Passagem de supostos terroristas deixa comunidade em pânico em Cabo Delgado
A passagem de alegados terroristas deixou a comunidade de Impiri, na província moçambicana de Cabo Delgado, em pânico, relataram hoje à Lusa fontes locais.
Segundo as fontes, os supostos rebeldes atravessaram a estrada Nacional 1, em direção ao norte, por volta das 22:00 de terça-feira (21:00 de Lisboa), o que motivou a fuga dos populares daquela localidade do distrito de Metuge, no limite com o distrito vizinho de Ancuabe, a cerca de 60 quilómetros de Pemba, capital provincial.
"Passámos toda a noite nas matas porque os terroristas passaram aqui na aldeia", disse uma fonte local, já a partir de Metuge.
Não há relatos de vítimas mortais, mas a situação levou à fuga da população para Metuge e Pemba, receando novos ataques.
"A situação estava caótica, o meu irmão fugiu", disse outra fonte.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques terroristas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito da Mocímboa da Praia.
A comunidade de Impiri tem servido nos últimos dias como corredor de passagem para estes grupos terroristas.
Quase 40 mil pessoas fugiram de seis distritos de Cabo Delgado, e ainda da província vizinha de Nampula, devido ao recrudescimento dos ataques terroristas no norte de Moçambique, segundo dados deste mês da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com o mais recente relatório do terreno daquela agência das Nações Unidas, entre 22 de setembro e 06 de outubro, a escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados" levou a "novos deslocamentos" - num total de 39.643, equivalente a 12.335 famílias - essencialmente nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia, Montepuez e Chiúre, Cabo Delgado, mas também em Memba, província de Nampula.
A OIM contabilizou neste período um total de 26.405 deslocados de Mocímboa da Praia, devido à situação de insegurança nos bairros 30 de Junho e Filipe Nyusi, situados nos arredores de vila sede, palcos de pelo menos dois ataques de grupos insurgentes, com vários mortos, durante o mês de setembro.
Do distrito de Balama, a OIM contabilizou 5.585 deslocados, das localidades de Mavala e Mpake, que fugiram Ntete e Mieze, enquanto do distrito de Montepuez 3.980 pessoas foram deslocados, devido aos ataques e insegurança, de Mararange, Mirate e Nacololo.
No distrito de Chíure - que já em finais de julho registou cerca de 57 mil deslocados devido aos vários ataques de grupos armados de então -- há mais 1.164 deslocados nos últimos dias, que fugiram de Mazeze e Murocue. Em menor escala, a OIM contabiliza 144 deslocados do distrito de Nangade, 121 de Macomia e 66 de Muidumbe.
Além destes distritos de Cabo Delgado, o relatório da OIM refere que os "recentes ataques" em Memba, Nampula, junto à província vizinha, "também forçaram 2.178 indivíduos a fugirem das aldeias de Chipene e Necoro", neste caso para o distrito de Erati.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques terroristas em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual, com o recrudescimento da violência.
"A situação é bastante instável. Em setembro, o Estado Islâmico de Moçambique (ISM) estava ativo em 11 distritos de Cabo Delgado e também cruzou para Nampula no final do mês", disse à Lusa Peter Bofin, investigador da ACLED.
Segundo o investigador sénior da organização, que reúne e analisa dados sobre conflitos violentos e protestos em todo o mundo, desde outubro de 2017 foram registados em Cabo Delgado pelo menos "2.209 eventos de violência", com "6.257 mortes relatadas", sendo pelo menos 2.631 civis.