O partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical) apresentou hoje uma proposta de destituição do Presidente francês, Emmanuel Macron, pela recusa em nomear como primeira-ministra Lucie Castets, candidata da coligação Nova Frente Popular (NFP, esquerda).
"Apresentámos a proposta de resolução para destituir o Presidente da República", anunciou na rede social X o grupo parlamentar da LFI, maior força no seio da NFP, revelando que a proposta conta com "81 assinaturas [de deputados] de três grupos parlamentares, mais de 212.000 assinaturas populares da petição online".
O texto da LFI refere que a recusa de Macron em nomear a socialista Lucie Castets para o cargo de chefe de governo "constitui uma grave violação do dever de respeitar a vontade expressa pelo sufrágio universal", tendo em conta que a NFP foi o partido mais votado nas eleições legislativas de 07 de julho, mas sem obter maioria absoluta.
De acordo com a agência de notícias AFP, além de 72 deputados da LFI, existem cinco signatários ecologistas e três eleitos do departamento francês da Ilha da Reunião, membros do grupo de Esquerda Democrática e Republicana (GDR).
Segundo a Constituição francesa, nomeadamente no artigo 68, uma moção de destituição pode ser apresentada se for assinada por um décimo dos deputados, ou seja, 58 representantes eleitos.
Contudo, para o secretário nacional do Partido Comunista Francês (membro da NFP), Fabien Roussel, a proposta de destituição do Presidente apresentada pelo LFI "não tem hipóteses de ir até ao fim", já que terá de ser aprovada por dois terços dos deputados e senadores, o que parece pouco provável.
"Sabemos que isto não vai resolver os problemas (...) mais uma vez, vamos frustrar as esperanças da população", que vai ver a proposta "fracassar", afirmou no canal BFMTV.
Em agosto, Lucie Castets tinha rejeitado um processo de destituição do chefe de Estado francês, apelando a uma coabitação, depois dos líderes os líderes da coligação - Jean-Luc Mélenchon, Mathilde Panot e Manuel Bompard - terem assinado um artigo avisando Macron que "serão utilizados todos os meios constitucionais para o destituir", contra "os seus truques sujos contra a regra mais básica da democracia".
"Em França, o único senhor é o voto popular", escreveram no jornal A Tribuna de Domingo (La Tribune du Dimanche, em francês).
A França, que está há mais de 50 dias com um governo demissionário, não tem uma data prevista para o anúncio da escolha do Presidente francês, que procura alguém que não seja imediatamente derrubado pela Assembleia Nacional, devido às ameaças de moção de censura dos partidos de esquerda e de extrema-direita.
Na próxima sexta-feira, completam-se duas semanas desde que Macron iniciou as consultas com os grupos parlamentares e os principais partidos políticos, em que apenas excluiu um governo "unicamente" da NFP, alegando a necessidade de "estabilidade institucional" do país.
Até ao momento, já foram apontados vários nomes para chefe de governo, como o ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve e o presidente conservador da região dos Altos da França, Xavier Bertrand, bem como o presidente da Câmara de Cannes, David Lisnard, e o antigo ministro e ex-comissário europeu Michel Barnier, ambos conservadores.
No dia 07 de setembro, quando se completam dois meses desde a segunda volta das eleições legislativas convocadas por Macron, a LFI e organizações de estudantes apelam à participação nas manifestações, espalhadas pelo território francês e nas capitais europeias, contra o "golpe de forças" de Macron.