre a linha de fronteira, numa demonstração de força. A primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, comentou na semana passada, em declarações citadas pela France 24, que a situação com Kosovo estava "à beira de um conflito armado".


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