O ministro da Justiça paquistanês acusou hoje apoiantes do ex-primeiro-ministro Imran Khan de explorarem a resposta débil das autoridades aos graves tumultos recentes e prometeu "uma reação mais dura" a protestos políticos futuros.
Numa entrevista à agência noticiosa Associated Press (AP), na sequência de uma visita a Washington, Azam Nazeer Tarar enalteceu a resposta do governo paquistanês aos protestos inflamados registados em maio passado depois da detenção de Imran Khan.
O governo do atual primeiro-ministro Shahbaz Sharif e o exército, prosseguiu, estão agora a defender as suas ações nos tribunais, com julgamentos civis e militares para pelo menos 102 manifestantes.
"A reação do Estado foi como uma reação maternal para com os cidadãos. É por isso que o Governo decidiu agora lidar com `mão de ferro` e fazer disto um exemplo, para garantir que não ocorrem incidentes semelhantes no futuro", disse Tarar à AP.
Na entrevista, Tarar defendeu os agentes da lei e os militares das críticas de que não fizeram o suficiente na altura para acabar com a violência, uma vez que qualquer resposta militar para restaurar a lei e a ordem teria exigido autorização prévia do governo civil.
Tarar admitiu que a liderança militar e civil foi apanhada de surpresa pelos ataques a instalações militares e outros locais, razão pela qual os líderes optaram por se abster de ferir civis, disse o ministro.
"Mas agora a reação é mais dura. Eu diria que aprendemos uma lição. Se exercermos autoridade e força suficientes, podemos acabar com este tipo de incidentes", frisou.
Tarar disse ainda que as autoridades judiciais não serão dissuadidas de julgar Khan, se os investigadores determinarem que o ex-primeiro-ministro desempenhou um papel criminoso nos ataques, apesar das preocupações de que tal possa desencadear uma nova onda de violência.
Khan e os respetivos seguidores têm trabalhado para o regresso ao poder político, alegando que os norte-americanos estão por trás do voto de desconfiança de 2022 que lhe custou o cargo de primeiro-ministro.
As manifestações eclodiram entre os apoiantes do partido Pakistan Tehreek-e-Insaf, de Khan, depois de as autoridades terem detido o ex-chefe do Governo num caso de corrupção, para ser julgado num tribunal de Islamabade.
Após a detenção de Khan, milhares de manifestantes atacaram o quartel-general militar na cidade-guarnição de Rawalpindi, invadiram uma base aérea em Mianwali, na província oriental de Punjab, e incendiaram um edifício onde se encontrava a estação estatal Radio Pakistan, no noroeste do país.
A violência só diminuiu depois de Khan ter sido libertado por ordem do Supremo Tribunal do Paquistão.
Desde então, pelo menos 10 pessoas morreram em confrontos entre apoiantes de Khan e a polícia, que prendeu mais de 5.000 pessoas relacionadas com os tumultos.
A maioria foi libertada sob fiança enquanto aguarda julgamento.
O exército paquistanês declarou na segunda-feira que demitiu três oficiais superiores do exército por não terem conseguido impedir os ataques.
Além dos processos em tribunal civil, as forças armadas paquistanesas afirmam ter recebido casos de 102 civis para serem julgados em tribunais militares pelo seu envolvimento e garantiu que os acusados terão direito a um julgamento justo.
A organização de defesa e promoção dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI) opôs-se aos planos dos militares paquistaneses, afirmando que o julgamento de civis em tribunais militares constitui uma violação do direito internacional.
A Amnistia afirmou ter documentado numerosas violações dos direitos humanos em anteriores julgamentos de civis por tribunais militares paquistaneses, incluindo a falta de um processo justo e de transparência, confissões coercivas e execuções após processos "grosseiramente injustos".