O novo primeiro-ministro de França recebeu esta quinta-feira simbolicamente a pasta de chefe do governo francês em Matignon, a sede do executivo, e foi aplaudido pelo seu antecessor, Gabriel Attal, que ocupou o cargo por apenas oito meses, os últimos dos quais de forma interina.
Num breve discurso, Michel Barnier começou por agradecer os serviços de Attal, para logo depois fixar as suas prioridades, como o acesso aos serviços públicos, a segurança e o controlo da imigração, três temas que o partido de extrema-direita Rassemblement National, de Marine Le Pen, quer ver respondidos no próximo Orçamento do Estado, cuja proposta terá de ser apresentada pelo novo governo aos deputados antes de 1 de outubro.
O apoio do RN poderá revelar-se crucial para Barnier sobreviver aos primeiros dias da sua nomeação e à moção de censura que a coligação mais votada nas últimas eleições, a Nova Frente Popular, de esquerda, já anunciou.
"O que se espera de um primeiro-ministro", começou por questionar Barnier, ex-comissário europeu e ex-ministro de direita. "Digo-o com humildade, penso que se espera que ele diga a verdade. Mesmo se essa verdade for difícil". "A verdade primeiro sobre a dívida financeira e sobre a dívida ecológica, que pesa grandemente hoje sobre os ombros dos nossos filhos", continuou. O novo líder do executivo francês prometeu "continuidade" com o programa do anterior Governo, mas também "ruturas", remetendo para a Assembleia Nacional o aprofundamento das suas ideias para o país.
"Terei oportunidade dentro de alguns dias, e de poucas semanas, diante do Parlamento, de apresentar as grandes prioridades legislativas e as propostas, em nome do novo governo", afirmou. "Iremos tratar de responder, tanto quanto pudermos, aos desafios, aos sofrimentos, às raivas", acrescentou.
"Vocês falaram delas, dos sofrimentos, do sentimento de abandono, de injustiça, que se sente demasiado nas nossas cidades, nos bairros e nas aldeias", apontou, dirigindo-se aos franceses. "Penso, senhoras e senhores, no acesso aos serviços públicos. E a escola irá permanecer a prioridade do Governo", prometeu, evocando logo depois "a segurança no dia-a-dia, o controlo da imigração, no trabalho e e no nível de vida dos franceses".
"Irão existir também nesta nova página mudanças e ruturas", frisou contudo Michel Barnier, conhecido pelas suas capacidades de negociação. "Terá de existir, enfim, muita escuta, muito respeito. Antes de mais, o respeito entre o governo e o Parlamento, respeito para com todas as forças políticas e friso todas as forças políticas que estão representadas", acrescentou, prometendo começar a trabalhar nisso "já hoje à noite".
Após 60 dias de impasse, na sequência das eleições legislativas de julho, que deram origem a uma Assembleia Nacional muito fragmentada, o primeiro-ministro mais velho da V República - o sistema político em vigor em França desde 1958 -, de 73 anos, sucedeu a Gabriel Attal, de 35 anos, o mais novo.
O novo primeiro-ministro prometeu depois "respeito para com os parceiros sociais, parceiros económicos" e representantes locais, que saudou.
Michel Barnier conclui deixando mais promessas aos seus concidadãos. "Farei tudo para estar à altura das suas espectativas e das suas esperanças".
Com uma sólida experiência tanto em França como em Bruxelas, Michel Barnier tem reputação de ser um bom mediador: foi o negociador da União Europeia (UE) durante o processo de saída do Reino Unido do bloco comunitário (`Brexit`).
Antes disso, tinha sido várias vezes ministro desde 1993, nomeadamente durante as presidências de Jacques Chirac e de Nicolas Sarkozy.
Depois de intermináveis semanas de consultas, Macron "encarregou-o de formar um Governo de unidade" nacional, afirmando ter-se assegurado de que "o primeiro-ministro e o Governo vindouro reunirão as condições para serem o mais estáveis possível e terem a oportunidade de reunir o maior número possível de apoios", declarou a presidência.
Antes disso, tinha sido várias vezes ministro desde 1993, nomeadamente durante as presidências de Jacques Chirac e de Nicolas Sarkozy.
Depois de intermináveis semanas de consultas, Macron "encarregou-o de formar um Governo de unidade" nacional, afirmando ter-se assegurado de que "o primeiro-ministro e o Governo vindouro reunirão as condições para serem o mais estáveis possível e terem a oportunidade de reunir o maior número possível de apoios", declarou a presidência.
Críticas imediatas à esquerda
A esquerda, que contestou ao longo do dia a nomeação de Barnier e que acusou o presidente Emmanuel Macron de "roubar a eleição" aos franceses, não perdeu tempo a ciriticar o breve discurso do novo-primeiro-ministro, especificamente a expressão "pessoas de baixo", usada por Barnier ao mencionar a necessidade de "encontrar por todo o
lado as soluções eficazes" e de escutar nesse sentido "as pessoas mais
modestas ou mais simples". "Tenho presentes múltiplos exemplos de progressos, pequenos ou grandes, alcançados graças às ideias, boas ideias, boas soluções trazidas por gente de baixo, que é necessário respeitar", referiu o novo primeiro-ministro.
Jean-Luc Mélenchon, líder d´A França Insubmissa, LFI, de extrema-esquerda, escreveu na rede X que está "tudo dito sobre a 'humildade' refeita pelo usurpador de Matignon", considerando a expressão "gente de baixo" um menosprezo.
A mesma leitura veio do deputado ecologista Benjamin Lucas, igualmente no X, escrevendo que "na República não há pessoas de baixo, senhor primeiro-ministro. Ho o povo acima de tudo. Debaixo de tudo. Sob o senhor. Irá constatá-lo".
O senador comunista Ian Brossat, criticou igualmente a expressão. "As 'pessoas de baixo' não existem. Os desdenhosos, sim. Barnier é um deles, manifestamente", escreveu no X.
Em comunicado, a Nova Frente Popular anunciou que irá "pedir a censura do governo de Barnier".
Os quatro líderes partidários das formações de esquerda que constituem o bloco (LFI, PS, Ecologistas e PCF), assim como a sua candidata ao cargo de primeiro-ministro, Lucie Castets, denunciaram a "nomeação de um primeiro-ministro tributário do apoio do Rassemblement National, oriundo de um partido que obteve 5,41 por cento nas eleições e que não se comprometeu contra a extrema-direita entre as duas voltas" eleitorais, "varrendo a mensagem dos eleitores, quando a coligação de esquerda conseguiu a maioria dos lugares da Assembleia.
"Continuaremos a trabalhar sem descanso para propor às francesas e aos franceses uma política de resposta às emergências social, climática e democrática", acrescentou o texto.
com Lusa