Partido Comunista francês diz que esquerda "vai lutar por revisão dos tratados europeus"

por Lusa
Benoit Tessier - Reuters

O porta-voz do Partido Comunista francês, Ian Brossat, afirmou à Lusa que, em caso de vitória da NUPES na segunda volta das legislativas, a coligação de esquerda "vai lutar pela revisão dos tratados europeus".

Em declarações à agência Lusa à margem de uma ação de campanha em Fontenay-sous-Bois, na periferia leste de Paris, Ian Brossat reconheceu que existem "em parte divergências" entre as forças políticas que constituem a Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), designadamente no que se refere à União Europeia (UE) e à NATO.

No entanto, o porta-voz comunista defendeu que, na temática europeia, a esquerda "concorda que é preciso mudar o curso da UE e que não se pode continuar com uma Europa tão liberal e tão dedicada à defesa do mercado".

"Por isso, amanhã, se houver um governo da NUPES dirigido por Jean-Luc Mélenchon, iremos lutar, por exemplo, pela revisão dos tratados europeus", sublinhou o porta-voz.

No que se refere à saída da França do Comando Integrado da NATO - uma medida defendida pelo Partido Comunista francês e pela França Insubmissa, a que o Partido Socialista se opõe -, Ian Brossat sustentou que a Aliança Atlântica não iria criar entraves a um Governo de esquerda.

"A NATO não é um tema do parlamento, é um tema que depende unicamente do Presidente da República. Por isso, não seria um tema para o Governo", sublinhou.

Questionado sobre o que é que levou o Partido Comunista a querer juntar-se à NUPES apesar das divergências históricas com partidos como o socialista, Brossat sublinhou que o "povo de esquerda estava à espera da união".

"O povo de esquerda teve o sentimento, nestes últimos anos, de ter sofrido muitas derrotas, muitas humilhações e, agora, temos uma esperança que começa a surgir, uma vitória que está à distância dos votos e, portanto, seria impensável que o Partido Comunista não contribuísse para isso", referiu.

O porta-voz relembrou ainda que, tanto em 1981, como em 1997 - quando, em França, existiram Governos que surgiram de uniões de esquerda -, o Partido Comunista também tinha participado, "inclusive com ministros" nessas uniões, e quis, desta vez, "retomar esse passado".

Brossat sustentou que as "esquerdas não são irreconciliáveis", dando o exemplo da Espanha onde "as esquerdas, dentro da sua diversidade, governam em conjunto, com uma vice-primeira ministra comunista - que tutela o trabalho - e que é a número dois do Governo".

"É algo que existe noutros países, não somos os primeiros a experimentar. Mas, se pudermos contribuir para amplificar essa dinâmica, seria uma alegria para nós", referiu.

Para o comunista, a NUPES "já deu frutos", tanto devido ao "bom resultado" registado na primeira volta das legislativas, como ao facto de o "debate" da campanha se "ter centrado à volta da esquerda".

"No fundo, há agora duas forças políticas que são capazes de formar potencialmente um Governo: ou Macron, ou nós. E a escolha que os eleitores vão ter de fazer na segunda volta é: ou nós, ou eles", referiu.

Depois da vitória de Emmannuel Macron na segunda volta das eleições presidenciais em abril, sobre a candidata de extrema-direita Marine Le Pen, as legislativas vão definir a composição do próximo parlamento.

A segunda voltas das eleições legislativas está marcada para 19 de junho.

Brossat sustentou que é "completamente possível" a esquerda obter uma maioria absoluta????, referindo que não acha que, "em França, uma maioria das pessoas seja favorável à reforma aos 65 anos, como propõe Macron".

"Acho que há uma maioria de franceses que estão cansados, que querem mudança, e que vão utilizar o boletim de voto da NUPES para o fazer", referiu.

Quanto ao futuro da NUPES, Brossat sublinhou que se trata "claramente de um acordo eleitoral, mas de um acordo eleitoral que terá seguimento".

"Claro que não se trata de constituir um partido único, mas de continuarmos a levar a cabo batalhas comuns", sublinhou.

No programa da NUPES, acordado em maio, lê-se que é necessário "renegociar os tratados e as regras europeias atuais", uma vez que muitas dessas regras "estão desfasadas dos imperativos da emergência ecológica e social", elencando casos como a Política Agrícola Comum (PAC), o Semestre Europeu ou os acordos de livre comércio.

No que se refere à NATO, o programa estipula que se trata de um tema que "será submetido à Assembleia Nacional", notando, no entanto, as divergências sobre o assunto entre as diferentes forças políticas que compõem a NUPES.

Tópicos
pub