Paxlovid. Doentes tratados com antiviral da Pfizer voltam a ter covid-19 com sintomas graves
Nos últimos meses, muitos doentes com sintomas graves da covid-19 têm sido tratados, nos Estados Unidos, com o antiviral Paxlovid. Embora os estudos sobre este medicamento sejam recentes, considerando que o mundo enfrenta a doença há pouco mais de dois anos, os resultados têm mostrado que a maioria dos pacientes em tratamento consegue curar-se sem necessitar de hospitalização. Contudo, os especialistas estão intrigados com o crescente número de casos de doentes tratados com este antiviral que, pouco depois da recuperação, voltam a testar positivo ao SARS-CoV-2 apresentando sintomas da doença.
No último dia de toma do medicamento, Crumley praticamente não tinha sintomas e nos três dias seguintes realizou testes diários, sempre negativo.
Crumley estava vacinado e tinha recebido dose de reforço antes de ficar infetado com SARS-CoV-2, por isso, quando voltou a sentir-se mal, dias depois de ter recuperado da covid-19, achou que seriam apenas efeitos secundários da resposta imunitária do seu organismo. Mas, à medida que os sintomas se foram agravando, a desconfiança levou o biólogo a fazer novo teste à covid-19. Para seu espanto, testava novamente positivo.
Covid-19 pela segunda vez em pouco tempo
Mild symptoms ➡️ Rx Paxlovid ➡️ improved, w/ negative antigen➡️ symptoms recur ➡️ antigen positive again.
— Paul Sax (@PaulSaxMD) April 18, 2022
Why? Some ideas, not mutually exclusive:
- 5-day duration of therapy too short for some
- Treatment blunts immune response
- Antiviral resistance
- Reinfection
Thoughts? https://t.co/0Doc6XRrm9
Para a comunidade científica, este é mais um enigma do novo coronavírus e uma prova de que há ainda muito para se perceber sobre o SARS-CoV-2.
"Fiquei um poucou chocado", disse Henry à NBC News relativamente ao segundo teste positivo. "Não há orientação sobre o que fazer. Devo isolar-me? O que faço para manter a minha família segura?”.
“Ainda há muito por saber sobre a covid-19 e a melhor forma de a tratar”, disse ao jornal Clifford Lane, vice-diretor de investigação clínica e projetos especiais do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.
“Estes casos obrigam-nos a reexaminar duração das terapias, abordagens de tratamento e outros testes de laboratório que podemos usar para prever quem pode beneficiar de tratamentos mais prolongados", continuou.
Michael E. Charness, chefe de equipe do VA Boston Healthcare System, publicou um estudo de caso detalhado de um paciente de 71 anos que teve uma recaída. Quando reapareceram os sintomas, uma semana depois de ter recuperado da covid-19, os investigadores sequenciaram o código genético do vírus e descobriram que era o mesmo vírus que tinha voltado, o que os levou a descartar o surgimento de uma variante ou de um vírus a tornar-se mais resistente.
Estas conclusões levantaram novas dúvidas: o tratamento devia ser prolongado ou aplicado apenas em casos específicos.
“Se há um ressurgimento da carga viral, e isso acontece no dia 10, quando o CDC diz que pode voltar ao trabalho, sem máscara, o que se deve fazer quanto ao isolamento? Está de novo contagioso?”, questionou Michael E. Charness. “À pessoa que estávamos a estudar aconselhámos o isolamento até que a carga viral desaparecesse pela segunda vez”.
Além disso, muitas pessoas que não fizeram qualquer tratamento antiviral estão a ter recaídas, o que sugere que não será apenas o Paxlovid a facilitar estas reinfeções.
Segundo os especialistas, tal pode significar que algumas pessoas permanecem infectadas mais tempo do que se pensava.
“Não vimos nenhuma resistência ao Paxlovid e continuamos muito confiantes na sua eficácia clínica”, escreveu o porta-voz da Pfizer, Kit Longley.