A chefe da diplomacia da União Europeia defendeu esta quinta-feira que milhares de milhões de ativos russos congelados por Bruxelas sejam usados para ajudar a Ucrânia na guerra iniciada por Moscovo. Para Kaja Kallas, o apoio europeu a Kiev "não é caridade", mas sim um investimento na segurança da própria UE.
Em entrevista a cinco jornais europeus, Kaja Kallas defendeu o direito legítimo da Ucrânia a exigir compensações pela invasão.
Bruxelas já começou a utilizar os lucros dos ativos russos congelados para a Ucrânia, mas tem hesitado em confiscar todo o montante - 210 mil milhões de euros - devido a dúvidas sobre a legalidade dessa ação.
A União Europeia detém mais de dois terços dos 300 mil milhões de dólares de ativos soberanos da Rússia congelados pelos aliados ocidentais após a invasão em grande escala da Ucrânia.
A responsável considera que o uso dos fundos russos ajudará a pagar “todos os danos que a Rússia causou na Ucrânia”.
Kallas, recentemente eleita alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, previu na entrevista desta quinta-feira que, apesar de o tema ser “sensível”, o bloco comunitário “chegará a essa decisão eventualmente”.
As declarações surgem entre crescentes preocupações sobre como financiar Kiev a médio prazo e ajudar a reconstruir o território. Preocupações que aumentaram após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, já que o republicano tem sido crítico do apoio norte-americano a Kiev e poderá terminá-lo definitivamente quando tomar posse.
“Se [os Estados Unidos] reduzirem a ajuda, então teremos de continuar a apoiar a Ucrânia, porque preocupa-me o que acontecerá se a Rússia ganhar. Acho que teremos mais e maiores guerras”, teme Kallas.
“Não é caridade”, mas sim “investimento”
A chefe da diplomacia da UE esclareceu que o apoio financeiro a Kiev “não é caridade” e que vai ao encontro dos interesses da Europa e dos Estados Unidos. “Apoiar a Ucrânia é um investimento na nossa própria segurança”, vincou.
Para reforçar este ponto de vista, referiu o envolvimento da Coreia do Norte na guerra, com Pyongyang a enviar soldados para a Rússia, mencionando ainda os exercícios militares chineses no Mar da China Meridional. “A China também está a aprender com o que a Rússia faz”, alertou.
Logo no primeiro dia no cargo, Kaja Kallas deslocou-se a Kiev para se encontrar com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que afirmou que o seu país apenas precisaria de "soluções diplomáticas" quando a Rússia não conseguisse lançar novos ataques.
Questionada na entrevista sobre chamadas telefónicas entre Vladimir Putin e o chanceler alemão, Olaf Scholz, a responsável respondeu que na próxima segunda-feira, durante uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, será discutido se tais conversações diplomáticas trazem “algum valor”.
Os ministros irão avaliar “porque é que alguns membros estão a fazer isto, o que pretendem alcançar com isto e se existe algum valor acrescentado”, explicou, frisando que “Putin quer realmente humilhar a Europa” e “é isso que temos de ter sempre em mente”.
c/ agências
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